Dólar sobe a R$ 5,43 com eleições de 2026 no radar, mas acumula queda de quase 2% na semana

O dólar interrompeu a sequência de perdas ante o real, em dia de baixa liquidez e correção dos ganhos recentes. A corrida eleitoral de 2026, a expectativa de negociações comerciais entre o Brasil e os Estados Unidos e a política tarifária do presidente norte-americano, Donald Trump, continuaram a movimentar o câmbio.
Nesta sexta-feira (8), o dólar à vista (USDBRL) encerrou as negociações a R$ 5,4361, com alta de 0,25%.
O movimento destoou da tendência vista no exterior. Ante moedas fortes, o dólar seguiu em desvalorização. Por volta de 17h (horário de Brasília), o DXY, indicador que compara o dólar a uma cesta de seis divisas globais, como euro e libra, caía 0,14%, aos 98,260 pontos.
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Na semana, o dólar acumulou queda de 1,97% ante o real.
O que mexeu com o dólar hoje?
Sem a agenda de indicadores econômicos relevantes, o mercado de câmbio acompanhou os desdobramentos da política tarifária do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Em publicação na rede Truth, Trump afirmou as tarífas ‘recíprocas’ estão tendo um “enorme impacto positivo” no mercado de ações e que centenas de trilhões de dólares “estão entrando nos cofres” do país.
Ele disse que uma decisão de bloqueio à política tarifária seria tardia e poderia causar uma grave crise econômica. “Se um Tribunal da Esquerda Radical decidisse contra nós neste momento tardio, numa tentativa de derrubar ou perturbar a maior quantidade de dinheiro, criação de riqueza e influência que os EUA já viram, seria impossível recuperar ou pagar essas enormes somas de dinheiro e honra.”
“Seria 1929 novamente, uma GRANDE DEPRESSÃO”, acrescentou.
Os investidores também reagiram a possível tarifa sobre as barras de ouro de um quilo. Em uma “carta de decisão” datada de 31 de julho, a Agência de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA afirma que barras de ouro de um quilo e de 100 onças-troy devem ser classificadas sob um código alfandegário sujeito a tarifas. O documento foi acessado pelo Financial Times.
O movimento foi lido como mais um “golpe” à Suíça, que é um dos principais locais de refino do metal precioso. Em resposta, a Associação Suíça de Metais Preciosos (ASFCMP, na sigla em inglês) afirmou que, com as tarifas, “torna-se economicamente inviável exportar esses produtos aos EUA”.
Nesta semana, os representantes comerciais suíços deixaram os EUA sem acordo tarifário com o governo Trump. O país está sujeito à taxa de 39% sobre as importações no território norte-americano.
Ademais, o mercado ainda manteve as apostas de início de ciclo de cortes nos juros norte-americanos pelo Federal Reserve (Fed) em setembro. Perto do fechamento, a probabilidade de uma redução de 0,25 ponto percentual era de 89,4% na próxima decisão de política monetária, de acordo com a ferramenta de monitoramento FedWatch, do CME Group. As taxas de juros dos EUA estão na faixa de 4,25% a 4,50% ao ano.
Cenário eleitoral no Brasil
Por aqui, o real ganhou força com o cenário político na corrida presidencial de 2026. Segundo fontes à Bloomberg, o ex-presidente Jair Bolsonaro está cada vez menos propenso a apoiar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), como candidato à presidência nas eleições do próximo ano.
Ainda de acordo com a agência de notícias, Bolsonaro estaria mais inclinado a manifestar seu apoio a um membro de sua família. O mercado, porém, tem preferência pela candidatura de Tarcísio.
Os investidores locais também reagiram a novas declarações de membros do Banco Central (BC).
O diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, afirmou que a taxa de juros permanecerá em patamar restritivo por “período bastante prolongado” a fim de trazer a inflação de volta à meta, reiterando a comunicação recente da autarquia.
“A gente optou por uma interrupção e antecipou agora continuar essa interrupção. Dada a toda incerteza, (precisamos) ter cautela”, disse Guillen em evento promovido pelo Jota, em São Paulo. “Vai ser um período bastante prolongado de taxa significativamente contracionista para levar a inflação à meta, que é o compromisso.”
No mês passado, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a Selic em 15% ao ano, em decisão unânime.
As movimentações do governo para uma eventual negociação comercial com os Estados Unidos continuaram no radar. Está prevista uma reunião entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, na próxima semana.
O governo brasileiro também deve apresentar um plano de contingência para empresas afetadas pela tarifa de 50% sobre os produtos à importação nos EUA até a próxima terça-feira (12).