Dólar encosta em R$ 5,60 com escalada de tensão no Oriente Médio

O dólar à vista (USDBRL) opera em alta e caminha para zerar as perdas da semana com a escalada das tensões no Oriente Médio.
Na máxima do dia, a divisa chegou a ser cotada a R$ 5,5938 (+0,92%). O dólar encerrou a sessão com leve queda de 0,02%, a R$ 5,5417.
O movimento de valorização não é apenas ante o real. No mesmo horário, o DXY, indicador que compara o dólar a uma cesta de seis divisas globais como euro e libra, subia 0,18%, aos 98.098 pontos.
Durante a sessão, o índice chegou a subir 0,68% — interrompendo a sequência de perdas recentes. Ontem (12), o DXY encerrou a sessão na mínima de três anos.
Os motivos para a alta do dólar
O dólar, assim como os ativos como ouro e títulos do Tesouro norte-americano, reage aos ataques aéreo de Israel contra o Irã durante a madrugada desta sexta-feira (13) — ainda noite da quinta-feira (12) no Brasil. A divisa norte-americana é considerado um “porto seguro” em tempos de incerteza.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que seu país lançou uma “operação militar direcionada” contra o programa nuclear e de mísseis balísticos do Irã. O Irã afirmou ter lançado cerca de 100 drones contra Israel em retaliação.
“Esta operação continuará por quantos dias forem necessários para remover esta ameaça”, disse Netanyahu. Segundo ele, o eventual desenvolvimento de bombas nucleares iranianas representaria uma ameaça existencial ao futuro dos israelenses. “Se o Irã tiver armas nucleares, nós não vamos existir aqui”, disse.
Na avaliação dos estrategistas de câmbio do ING, as notícias são um “catalisador” para uma recuperação do dólar, que operava nas mínimas em três anos. “Os riscos agora apontam mais definitivamente para um período prolongado de tensão, em contraste com episódios recentes. E acreditamos que isso pode continuar a aliviar um pouco a pressão sobre o dólar”, escreveram em relatório.
Já Jeff Patzlaff, planejador financeiro CFP e especialista em investimentos, destaca que elevação na percepção de risco sistêmico tem causado fuga de capitais de mercados emergentes, como o Brasil.
“O principal impacto desse conflito entre Israel e Irã é o aumento global da aversão a risco, pois o conflito agrava a instabilidade no Oriente Médio, uma região estratégica para a produção e o transporte global de petróleo e gás — como o estreitamento do Estreito de Ormuz, por onde passa cerca de 20% do petróleo global”, disse Patzlaff.
A estrategista-chefe da Nomad, Paula Zogbi, ainda destaca que a resposta inicial do mercado, marcada por um “pico de pânico” com disparada do dólar e do petróleo, refletiu o temor de uma disrupção imediata na oferta de energia e um impacto inflacionário.
“A evolução futura dos mercados dependerá criticamente da natureza da resposta iraniana e da capacidade de contenção do conflito, além do potencial envolvimento dos EUA de forma mais contundente. No geral, o conflito é um adicional de volatilidade em um ambiente já incerto, impactado pelas tensões comerciais e temores de desaceleração da atividade”.
Dólar volátil ante o real
Apesar do aumento da aversão global, o dólar tem operado volátil ante o real. Por aqui, a incerteza fiscal segue como pano de fundo.
Nesta quinta-feira (12), o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou que o colégio de líderes da Casa decidiu pautar a urgência para votação de projeto de decreto legislativo que susta os efeitos da medida do governo de aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Além disso, associações do setores financeiros e produtivos entregaram um documento com propostas para reequilibrar as contas públicas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em resposta ao aumento do IOF e à criação de novos benefícios sociais.
O “plano alternativo” inclui medidas de corte de gastos e arrecadação de impostos com impacto total de R$ 21,9 bilhões já em 2025 e de R$ 82,8 bilhões em 2026.
O documento foi assinado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), Confederação Nacional do Comércio, Serviços e Turismo (CNC), pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg) e Confederação Nacional das Instituições Financeiras (CNF).