Acima de R$ 5,40: Dólar dispara com exterior e bate a maior cotação intradia desde agosto
O dólar retomou as negociações no mercado à vista em forte alta após o feriado do Dia da Consciência Negra no Brasil. A baixa liquidez do mercado e a reação tardia a dados de emprego nos Estados Unidos são alguns dos fatores que movimentam o câmbio nesta sexta-feira (21).
Por volta de 13h15 (horário de Brasília), o dólar à vista (USDBRL) operava a R$ 5,4228, com alta de 1,58%. Na máxima intradia, a divisa atingiu R$ 5,4317 (+1,75%), na maior cotação desde agosto
O movimento acompanha a tendência externa. Por volta das 17h (horário de Brasília), o DXY, indicador que compara o dólar a uma cesta de seis divisas globais, como euro e libra, operava com alta de 0,20%, aos 100.358 pontos.
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O que mexeu com o dólar hoje?
A política monetária dos Estados Unidos continua a guiar as movimentações do câmbio.
Ontem (20), enquanto o mercado brasileiro estava fechado, o relatório oficial de empregos (payroll), elaborado pelo Departamento do Trabalho norte-americano, mostrou a criação de 119 mil vagas em setembro, acima da projeção do mercado, que estimava 51 mil. Já a taxa de desemprego subiu para 4,4%, no maior nível em quase quatro anos.
Os dados de agosto foram revisados de 22 mil contratações para 4 mil demissões.
Os números do mercado de trabalho se somaram à ata do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Federal Reserve (Fed, Banco Central dos EUA), que reforçou a incerteza sobre o cenário econômico e expôs uma divisão interna sobre os próximos passos da política monetária.
Em Wall Street, a reação foi negativa aos dados.
“Hoje temos no Brasil um ajuste em relação a ontem. O payroll deu um nó na cabeça do investidor, que não sabe se de fato o Fed vai cortar os juros”, disse o diretor da Correparti Corretora, Jefferson Rugik, à Reuters. “Como o mercado brasileiro estava fechando, hoje estamos corrigindo.”
Sinalizações divergentes
Novas declarações de dirigentes do Fed também entram na conta do câmbio nesta sexta-feira (21), com a falta de unanimidade entre os diretores do principal Banco Central do mundo.
Mais cedo, o presidente da unidade do Fed de Nova York, John Williams, afirmou que o BC ainda pode cortar os juros “no curto prazo”. “Considero a política monetária moderadamente restritiva, embora um pouco menos do que antes de nossas recentes ações”, disse Williams em um discurso em Santiago, Chile.
“Portanto, ainda vejo espaço para um novo ajuste no curto prazo na meta para a taxa de juros dos fundos federais, a fim de aproximar a postura da política monetária da neutralidade, mantendo assim o equilíbrio entre a consecução de nossos dois objetivos”, acrescentou.
Por sua vez, a presidente da unidade do Fed de Boston, Susan Collins, disse que a política monetária está no caminho certo em meio a uma economia resiliente e deu sinais de que está cética quanto à necessidade de novos cortes de juros em dezembro, em entrevista à CNBC na manhã de hoje.
Uma “política levemente restritiva” é “muito apropriada neste momento”, disse Collins. Ela acrescentou que estava “hesitante” em relação à reunião do Fomc no próximo mês.
Na mesma linha, a presidente da unidade do Fed de Dallas, Lorie Logan, defendeu a manutenção da taxa de juros “por algum tempo”, enquanto o banco central avalia o grau de restrição da política monetária, em comentários preparados para evento em Zurique.
“Na ausência de evidências claras que justifiquem mais afrouxamento, manter os juros estáveis por um tempo permitiria ao Fomc avaliar melhor o grau de restrição da política monetária atual”, disse ela.
Após as declarações divergentes, o mercado voltou a precificar um novo corte nos juros norte-americanos, concentrando as atenções nas falas de Williams. No início da tarde, a ferramenta FedWatch, do CME Group, apontava 75,3% de chance de o Fed reduzir os juros para a faixa de 3,50% a 3,75% ao ano. Ontem (20), a probabilidade era de 39,1%. A expectativa de manutenção dos juros caiu de 60,9% ontem para 24,7% hoje.
Tarifas em segundo plano
Além do cenário internacional, o real também perde força ante o dólar com o enfraquecimento das commodities, já que o Brasil é um país exportador. Na China, o contrato futuro do minério de ferro, com vencimento em janeiro, caiu 0,32%, a 785,50 yuans (US$ 110,43) a tonelada, na Bolsa de Dalian.
Já o contrato mais líquido do petróleo Brent, também para janeiro, recuava 1,75%, a US$ 62,27 o barril na Intercontinental Exchange (ICE), em Londres, por volta de 13h15 (horário de Brasília).
A redução das tarifas sobre produtos brasileiros à importação nos Estados Unidos também tem uma reação tímida no mercado de câmbio.
Na noite de ontem (20), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou um decreto suspendendo as tarifas de 40% sobre determinados produtos agrícolas importados do Brasil. Entre os produtos isentos estão café, carne bovina e frutas.
A medida é retroativa e vale para mercadorias que chegaram aos EUA a partir de 13 novembro — data em que o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o secretário do Estado norte-americano, Marco Rubio, se reuniram em Washington.
Nas contas do Goldman Sachs, os produtos isentos representam aproximadamente 10% de todas as exportações brasileiras para os EUA. Ainda de acordo com os cálculos do banco, mais da metade das exportações brasileiras para os EUA já estão isentas da tarifa de 40%.
Além disso, com as isenções anunciadas no início do mês — com o recuo da taxa global de 10% —, a alíquota tarifária recíproca efetiva dos EUA sobre produtos brasileiros caiu de 30,2% para 29,2%. Com o alívio adicional de ontem na tarifa de 40%, a alíquota tarifária efetiva dos EUA caiu 3,7 pontos percentuais, para 25,5%, segundo o Goldman Sachs.