Dólar salta ante real com mercado local se ajustando a aversão a risco após feriado
O dólar tinha forte alta contra o real nesta sexta-feira, movimento atribuído por investidores a um ajuste à forte aversão a risco registrada na véspera nos mercados internacionais, quando os ativos brasileiros não tiveram negociações devido ao feriado de Corpus Christi.
A decisão do Banco Central na quarta-feira de elevar a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, a 13,25%, também deve dominar o foco de agentes do mercado nesta sessão.
Às 10:15 (de Brasília), o dólar à vista avançava 1,68%, a 5,1123 reais na venda, depois de mais cedo ter chegado a saltar 2,45%, a 5,1508 reais.
Na B3, às 10:15 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 1,02%, a 5,1300 reais.
Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, disse à Reuters que a movimentação desta sexta-feira reflete, em parte, a falta de negociações na véspera, quando agentes financeiros de todo o mundo se desfizeram de ativos arriscados, como ações, depois da decisão do Federal Reserve de elevar os juros norte-americanos no ritmo mais intenso desde 1994, em 0,75 ponto percentual.
Apenas poucos dias antes da última reunião de política monetária do banco central dos EUA, que se encerrou na tarde de quarta-feira, o consenso no mercado era de que o Fed adotaria uma alta mais moderada, de 0,50 ponto. O endurecimento da conduta do Fed prenuncia um ambiente de renda fixa mais atraente na maior economia do mundo, explicou Cruz, o que tende a redirecionar recursos para lá e, consequentemente, beneficiar o dólar.
Nesta sessão, o índice da divisa norte-americana contra uma cesta de rivais fortes avançava 0,64%, a 104,540, aproximando-se de uma máxima em duas décadas. Algumas moedas arriscadas pares do real, como dólar australiano, peso mexicano e peso chileno, também se desvalorizavam no dia, embora a ritmos mais comportados que o apresentado pela divisa brasileira, que tinha o pior desempenho entre as principais moedas do mundo.
Além da atratividade crescente dos juros dos EUA, algumas instituições financeiras também apontavam os riscos de uma recessão nos Estados Unidos como possível fator negativo para o desempenho de ativos de mercados emergentes.
“O Fed pode ter criado a impressão de que cedeu aos mercados, que haviam precificado uma ação mais decisiva” na reunião desta semana, avaliou o Citi em relatório divulgado na noite de quinta-feira.
“Um banco central que cede às demandas do mercado tornará uma recessão ainda mais provável e mais severa. Após um alívio de curto prazo, o mercado está cada vez mais vendo a situação dessa forma. Isso sugere que os juros dos EUA continuam sendo um obstáculo para os juros de mercados emergentes, bem como para o câmbio de mercados emergentes.”
Apesar de o cenário externo apontar vários desafios para a moeda brasileira, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC de subir a Selic em 0,50 ponto percentual e prever novo ajuste, de igual ou menor magnitude, na reunião de agosto pode vir a jogar a favor do real, disse Cruz, da RB.
“Acho que existe um exagero (na depreciação do real) e que o Brasil acabou se envolvendo numa semana negativa lá fora. Quando acalmar a percepção sobre até onde vão os juros nos Estados Unidos e a eleição no Brasil ficar para trás, acho que isso deve dar espaço para uma valorização do real”, avaliou o estrategista, citando o patamar elevado da Selic como fator de impulso para a divisa local.
Cruz disse que investidores devem ficar atentos à perspectiva de reajustes de preço dos combustíveis pela Petrobras, uma vez que reações negativas no Ibovespa poderiam afetar também o mercado de câmbio.
Na última sessão, na quarta-feira, a moeda norte-americana à vista fechou em baixa de 2,07%, a 5,0278 reais na venda.
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