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Dólar a R$ 6 é reação exagerada, diz diretor de Tesouraria do Travelex Bank

28 nov 2024, 13:00 - atualizado em 28 nov 2024, 17:16
dólar geraldo alckmin
O dólar bate R$ 6,00, recorde intradia, em reação ao pacote fiscal e isenção do IR; na véspera, a moeda fechou a R$ 5,91 (Imagem: REUTERS/Dado Ruvic)

Depois de atingir o maior cotação desde a criação do real, o dólar à vista (USDBRL) segue em forte alta e rompeu o nível de R$ 6 pela primeira vez na história nesta quinta-feira (28). 

Por volta de 13h (horáiro de Brasília), a divisa norte-americana bateu R$ 6,0038 (+1,54%) no mercado à vista — no maior nível intradia. O recorde anterior foi registrado em 14 de maio de 2020, no auge da pandemia, quando o dólar atingiu R$ 5,9718. 



A disparada da moeda em relação ao real reflete a tensão dos agentes financeiros sobre o anúncio do pacote fiscal com a isenção do Imposto de Renda (IR) para salários de até R$ 5 mil. 

Ontem (27), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou o corte de e R$ 71,9 bilhões nos próximos dois anos, sendo R$ 30,6 bilhões em 2025 e R$ 41,3 bilhões em 2026. O impacto estimado até 2030 é de R$ 327 bilhões.

Também incluiu a isenção do IR, uma das promessas da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais. 

Segundo o chefe da pasta econômica, o impacto da medida será “neutralizado” por um aumento na taxação de salários acima de R$ 50 mil — o que tem sido considerado “insuficiente” pelo mercado. 

Isso porque a isenção do IR, estimada em R$ 50 bilhões anuais, supera os cortes de gastos previstos, gerando dúvidas sobre o real compromisso do governo com o equilíbrio orçamentário. 

Exagero?

Na avaliação do diretor de Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, a disparada do dólar é uma reação exagerada do mercado. 

“O mercado não gostou [do pacote fiscal]. Os juros prefixados estão subindo, o dólar está disparando e a bolsa está caindo, mas não achei o pacote ruim como estão precificando hoje”, disse Weigt em entrevista ao Money Times

“O movimento é exagerado e deve permanecer nos próximos dias, mas não vai se sustentar no longo prazo.”

Para ele, a decisão de aumentar a taxação de salários dos super-ricos “pega” a tributação de dividendos — um dos motivos para a tensão dos investidores hoje. Segundo ele, a medida deveria ter sido acompanhada por uma redução no IR das empresas. 

E, apesar da forte valorização do dólar, o Banco Central não deve intervir no câmbio, na avaliação de Weigt, da Travelex. 

“O BC tem afirmado que só deve intervir quando o mercado estiver em disfuncionalidade, o que não é o que está acontecendo neste momento”, afirma. 

“O mercado tem que se ajustar por si só. Se tiver intervenção [no câmbio] e o mercado continuar achando que [o pacote fiscal] é ruim e continuar comprando [dólar], o Banco Central vai começar a vender e pode segurar o dólar por uma semana ou em 15 dias, mas o risco vai para outros ativos e depois o dólar volta a subir. Então, isso seria queimar a reserva cambial sem necessidade”, diz. 

Marcos Weigt, head de Tesouraria da Travelex Bank
Marcos Weigt, head de Tesouraria da Travelex Bank

Curva de juros precifica alta da Selic maior em dezembro 

Os juros futuros (DIs) também ampliaram o ritmo de alta nesta quinta-feira (27), em continuidade ao movimento iniciado na véspera antes do anúncio do pacote fiscal.

Todos os vencimentos avançam mais de 30 pontos-base em relação ao ajuste anterior e os vértices mais longos já precificam uma Selic acima de 14%.

Por volta de 12h30, as taxas de Depósitos Interfinanceiros (DIs) para julho de 2026 subia a 14,02% na máxima intradia, ante 13,71% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2027 avançava a 14,01%, de 13,66% no ajuste na véspera.

Nesse cenário, Weigt, da Travelex, vê uma alta de 75 pontos-base na taxa básica de juros na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que acontece me dezembro. “As expectativas de inflação ainda estão desancoradas”, diz o head de Tesouraria, combinado com a recente pressão sobre o câmbio. 

Com isso, a Selic, que está em 11,25% ao ano,  teve terminar 2024 a 12% a.a.

Principais pontos do pacote fiscal

As medidas anunciadas, segundo a equipe econômica, tem como objetivo reforçar a nova regra fiscal ao alinhar o crescimento de despesas com os limites do arcabouço fiscal.

Confira os principais pontos do pacote fiscal:

Salário mínimo

Para o salário mínimo, a proposta é de que passe a ter ganho real, mas condicionado ao espaço do arcabouço entre 0,6% e 2,5%.

“Nossa proposta garante que o aumento real do salário-mínimo seja sustentável dentro do orçamento da União”, diz o governo.

  • Regra atual: Crescimento pela inflação do ano passado + crescimento real igual ao PIB de dois anos anteriores;
  • Regra proposta: Mantém regra de crescimento real pelo PIB, mas a variação real estará nos limites do arcabouço fiscal.

Abono salarial

A proposta para o abono salarial é de uma transição gradual de dois salários para 1,5 salário.

  • Regra atual: trabalhador que recebe até dois salários-mínimos;
  • Regra proposta: Fixar a renda para acessar o benefício em R$ 2.640,00 e corrigido pelo INPC até chegar a 1,5 salário mínimo.

Benefício de Prestação Continuada (BPC)

Para o Benefício de Prestação Continuada (BPC), o governo aperfeiçoou os mecanismos de controle. As medidas são:

  • Focalizar em pessoas incapacitada para a vida independente e para o trabalho;
  • Vedação de dedução de renda não prevista em lei
  • Passam a contar para acesso: renda de cônjuge e companheiro não coabitante e renda de irmãos, filhos e enteados (não apenas solteiros) coabitantes;
  • Atualização obrigatória para cadastros desatualizados há mais de 24 meses e para benefícios concedidos administrativamente sem Código Internacional de Doenças (CID);
  • Biometria será obrigatória para novos benefícios e atualizações cadastrais;
  • Em uma mesma família, a renda de um benefício volta a contar para acesso a outro benefício.

Veja a lista completa:  As medidas propostas no pacote de corte de gastos de R$ 71,9 bilhões

*Com Giovana Leal

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Jornalista formada pela PUC-SP, com especialização em Finanças e Economia pela FGV. É repórter do MoneyTimes e já passou pela redação do Seu Dinheiro e setor de análise politica da XP Investimentos.
liliane.santos@moneytimes.com.br
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