Internacional

É improvável que haja um avanço na paz após Putin se recusar a encontrar Zelenskiy na Turquia

15 maio 2025, 16:10 - atualizado em 15 maio 2025, 16:10
G7
(Imagem: REUTERS/Fabrizio Bensch/Arquivo)

Vladimir Putin, da Rússia, rejeitou o desafio de se encontrar cara a cara com Volodymyr Zelenskiy na Turquia nesta quinta-feira e, em vez disso, enviou uma delegação de segundo escalão para as negociações de paz planejadas, enquanto o presidente da Ucrânia disse que seu ministro da Defesa lideraria a equipe de Kiev.

Essas serão as primeiras conversas diretas entre os dois lados desde março de 2022, mas as esperanças de um grande avanço foram ainda mais prejudicadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, que disse que não haveria movimento sem uma reunião entre ele e Putin.

Zelenskiy disse que a decisão de Putin de não comparecer, mas de enviar o que ele chamou de uma equipe “decorativa”, mostrou que o líder russo não estava levando a sério o fim da guerra. A Rússia acusou a Ucrânia de tentar “fazer um show” em torno das negociações.

Não ficou claro quando as negociações começariam de fato.

“Não podemos ficar correndo pelo mundo à procura de Putin”, disse Zelenskiy depois de se encontrar com o presidente turco, Tayyip Erdogan, em Ancara.

“Sinto o desrespeito da Rússia. Sem tempo para reunião, sem agenda, sem delegação de alto nível — isso é desrespeito pessoal. Para Erdogan, para Trump”, disse Zelenskiy aos repórteres.

Zelenskiy disse que ele próprio também não iria agora a Istambul e que o mandato de sua equipe era discutir um cessar-fogo.

A Ucrânia apoia um cessar-fogo imediato e incondicional de 30 dias, mas Putin disse que primeiro quer iniciar conversações nas quais os detalhes dessa trégua possam ser discutidos. Mais de três anos após sua invasão em grande escala, a Rússia tem a vantagem no campo de batalha e diz que a Ucrânia poderia usar uma pausa na guerra para convocar tropas extras e adquirir mais armas ocidentais.

Tanto Trump quanto Putin têm dito há meses que estão ansiosos para se encontrar, mas nenhuma data foi definida.

Trump, depois de exercer forte pressão sobre a Ucrânia e entrar em conflito com Zelenskiy no Salão Oval em fevereiro, expressou ultimamente uma crescente impaciência com a possibilidade de Putin estar “me enganando”.

“Nada vai acontecer até que Putin e eu nos encontremos”, disse Trump aos repórteres a bordo do Air Force One.

Confusão diplomática

A desordem diplomática foi sintomática da profunda hostilidade entre os lados beligerantes e a imprevisibilidade injetada por Trump, cujas intervenções desde que retornou à Casa Branca em janeiro muitas vezes provocaram consternação na Ucrânia e em seus aliados europeus.

Enquanto Zelenskiy esperava em vão por Putin em Ancara, a equipe de negociação russa estava sentada em Istambul sem ninguém para conversar com o lado ucraniano. Cerca de 200 repórteres se aglomeravam perto do Palácio Dolmabahce, no Bósforo, que os russos haviam especificado como o local das negociações.

Os inimigos vêm lutando há meses sobre a logística de um cessar-fogo e negociações de paz, enquanto tentam mostrar a Trump que estão levando a sério a tentativa de acabar com o que ele chama de “essa guerra estúpida”.

Centenas de milhares de pessoas foram mortas e feridas em ambos os lados no conflito mais mortal na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Washington tem ameaçado repetidamente abandonar seus esforços de mediação, a menos que haja um progresso claro.

Trump disse nesta quinta-feira que iria às negociações na Turquia na sexta-feira se fosse “apropriado”.

“Só espero que a Rússia e a Ucrânia consigam fazer alguma coisa. Isso tem que parar”, disse ele.

Perguntado se Putin participaria das negociações em algum momento futuro, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse: “Que tipo de participação será necessária no futuro, em que nível, é muito cedo para dizer agora.”

A Rússia disse nesta quinta-feira que suas forças haviam capturado mais dois vilarejos na região de Donetsk, na Ucrânia. Uma porta-voz do ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, lembrou aos repórteres seu comentário no ano passado de que a Ucrânia estava “ficando menor” na ausência de um acordo para acabar com os combates.

Primeiras conversas em três anos

Uma vez iniciadas, as conversações terão que abordar um abismo entre os dois lados em uma série de questões.

A delegação russa é chefiada pelo conselheiro presidencial Vladimir Medinsky, um ex-ministro da cultura que supervisionou a reescrita de livros didáticos de história para refletir a narrativa de Moscou sobre a guerra. Ela inclui um vice-ministro da defesa, um vice-ministro das relações exteriores e o chefe da inteligência militar.

Os principais membros da equipe, incluindo seu líder, também estiveram envolvidos nas últimas negociações diretas de paz em Istambul, em março de 2022 — e Medinsky confirmou na quinta-feira que a Rússia viu as novas negociações como uma retomada daquelas interrompidas há três anos.

Medinsky disse que a tarefa era alcançar uma paz duradoura que incluísse a remoção das “causas fundamentais” do conflito — uma frase que Zelenskiy disse que na verdade significava prolongar as hostilidades.

Os termos em discussão em 2022, quando a Ucrânia ainda estava se recuperando da invasão inicial da Rússia, seriam profundamente desvantajosos para Kiev. Eles incluíam uma exigência de Moscou de cortes profundos no tamanho das Forças Armadas da Ucrânia.

Com as forças russas agora no controle de cerca de um quinto da Ucrânia, Putin manteve suas exigências de longa data para que Kiev cedesse território, abandonasse suas ambições de adesão à Otan e se tornasse um país neutro.

A Ucrânia rejeita esses termos como equivalentes à capitulação e está buscando garantias de sua segurança futura junto às potências mundiais, especialmente os Estados Unidos.

Destacando o nível de tensão entre a Rússia e a aliança liderada pelos EUA, a Estônia disse que Moscou enviou brevemente um jato de combate para o espaço aéreo da Otan sobre o Mar Báltico durante uma tentativa da marinha estoniana de deter um petroleiro com destino à Rússia, que se acredita ser parte de uma “frota sombra” que desafia as sanções ocidentais contra Moscou.

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reuters@moneytimes.com.br
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