Colunistas

Eduardo Belotti: O viés comportamental que você não conhecia, mas afeta sua carteira

12 jan 2021, 11:12 - atualizado em 12 jan 2021, 11:35
Ibovespa Mercados queda
Existem alguns casos em que vemos claramente o homem tomando decisões baseadas em medo/feeling e não em fatos e dados, argumenta o colunista (Imagem: Reuters/Amanda Perobelli)

O ser humano é um ser racional, mas muitas vezes a gente acaba superestimando a racionalidade de nossa tomada de decisão. O viés comportamental chamado de aversão a perdas está aí para nos mostrar isso.

A hipótese do mercado eficiente afirma que os mercados são eficientes em relação a informação. Isso significa que no mundo dos investimentos, por exemplo, todos os investidores tomam decisões racionais a todo momento.
A economia se apoiou durante muito tempo nessa hipótese. Mas existem alguns casos em que vemos claramente o homem tomando decisões baseadas em medo/feeling e não em fatos e dados.

A economia comportamental

Existe um ramo da economia que vem ganhando bastante destaque nos últimos anos chamado behavioural economics, ou economia comportamental que assume que o ser humano nem sempre toma decisões racionais e se esforça em entender o que rege essa tomada de decisão.

Antes da economia comportamental, os economistas tratavam as pessoas como Homo Economicus: pessoas que tomam sempre a atitude racional. Hoje, estamos um pouco mais próximo do mundo real e tratamos as pessoas como Homo Sapiens.

Para se ter uma ideia, desde o início do século, 2 pessoas que estudam economia comportamental ganharam o nobel de economia.

O mais legal disso tudo é que um deles, o Daniel Kahneman nem economista é: ele é psicólogo.

Mas até agora falei muito e não expliquei a maldita aversão a perdas. Então vamos lá.

Aversão a perdas

Nós sofremos mais com perdas do que ficamos felizes com ganhos de mesma intensidade.

Você fica com mais raiva quando seu time perde do que fica feliz quando ele ganha.

Engraçado que eu pude perceber o quanto isso afeta a minha vida recentemente. Sou um gamer assíduo. Nos jogos que costumo jogar, existe um sistema próprio para encontrar oponentes de nível parecido com o meu. Isso significa que na média eu devo ganhar 50% e perder 50% das partidas.

Quando percebi isso dei uma diminuída nos games. Estava me irritando muito jogando e o motivo era a aversão a perdas.

Perder R$ 100 causa uma tristeza mais intensa do que a felicidade de ganhar R$ 100.

O Daniel Kahneman ganhou um nobel de economia em 2002 trazendo essas e outras descobertas.

Está achando muito abstrato?

Exemplo prático de aversão a perda

Você prefere a certeza de ganhar R$ 90.000 ou 90% de chance de ganhar R$ 100.000?

Geralmente as pessoas preferem a primeira opção.

Aqui, preferimos não correr o risco. Mais vale um pássaro na mão do que dois voando, não é mesmo?

Lembrando que pensando em termos estatísticos, as duas respostas se equivalem. O valor esperado é igual: R$ 90.000.
Mas agora vamos inverter o exemplo.

Você prefere a certeza de perder R$ 90.000 ou ter 90% de chance de perder R$ 100.000?

Aqui a resposta costuma ser o contrário: preferimos correr o risco de perder R$100.000.

Preferimos correr o risco de não perder nada do que ter uma perda certa.

De novo, o valor esperado é igual. Nesse caso, é de – R$90.000.

A lógica é exatamente igual. Só que num exemplo você ganha dinheiro e no outro, você perde. Em um agimos de uma forma e no outro, de outra.

Você pode verificar que você mesmo é muito mais avesso a perdas em diversos momentos da sua vida.

Faça esse exercício.

Esse comportamento não está errado. Na verdade acredita-se que isso vem da parte mais primitiva do nosso cérebro.

Na época em que caçávamos para sobreviver, um dia sem comida era infinitamente pior do que um dia com fartura de comida. Por isso desenvolvemos uma aversão a perdas maior do que uma aptidão a ganhar. Questão de sobrevivência.

E acabamos carregando isso para a tomada de decisões que nem sempre são questão de vida ou morte.

O mais legal é que nós conseguimos observar esse comportamento na nossa base de usuários do Real Valor.

Não sabe o que é o Real Valor? É a principal ferramenta de acompanhamento dos seus investimentos do Brasil. Tem dificuldade de acompanhar a sua carteira? Clica aqui e saiba mais.

Comprovação da aversão a perdas com usuários Real Valor

Eu lembro em 2017 quando investi em Bitcoin e olhava todo dia para ver meu dinheiro subindo. Já no ano de 2018, o Bitcoin começou a cair vertiginosamente. Lembro-me de olhar poucas vezes no ano o preço do ativo.

As outras pessoas pensam de forma parecida. Eu sempre suspeitei que existia uma correlação entre o número de usuários e engajamento deles e o humor da bolsa brasileira.

Em períodos em que a bolsa está subindo, o usuário tende a usar o app mais vezes e por mais tempo.

Mas quando atravessamos períodos ruins na bolsa, o usuário acaba usando o Real Valor bem menos.

Isso acontece porque gostamos de ficar vendo nosso dinheiro subindo, mas quando ele está caindo, preferimos não ver.

Um clássico caso de aversão a perdas.

Quando decidi dar uma analisada como nossa base de usuários se correlaciona com o Ibovespa, não houve surpresas. O Gráfico diz tudo:

(Removi o valor dos eixos porque mais importante do que os números é ver o comportamento)

A linha azul simboliza o tempo médio em que os usuários engajaram. A linha amarela simboliza o Ibovespa.

Note que quando o Ibovespa mergulha ali em março, o mesmo acontece com o engajamento médio.

Quando a bolsa sobe logo depois, o engajamento volta.

Faz sentido a retenção dos usuários variar muito de um mês para o outro? Não. A menos que saia uma funcionalidade nova no app ou tenha algum bug muito grande. (O que não ocorreu nessa época)

A bolsa brasileira teve perdas de cerca de 50% em 2 meses. Nesse mesmo período, o número de usuários ativos diários do Real Valor caiu na ordem de 30%.

A regra é clara. O investidor que vê que a bolsa está caindo simplesmente não quer nem olhar para a sua carteira. Ele não quer ver o quanto ele está perdendo. Isso é muito claro no gráfico.

Como usar a aversão a perdas a seu favor

Que o efeito psicológico de aversão a perdas existe isso é um fato.

Inclusive, trouxe dados do Real Valor para corroborar com isso.

Existem pessoas que falam que preferem não olhar para os investimentos em quedas vertiginosas para não tomar decisões de vender por impulso.

Nesses casos, faz todo o sentido não olhar para o home broker ou para o Real Valor. Mas caso você não tenha esses impulsos, é possível tirar uma grande lição disso.

Se esse não é o seu caso e você só não olha porque não gosta de ver os números vermelhos na tela, vale refletir sobre o que eu vou falar a seguir.

        Quem não mede não gerencia
        Peter Drucker

E não adianta só medir quando está indo tudo bem. É no momento que tudo vai mal que é mais importante medir.

É quando a bolsa está derretendo que você tem oportunidades de compra. É importante acompanhar os investimentos nesse momento justamente para ver o que faz mais sentido comprar e lucrar no longo prazo.

Cofundador e CEO do Real Valor
Eduardo é cofundador e CEO do Real Valor, o melhor consolidador de carteira de investimentos do Brasil (segundo as avaliações nas lojas de aplicativos). Foi acelerado pela ACE, StartupRio e Google, além de receber o prêmio de top 10 startups revelação de 2020 segundo a Startup Awards. Atualmente quer ajudar todos os brasileiros a acompanhar a sua carteira da melhor forma possível.
Linkedin Site
Eduardo é cofundador e CEO do Real Valor, o melhor consolidador de carteira de investimentos do Brasil (segundo as avaliações nas lojas de aplicativos). Foi acelerado pela ACE, StartupRio e Google, além de receber o prêmio de top 10 startups revelação de 2020 segundo a Startup Awards. Atualmente quer ajudar todos os brasileiros a acompanhar a sua carteira da melhor forma possível.
Linkedin Site
Giro da Semana

Receba as principais notícias e recomendações de investimento diretamente no seu e-mail. Tudo 100% gratuito. Inscreva-se no botão abaixo:

*Ao clicar no botão você autoriza o Money Times a utilizar os dados fornecidos para encaminhar conteúdos informativos e publicitários.