Em 2025, B3 tem menor volume de negociação de ações em cinco anos
O volume financeiro médio diário negociado no mercado à vista da B3 em 2025 caminha para o menor patamar dos últimos cinco anos, segundo levantamento da Elos Ayta. Até 22 de dezembro, a média gira em torno de R$ 18,5 bilhões, bem abaixo dos níveis observados entre 2020 e 2022, período marcado por forte liquidez, juros baixos e maior apetite ao risco.
Para efeito de comparação, em 2021 — auge do ciclo de liquidez durante a pandemia — o volume médio diário superou R$ 28 bilhões, enquanto em 2020 ficou próximo de R$ 26 bilhões. Desde então, o mercado brasileiro vem passando por um processo contínuo de esvaziamento do giro, que se aprofundou ao longo de 2023, 2024 e agora em 2025.
Menos giro e posições mais carregadas
Na avaliação de Danilo Coelho, economista e especialista em investimentos, a queda no volume não está ligada a um único fator, mas a uma combinação de mudanças no comportamento dos investidores e no ambiente macroeconômico.
“Desde o começo do ano, a gente tem visto cada vez menos montagem e giro de posições. Muitos fundos, tanto locais quanto estrangeiros, têm preferido montar posição e segurá-la, muitas vezes de olho em um resultado mais à frente, especialmente após o ciclo eleitoral”, afirma.
Segundo ele, o fato de o mercado acionário brasileiro estar negociando em níveis historicamente baixos também contribui para esse movimento. “Muitos investidores estão posicionados para carregar ações, o que desestimula operações de curto prazo e reduz o volume de negociação diária”, diz.
Esse comportamento, para ele, é reforçado pelo chamado “trade eleitoral”, que, na prática, posterga decisões mais agressivas até que haja maior clareza sobre o cenário político e econômico de 2027 em diante.
Menos empresas na B3, menos liquidez
Outro ponto estrutural destacado por Coelho é a redução do número de companhias listadas na bolsa.
“Nós temos muitas empresas saindo da bolsa recentemente. Fechamentos de capital e reorganizações societárias reduzem o universo de ações negociadas e, por consequência, o volume financeiro do mercado”, explica.
Além de OPA’s tradicionais, holdings também têm fechado o capital de subsidiárias menores, concentrando ativos fora do ambiente de bolsa e enxugando ainda mais a liquidez do mercado à vista.
Juros altos seguem drenando fluxo da bolsa
O terceiro fator citado pelo especialista é a taxa de juros elevada, que continua funcionando como um freio natural ao mercado acionário.
“Muitas vezes, tanto o investidor estrangeiro quanto o investidor local acabam dando preferência a ficar nos juros, já que estão sendo bem remunerados para basicamente aguardar”, afirma.
Esse diagnóstico é compartilhado por Gustavo Simões, analista de gestão da Patagônia Capital, que vê o recuo do volume como reflexo direto de um ambiente macro ainda restritivo.
“A manutenção de juros reais elevados reduz o apetite ao risco e torna a renda fixa muito mais atrativa, desviando fluxo da bolsa”, diz.
Segundo Simões, além do juro alto, a incerteza fiscal doméstica e a volatilidade do cenário externo reforçam uma postura defensiva dos investidores, citando também um menor giro das carteiras e um menor número de operações táticas no dia a dia.
“O investidor estrangeiro prioriza mercados com maior previsibilidade macro. Uma retomada mais consistente do volume da B3 depende de sinais claros de convergência fiscal, queda estrutural dos juros e maior visibilidade sobre o crescimento econômico”, conclui.
Com juros elevados, incerteza fiscal e menos empresas listadas, o mercado acionário brasileiro segue operando em ritmo mais lento. Enquanto não houver mudança estrutural nesses vetores, a tendência, para os especialistas, é que o volume de negociações permaneça pressionado — mesmo em um cenário de ações baratas e valuations atrativos.