Endividada, europeia Eutelsat tenta mais financiamento público para enfrentar Starlink

A operadora de satélites Eutelsat precisa garantir investimentos de mais países europeus para fortalecer seus esforços de competir com o Starlink, de Elon Musk, segundo parlamentares da União Europeia e analistas, após um compromisso assumido pela França.
Endividada, a empresa franco-britânica tem recebido atenção sem precedentes neste ano por parte de governos europeus, à medida que as políticas do presidente Donald Trump levantam preocupações sobre a dependência da Europa de empresas de satélite dos Estados Unidos.
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Um investimento de 1,5 bilhão de euros liderado pela França está prestes a ser aprovado pelos acionistas nesta terça-feira (30). A Eutelsat espera que, a partir disso, outros países também contribuam.
O presidente Emmanuel Macron instou outros países e empresas a investirem, apresentando a decisão como uma questão de soberania europeia.
A ambição espacial da Europa
Christophe Grudler, eurodeputado francês que pediu à Comissão Europeia que buscasse alternativas ao Starlink para a Ucrânia, enquanto a guerra com a Rússia se prolonga, disse que a Eutelsat é uma das melhores respostas da Europa ao Starlink, mas que isso requer compromisso político.
“A decisão da França de reforçar sua participação é um ato político forte. Mas não pode parar por aí. A Alemanha e outros Estados-membros também devem se envolver. Um único país não pode carregar sozinho essa ambição continental no espaço”, disse ele à Reuters.
Na rodada de financiamento atual, a França comprometerá 750 milhões de euros por uma participação de 29,65%, enquanto o Reino Unido contribuirá com 163 milhões de euros para manter uma participação de 10,89% em um plano de investimento em duas etapas.
Outros investidores incluem o bilionário indiano Sunil Mittal, por meio da Bharti Space, o grupo de navegação CMA CGM, e o Fonds Stratégique de Participations, um fundo de investimentos apoiado por seguradoras francesas.
Guerra na Ucrânia revive Eutelsat
A Eutelsat, que apresentou um novo CEO, novo presidente do conselho e uma identidade de marca reformulada, confirmou à Reuters que pretende envolver mais países europeus, embora as discussões ainda estejam em estágios iniciais.
Conversas iniciais entre França e Alemanha ocorreram durante o Conselho de Ministros Franco-Alemão em 29 de agosto, segundo a empresa em comunicado.
Os governos alemão e francês não responderam aos pedidos de comentário da Reuters. Os acionistas envolvidos na atual rodada de aumento de capital também se recusaram a comentar.
As ações da Eutelsat se recuperaram de mínimas históricas com as conversas com a União Europeia sobre a possibilidade de substituir o Starlink na Ucrânia.
Planejamento operacional e coordenação com os Estados-membros e partes interessadas relevantes sobre a Ucrânia continuam em andamento, disse o porta-voz da Comissão Europeia, Thomas Regnier, em resposta por e-mail à Reuters.
A Alemanha já paga pelo acesso da Ucrânia aos serviços da Eutelsat, e a empresa entregou milhares de terminais de usuário a Kyiv.
França oferece linha vital à Eutelsat
A Eutelsat disse à Reuters que não foi diretamente afetada pela queda do governo francês em 8 de setembro. No entanto, a empresa, que depende do compromisso financeiro imediato da França, ressaltou a necessidade de estabilidade e continuidade.
Questionada sobre o risco de turbulência política atrasar o orçamento francês de 2026, a Eutelsat respondeu que isso afetaria apenas o próximo exercício fiscal.
“Em termos de cronograma, é improvável que seja impactado por um impasse neste momento.”
O financiamento deverá ajudar a reduzir a dívida da Eutelsat, de 2,6 bilhões de euros, e apoiar a implantação de 340 satélites de órbita baixa (LEO) para a constelação OneWeb, que terá um custo de mais de 2 bilhões de euros.
A Eutelsat adquiriu a OneWeb em 2023 para aproveitar o crescimento da demanda por internet via satélite.
Mas a diferença para o Starlink é gritante. A OneWeb tem pouco mais de 650 satélites, enquanto o Starlink tem quase 8.000. A Eutelsat minimiza essa vantagem, afirmando que mantém competitividade junto a clientes corporativos e governamentais.
Avaliações dos analistas
O analista da Bernstein, Aleksander Peterc, afirmou que o apoio da França e do Reino Unido já fez uma diferença significativa, mas que o financiamento para a próxima década dependerá da lucratividade e geração de caixa da Eutelsat.
“A adição da Alemanha como acionista central solidificaria ainda mais a posição da Eutelsat como principal provedora europeia soberana de conectividade LEO”, disse ele.
O analista da Stifel, Antoine Lebourgeois, foi mais cauteloso, afirmando que o aumento de capital é uma linha de vida de curto prazo e não uma solução de longo prazo.
“O apoio dos governos europeus é um primeiro passo crucial e um forte sinal, mas pode não ser suficiente, por si só, para garantir a viabilidade da OneWeb no longo prazo”, disse ele.
“Dada a concorrência intensa e as economias de escala de players como o Starlink, a OneWeb provavelmente precisará de um compromisso público mais substancial e sustentado para realmente prosperar como alternativa europeia.”