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Entrevista: Como a Wiz quer ser a XP dos seguros e do crédito, segundo o CEO Heverton Peixoto

10 maio 2021, 17:22 - atualizado em 10 maio 2021, 18:03
Heverton Peixoto, CEO da Wiz
Finanças embutidas: Wiz integra 15 ecossistemas e quer transformar contas de luz, água e telefone em canais de vendas de seguros e crédito, segundo Peixoto (Imagem: Wiz/ Paulo Negreiros)

Em 24 de janeiro de 2020, a Wiz (WIZS3) parecia ter, finalmente, feito as pazes com o mercado, após anos de fortes flutuações desde seu IPO, ainda como Par Corretora de Seguros, em junho de 2015. Naquele dia, o papel fechou cotado a R$ 16,32.

Era o maior valor desde os R$ 16,36 do fechamento de 05 de outubro de 2017 – sim, mais de 50 meses antes. Nesse intervalo, as ações chegaram a ser negociadas por pouco mais de R$ 6, metade do que valiam no IPO.

Mas, como uma protagonista da coleção Desventuras em Série, a empresa passou por um novo turbilhão que culminou com uma forte perda de valor. Em 10 de março de 2021, pouco mais de um ano após aquela máxima, os papéis fecharam em R$ 6,04 – a menor cotação desde que a Wiz listou suas ações na Bolsa.

“A Wiz foi muito desafiada nos últimos tempos”, afirmou seu CEO, Heverton Peixoto, ao Money Times. O executivo, que assumiu o comando da empresa em fevereiro de 2018, refere-se, de um lado, ao impacto da pandemia de coronavírus sobre os negócios.

De outro, está a Operação Canal Seguro, deflagrada pela Polícia Federal em novembro passado, com o objetivo de apurar fraudes no mercado de seguros. Segundo a PF, três ex-diretores teriam cometido gestão fraudulenta e desviado R$ 28 milhões da Wiz, entre 2014 e 2016. O caso levou à renúncia de membros do conselho de administração.

Fora da Caixa

Como se fosse pouco, a Wiz também sofreu um duro golpe, ao perder o contrato de negociação de seguros da Caixa Econômica Federal. O negócio respondia por boa parte de seu faturamento e acabou nas mãos da rival Alper (APER3).

Mas a empresa saiu das cordas e está se reinventando como uma gestora de canais de distribuição de produtos financeiros e de seguros. Atualmente, a Wiz integra 15 ecossistemas, como o do Inter (BIDI11), Itaú Unibanco (ITUB4) e do BMG (BMGB11), intermediando a venda de linhas de crédito e apólices de seguros.

Caixa Econômica Federal
Revés: depois de quase 50 anos, Wiz perdeu o contrato para venda de seguros da Caixa (Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

A próxima grande avenida de crescimento da companhia é o crédito imobiliário. “Queremos transformar as imobiliárias em agências bancárias”, afirma Peixoto. Com a ação fechando a última sexta-feira em R$ 11,43, o executivo vê sinais de que o mercado compreende e apoia os novos planos. E, para quem duvida, ele revela a frase que se tornou o slogan interno da empresa, nos últimos tempos: “Never bet against Wiz” (“nunca aposte contra a Wiz”).

Veja o principais trechos da entrevista concedida ao Money Times:

Money Times – Por que a Wiz se apresenta como uma gestora de canais de distribuição de produtos de crédito e seguros?
Heverton Peixoto – A Wiz foi fundada há quase 48 anos com uma missão muito específica. Era uma empresa do ecossistema da Caixa, inclusive com participação do banco no capital. Seu objetivo era maximizar o retorno do banco em produtos que não eram o seu core business. Se você olhar para a Caixa, verá que seu core são assistência social, poupança e crédito habitacional. Os outros produtos não são seu principal foco. Então, coube à Wiz maximizar o valor desses produtos de seguros.

Eu digo que, se essa não fosse a nossa origem, dificilmente seríamos tão bons no que fazemos hoje, que é maximizar o retorno de produtos em ecossistemas de terceiros, onde esses produtos não são o foco. Esse modelo se encaixa bem em muitos ecossistemas. Temos parcerias com bancos como o Inter e o BMG, e com concessionárias de veículos. Estamos em 15 ecossistemas. Também atuamos com home equity (modalidade de crédito em que o imóvel serve como garantia) e estamos entrando no segmento de refinanciamento de carros e de crédito imobiliário.

MT – O Open Banking ajudará nos planos da Wiz, na medida em que barateia a análise de crédito e reduz riscos?
Peixoto – O Open Banking tem muito a ver com o que fazemos. Ele é a ponta de lança para um maior desenvolvimento do mercado. Por uma série de motivos, a fonte de geração de valor vai sair das tesourarias dos bancos e seguradoras. O valor será gerado pelo relacionamento com os clientes.

Antes, muitos bancos e seguradoras geravam ganhos com o dinheiro aplicado pelas suas tesourarias. Agora, com a queda da taxa de juros, os incentivos do Banco Central para maior competição no sistema, como o Open Banking, os bancos serão espremidos. Os spreads virão de quem conhecer profundamente os clientes, das áreas de CRM, Big Data, omnichannel. E a Wiz é uma máquina de conhecer e se relacionar com clientes. Não somos uma seguradora, nem um banco, e nunca seremos.

MT – A maior parte da receita da Wiz ainda vem da área de seguros, mas a empresas está se diversificando. Qual será o peso do mercado de seguros, no longo prazo, para a companhia?
Peixoto – Atualmente, cerca de 80% da receita vem da área de seguros, 10%, de consórcios, e 10%, de crédito e correlatos. Nossa vertente continuará sendo seguro e crédito. No passado, os produtos de investimento eram vendidos apenas por bancos. Depois, empresas como a XP romperam esse modelo, ao oferecer produtos de várias instituições. É o que queremos fazer no mercado de crédito e de seguros.

Além disso, queremos estar em vários balcões. Se você vai comprar um carro, por que o vendedor já não pode lhe vender também o seguro? No crédito imobiliário, é a mesma coisa. Você contrata um corretor para comprar um imóvel. Depois, precisa reunir a papelada, procurar um banco e conseguir o financiamento. Por que o próprio corretor não vende também esse produto de crédito? No longo prazo, queremos permitir que adquirir seguros ou crédito imobiliário seja tão fácil, quanto alguns cliques. Queremos transformar as imobiliárias em agências bancárias.

Imóveis setor imobiliário
Finanças embutidas: Wiz quer transformar imobiliárias em agências bancárias (Imagem: REUTERS/Nacho Doce)

MT – Quais são os desafios para entrar no mercado de crédito imobiliário?
Peixoto – Ainda estamos estruturando a operação. Avaliamos se desenvolveremos todas as soluções internamente, ou se é melhor adquirir alguma empresa que nos ajude. Mas o maior desafio é a comodidade para contratar um financiamento imobiliário. Acreditamos que os atuais modelos de garantia para aluguel e de crédito imobiliário são muito ineficientes. É muito cheio de amarras.

Queremos transformar imobiliárias em agências bancárias. Por que a pessoa não pode alugar o imóvel e já contratar o seguro fiança para não precisar de fiador? Por que não procurar um imóvel para comprar e o contratar o financiamento com o próprio corretor?

MT – Além do mercado imobiliário, há outros setores no radar da Wiz?
Peixoto – No longo prazo, não agora, vemos muito potencial nos mercados de utilities, varejo e telecom. Imagine se sua conta de luz viesse com uma oferta para seguro-desemprego, por exemplo? Você contrataria o produto para cobrir alguns meses da conta, caso fique desempregado. A mensalidade seria descontada da própria conta.

Ou, então, um plano de previdência. Se eu sei o bairro em que você mora e o valor médio da sua conta de água ou luz, então, posso saber também seu perfil de renda e oferecer um produto adequado. Ou um seguro residencial. Uma linha de crédito. A mesma coisa pode ser feita com as operadoras de telefonia, com a vantagem de que o mobile permite conhecer ainda mais os hábitos dos clientes, por causa da geolocalização. Se eu constato que você viaja muito, posso oferecer um seguro-viagem, por exemplo.

MT – Qual é o balanço que você faz de 2021, até agora?
Peixoto – Tem sido um ano muito importante, mas cheio de desafios. Por diversos fatores internos e externos, a Wiz foi muito desafiada nos últimos tempos. A ação caiu de R$ 16 para R$ 6, e voltou para R$ 11, devido à toda turbulência externa e interna.

Mas a força do time da Wiz, seu comprometimento com a retomada do crescimento mostra que estamos vivos, fortes e preparados. Uma coisa que conversamos muito internamente, e que virou um slogan interno, é “Never bet against Wiz” (“Nunca aposte contra a Wiz”). Talvez, a gente leve esse slogan para o mercado.

Diretor de Redação do Money Times
Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
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Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
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