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Entrevista: “Fundos de crédito privado podem render 7% neste ano”, diz CEO da Sparta

08 abr 2021, 17:47 - atualizado em 08 abr 2021, 17:47
Sede da gestora Sparta
Normalização: início de ciclo de alta da Selic já atrai investidores para fundos de crédito, segundo a Sparta (Imagem: Divulgação/ Sparta)

Com um patrimônio de R$ 3 bilhões sob gestão, a Sparta enxerga um cenário mais favorável neste ano para os fundos de investimento focados em títulos de crédito corporativo. “Projetamos retornos nominais de 7%, ou de 2 a 3 pontos percentuais acima do CDI”, afirma Ulisses Nehmi, CEO da gestora.

Para Nehmi, os investidores ainda têm uma boa janela de entrada nesses produtos, já que os papéis de dívidas privadas ainda não se recuperaram totalmente da queda causada pela conjunção da redução da Selic ao menor patamar da história (2%) com a pandemia de coronavírus.

“Eu costumo dizer que é como comprar a Bolsa em 80 mil pontos”, explica o gestor. “O Ibovespa já se recuperou, mas os fundos de crédito ainda estão se recuperando”.

Emprestar dinheiro para empresas, num momento de incerteza econômica, pode dar frio na barriga, mas Nehmi afirma que isso pode ser um bom negócio, desde que alguns cuidados sejam observados. Entre eles, investir em companhias com uma sólida nota de risco e que atuem em setores mais imunes a oscilações de demanda, como as empresas do setor elétrico.

Veja, a seguir, os principais trechos da conversa com Money Times.

Money Times – Entre o fim do ano passado e o começo deste, a Standard&Poor’s e a Fitch divulgaram relatórios em que expressam o receio de uma piora no mercado de crédito privado no Brasil. Os investidores devem se preocupar?
Ulisses Nehmi – Tipicamente, empresas com notas de risco piores têm mais chances de serem afetadas por problemas de crédito em momentos de crise. Uma nota AAA significa que mesmo um ciclo econômico ruim não deve afetar as métricas de crédito da empresa.

Alguns podem dizer que a inadimplência dos consumidores e das pequenas e médias empresas acaba impactando as grandes companhias. Mas essas empresas maiores têm muito cuidado com o risco de crédito de seus clientes.

É preciso lembrar ainda que, na estrutura de capital de uma empresa, os credores têm prioridade sobre os acionistas. O acionista só receberá alguma coisa, depois que todos os credores são pagos.

MT – O cenário de 2021 é melhor que o de 2020?
Nehmi – 2020 foi um ano muito desafiador. Quando a pandemia começou, houve um medo enorme no mercado, que levou a grandes quedas da Bolsa. Os títulos de dívidas corporativas também chacoalharam. Havia também muito dinheiro alocado em crédito corporativo que não deveria estar lá.

Antes de 2020, com a grande liquidez do mercado, muitos fundos de bancos com liquidez de D+0 ou D+1 começaram a aportar recursos em crédito privado, mas essa é uma porta estreita, não dá para todo mundo sair junto. Quando a pandemia chegou e todo mundo quis sair, os fundos sofreram. A parte boa é que não houve nenhuma quebradeira das empresas que compõem as carteiras dos fundos. Não houve nenhuma renegociação forçada na nossa carteira.

A queda dos fundos permitiu que a gente comprasse títulos com bons descontos. Normalmente, os papéis são negociados por 1 ponto acima do CDI. Pudemos comprar títulos com 4 ou 5 pontos. Outra forma é olhar para o duration do papel. Vimos títulos mais longos com 15% de desconto.

Outro fator foi a redução excessiva da Selic. A taxa acabou ficando abaixo da inflação, e tudo que era atrelado ao CDI e inflação ficou muito distorcido. Os ativos de crédito demoraram para se recuperar. A Bolsa se recuperou em nove meses, mas alguns fundos ainda sentem esse efeito.

MT – Qual será o impacto da alta da Selic neste ano?
Nehmi – Com a pressão inflacionária, o BC sabe que precisa ancorar as expectativas. Para isso, precisa voltar a um patamar normalizado de juros. Não é uma alta para dois dígitos; é algo como 6% ao ano, para uma inflação de 5%.

Com uma Selic mais adequada, o mercado de crédito privado começa a voltar. Quando a Selic caiu para 2% ao ano, alguns investidores disseram que não queriam mais papéis atrelados a juros, mas quem investiu lá atrás obteve retornos de 8%. Foi 2 a 4 vezes mais que o CDI.

A beleza desse mercado é que, ao contrário das ações, que não têm prazo de vencimento, os títulos de dívida têm, e o preço converge para o que a empresa se comprometeu a pagar no resgate. Então, se você segurar o papel até lá e não houver nenhum problema de inadimplência com o emissor, consegue bons lucros.

Eu costumo dizer que investir em fundos agora é como comprar a Bolsa em 80 mil pontos. O Ibovespa se recuperou, e os títulos vão se recuperar. Projetamos retornos nominais de 7% para este ano, o equivalente a 2 ou 3 pontos acima do CDI.

Ulisses Nehmi, CEO da Sparta
Índice futuro: “investir em fundos agora é como comprar a Bolsa em 80 mil pontos”, diz Nehmi (Imagem: Divulgação/ Sparta)

MT – Os gestores de fundos de ações falam muito, ultimamente, em rotação setorial. O mercado de crédito passa por algo parecido?
Nehmi – Há alguns setores que sempre são interessantes manter na carteira, mas, em crédito, é melhor diversificar. As rotações são menores. É claro que há casos específicos, como papéis do setor de turismo, que foram visivelmente prejudicados pela pandemia.

Mas a maior parte das empresas que acessa o mercado de crédito é líder em seu setor ou atua num mercado regulado. Em todo o mundo, se você olhar os fundos de crédito, verá que as empresas de energia elétrica são as que têm maior peso.

Elas demandam muito capital para investimentos. Além disso, o fato de serem reguladas reduz o risco setorial de forma significativa, o que é bom para o crédito, porque reduz o custo das operações. Outro setor é o financeiro, que também lida com uma regulação bem rígida do Banco Central.

Fora dos mercados regulados, muito antes de se falar em ESG, as empresas com boa governança são um destaque, porque conseguem mais acesso ao mercado de capitais.

MT – Como está o portfólio da Sparta?
Nehmi – Acompanhamos cerca de 150 emissores de dívidas desde que surgimos, há 10 anos. Conhecemos bem cada empresa, e o melhor momento de comprar ou vender títulos, prazos, spreads etc.

No mercado de renda fixa, não tem só papel atrelado a CDI. Então, tem que fazer muita conta para saber se é melhor trocar inflação por juros, por exemplo. Em títulos longos, trabalhamos muito com debêntures incentivadas, que, obrigatoriamente, são atreladas ao IPCA. A dinâmica é um pouco diferente.

MT – A Sparta tem R$ 3 bilhões sob gestão e lançou novos fundos recentemente, como o de crédito agrícola e o para operadoras de planos de saúde. Há uma meta de crescimento de patrimônio para 2021?
Nehmi – Não temos uma meta. Antes da crise, tínhamos R$ 5 bilhões, mas muitos investidores resgataram seu dinheiro. Já percebemos que a demanda voltou a ficar mais forte. Por isso, não seria impossível pensar que voltaremos aos R$ 5 bilhões dentro de dois anos.

Em todo o mundo, quando os juros baixam, a indústria de capitais floresce. O Brasil está passando por um processo de amadurecimento. Ainda há muito espaço para o mercado crescer.

Diretor de Redação do Money Times
Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
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Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
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