Entrevista

Entrevista: Investidor deve evitar previsões para final do ano, diz Rafael Panonko

03 jan 2017, 13:36 - atualizado em 05 nov 2017, 14:08

Toro Radar

Os investidores sempre buscam os melhores momentos de entrada e saída do mercado de ações, mas acertar esses pontos de fundo e topo são muito difíceis para o investidor pessoa física. Essa tarefa, contudo, é mais fácil na teoria do que na prática. É esse o alerta que o chefe da área de análise da Toro Radar, Rafael Panonko, faz para quem deseja participar do mercado em uma economia conturbada envolvida em escândalos políticos sem precedentes. É muito importante antes de tomar a decisão de investir, segundo ele, conhecer seu perfil e definir uma estratégia, seja de longo prazo, curto prazo, ou até mesmo de day trade.

“É muito difícil para o investidor pessoa física comprar no fundo do mercado. No início de 2016, por exemplo, a mídia reportava muito sobre a grande crise, que a Petrobras poderia quebrar – quando a ação bateu R$ 5. Mas quem comprou ali? Dificilmente alguém tem estômago para entrar nesse momento”, afirma Panonko em entrevista concedida ao Money Times. Confira, abaixo, a íntegra da conversa:

2016 foi péssimo para muita gente, mas na Bolsa não foi assim, por quê?

No final de 2015, o investidor só via pela sua frente um cenário pessimista e nebuloso. Tínhamos uma investigação gigante envolvendo a Petrobras no maior escândalo de corrupção do país e tudo indicava que 2016 seria muito ruim. Mas o ano começou com a alta nas commodities e, aos poucos, o amadurecimento do processo de impeachment, que era ainda uma especulação, ganhou força. Deste modo, o mercado fez posições acreditando nesse cenário e, posteriormente, acertou com a mudança do governo.

O governo de Michel Temer tomou posse e propôs algumas reformas importantes, colocando em pauta as discussões que podem recolocar o país na linha do crescimento e gastar menos do que se arrecada. Isso tudo se refletiu no apetite dos investidores pelo mercado de ações. Vimos o dólar convergir para uma zona que faz sentido atualmente para a economia entre R$ 3,20 e R$ 3,50. Ninguém previa tudo isso.

Em 2017 podemos ser surpreendidos novamente?

No curto prazo o ano de 2017 inicia em tendência de baixa para o Ibovespa. O envolvimento do governo com a corrupção, sendo citado nas delações traz incertezas e o mercado não gosta dessas incertezas aproveitando oportunidade para realizar posições abertas em 2016. Contudo, se as reformas propostas forem aprovadas teremos um médio a longo prazo altista, com a retomada do crescimento da economia brasileira.

Já no cenário externo, com a posse do novo presidente norte-americano Donald Trump, também temos um cenário de incertezas. Não sabemos se as medidas de campanha vão ser efetivadas ao pé da letra. O seu discurso com tom mais conciliador e pacífico trouxe um alívio para os mercados, que segue em tendência de alta. Não acredito que ele consiga ser muito extremista em suas propostas, apostamos na aceleração do crescimento dos EUA.

Quais setores podem se destacar?

Se efetivada as mudanças fiscais, é bom ficar de olho no consumo e no varejo. Apesar do mercado ter preferência e gostar bastante do setor bancário, a queda da inflação e da taxa de juros, aliados com o crescimento econômico e redução do desemprego, irão tornar o setor de consumo/varejo mais atrativo e como um todo deve performar melhor do que o Ibovespa, caso isso realmente ocorra.

Alguma queridinha?

Não olho uma ação em específico agora, olhamos mais para os setores da economia.

Qual é a lição que 2016 passa para o investidor?

Acho importante destacar que é muito difícil para o investidor pessoa física comprar no ponto exato do fundo do mercado. No início de 2016, por exemplo, a mídia reportava muito sobre a grande crise, que a Petrobras poderia quebrar – quando a ação bateu R$ 5. Mas quem comprou ali? Dificilmente alguém tem estômago para entrar nesse momento.

Quando a gente vê sinais de melhora, o fluxo de capitais cresce e conseguimos identificar pontos ideais de entrada. Ainda vejo a Bolsa agora com bons olhos, o rompimento da região de 65 mil pontos do Ibovespa pode sinalizar outro forte movimento altista. Quem entrar agora não pode ficar pensando se vai cair 5% ou 10%, tem que buscar uma carteira diversificada, com visão de longo prazo e sempre tentar se proteger de movimentos de queda. O investidor que for mais conservador e não quiser correr riscos pode montar uma posição estruturada. Já o mais arrojado pode buscar uma carteira mais agressiva e aproveitar as oscilações diárias para lucrar com operações de curto prazo. Por isso é importante definir o seu perfil de investidor para não ficar desconfortável com uma posição na oscilação rotineira do mercado.

O primeiro semestre de 2017 reserva muitas novidades. Mais do que buscar previsões é necessário definir uma estratégia para o cenário atual e acompanhar de perto o mercado buscando as melhores oportunidades. O ano promete ser desafiador, mas boas oportunidades aparecerão.

Fundador do Money Times | Editor
Fundador do Money Times. Antes, foi repórter de O Financista, Editor e colunista de Exame.com, repórter do Brasil Econômico, Invest News e InfoMoney.
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