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Esqueça o Copom e a Selic: Ativos atrelados à inflação são a melhor aposta agora, dizem analistas

27 out 2021, 15:13 - atualizado em 27 out 2021, 16:48

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A “licença para gastar” do ministro Paulo Guedes agravou o quadro de deterioração fiscal, levando investidores e especialistas do mercado a aprofundarem a percepção de que o momento é de buscar proteção contra a inflação.

Ao longo dos últimos dias, os contratos DIs, que servem de referência para as expectativas sobre juros, dispararam, em um reflexo da expectativa dos investidores de que o risco sobre as contas públicas provoque uma fuga de capital estrangeiro.

A saída de dólares tende a agravar a alta dos preços, o que obrigaria o Banco Central a aumentar o ritmo da alta da taxa de juros, a Selic — e, com isso, a remuneração sobre o dinheiro. O risco fiscal aparece em todo comunicado recente do Comitê de Política Monetária (Copom), do BC.

A autoridade monetária decide, nesta quarta-feira (27), a nova taxa básica de juros, com as apostas do mercado concentradas em uma elevação de 1,25 ponto percentual a 1,5 pp — o que levaria a Selic, hoje em 6,25%, para 7,50% ou 7,75%.

A volta da renda fixa

O investidor que, até poucos meses atrás, ouvia que o melhor era diversificar os recursos com o mercado de ações, agora tem um cenário em que mesmo o investimento em bolsa deve levar o componente da inflação mais a fundo — com empresas que têm contratos atrelados ao IPCA ou que conseguem repassar a alta dos preços, por exemplo.

“É o renascimento, com muita força, da renda fixa”, resume o analista e consultor Beto Assad, da plataforma de investimentos Kinvo.

Assad destaca que todos os Títulos Tesouro IPCA+ já têm um rendimento real acima de 5%, em um cenário em que a inflação em 12 meses chega a 10,15%. “Prefiro no momento ser mais conservador e me proteger, porque a gente ainda não sabe onde os preços vão parar”, comenta.

Veja como as taxas para o Tesouro IPCA+ apareciam no site do Tesouro Direto nesta terça:

Título Rentabilidade anual Vencimento
TESOURO IPCA+ 2026 IPCA + 5,18% 15/08/2026
TESOURO IPCA+ 2035 IPCA + 5,33% 15/05/2035
TESOURO IPCA+ 2045 IPCA + 5,33% 15/05/2045
TESOURO IPCA+com juros semestrais 2030 IPCA + 5,29% 15/08/2030
TESOURO IPCA+com juros semestrais 2040 IPCA + 5,35% 15/08/2040
TESOURO IPCA+com juros semestrais 2055 IPCA + 5,41% 15/05/2055

Por que o IPCA

O Tesouro IPCA+2026, o prazo mais curto, estava nesta terça-feira (26) com a rentabilidade anual de o índice oficial de inflação somado a uma taxa de 5,18%.

O prefixado 2024 oferecia um rendimento de 11,69% e o Tesouro Selic 2024 de taxa básica de juros mais 0,1208%.

O investidor pode ganhar dinheiro no curto prazo com o pré-fixado, aproveitando a alta da curva de juros — os DIs são negociados a cerca de 8,5% e 11,50% para janeiro de 2022 e janeiro de 2023, respectivamente.

A questão é que, a depender da decisão do Copom nesta quarta, a alta pode desacelerar novamente, diminuindo o spread entre a Selic real e a expectativa futura.

Veja como as taxas para o Tesouro prefixado e Selic nesta terça:

Título Rentabilidade anual Vencimento
TESOURO PREFIXADO 2024 11,69% 01/07/2024
TESOURO PREFIXADO 2026 11,75% 01/01/2026
TESOURO PREFIXADO com juros semestrais 2031 11,96% 01/01/2031
TESOURO SELIC 2024 SELIC + 0,1208% 01/09/2024
TESOURO SELIC 2027 SELIC + 0,2650% 01/03/2027

O planejador financeiro e consultor de valores imobiliários Helio Fugagnoli Neto recomenda que o investidor com perfil mais agressivo acompanhe o IPCA e aos poucos comece a direcionar os recursos a um pré-fixado de dois anos.

Títulos atrelados ao IPCA podem apanhar no curto prazo com o nervosismo dos investidores, em um efeito conhecido como marcação a mercado: as taxas embutidas nos ativos cobradas pelo mercado aumentam, derrubando o preços dos papéis para quem quer vender o ativo antes do vencimento.

É o que acontece neste ano com o Tesouro IPCA+ 2045, por exemplo, que acumula uma queda de cerca de 30%. Quem decidir vender agora, perde dinheiro. “O ideal é manter aplicado o investimento até o vencimento e deixar para os profissionais a operação no curto prazo”, diz Fugagnoli.

O especialista recomenda não tirar dinheiro do que já está investido, mas balancear a carteira com os próximos aportes.

CDBs, LCIs e LCAs também podem surfar com a inflação

A dinâmica sobre o IPCA é valida para qualquer remuneração pós-fixada, incluindo os CDBs, lembra o economista e sócio da BRA Investimentos, João Beck.

O especialista recomenda buscar por certificados de bancos disponíveis em grandes plataformas, mas respeitando o limite de R$ 250 mil que é coberto pelo FGC (Fundo Garantidor de Crédito).

Beck cita o CDB de grandes bancos – Bradesco, Banco do Brasil, Itaú – cujo risco de crédito é muito baixo, mas também diz para notar o rating de classificação de risco de instituições menores – que são aquelas que tendem a oferecer CDBs com rendimentos mais parrudos. 

A dica valeria para LCIs (Letra de Crédito Imobiliário) e LCAs (Letra de Crédito do Agronegócio), já que os emissores são os mesmos. O que muda é o setor para o qual os recursos são direcionados.

LCI e LCA ainda têm isenção da cobrança de Imposto de Renda, ao contrário dos CDBs (22,5% a 15% sobre a valorização) – o que não garante que os LCIs e LCAs sejam sempre a melhor opção: deve-se levar em conta o vencimento e tipo de remuneração.

CDB e LCI estão sujeitos à cobrança de Imposto sobre Operações Financeiras, para investimentos resgatados a um período menor que o de 30 dias.

E as ações?

Em meio a uma queda acentuada do Ibovespa e a volatilidade dos últimos dias, é natural esperar que fundos multimercados tenham uma performance ruim, diz Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos.

Ele lembra que em um cenário de alta da taxa de juros, empresas como seguradoras, bancos e companhias de transmissão/distribuição/geração de energia tendem a se beneficiar. As duas primeiras com o encarecimento do crédito e a terceira com o repasse de preços.

“São companhias que não terão grande impacto na receita”, diz Costa.

Na outra ponta, ficam empresas que dependem de crédito, como construtoras, e companhias cuja expectativa de crescimento está mais distante – notadamente as techs. Mas o especialista defende a necessidade de se ter ações. “São um ativo real e se valorizam”, comenta.

Costa também lembra a necessidade de se alocar recursos no exterior, que não está suscetível ao risco-Brasil e tem uma base maior de companhias listadas.

Editor
Jornalista formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), com MBA em finanças pela Estácio. Colaborou com Gazeta do Povo, Estadão, entre outros.
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