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Estrangeiro veio para ficar? O que esperar do fluxo externo no mercado brasileiro de ações após saldo positivo de março

03 abr 2025, 13:26 - atualizado em 03 abr 2025, 13:26
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Juanmonino/Istock

Analistas do mercado financeiro esperam que abril siga registrando a entrada de investimento estrangeiro na Bolsa brasileira, depois de o mês anterior ter apresentado um saldo positivo de R$ 3,1 bilhões. No entanto, eles lembram que as tarifas impostas pelos Estados Unidos podem gerar volatilidade nos próximos meses.

Para o investidor local, a recomendação é diversificar a carteira, mantendo parte da exposição dolarizada e investindo em empresas sólidas e boas pagadoras de dividendos. Além disso, títulos de renda fixa atrelados ao CDI ou à inflação podem ser boas opções para um horizonte de três a quatro anos.

Investidores estrangeiros acumulam superavit de R$ 10,6 bilhões neste ano. O saldo de recursos de investidores individuais ficou negativo em março, a R$ 162,1 milhões, mas acumulando saldo positivo no ano de R$ 1,3 bilhão.

O diretor de renda variável na W1 Capital, Tales Barros, ressalta que o fluxo de capital estrangeiro também possui um viés especulativo, mas afirma que a Bolsa brasileira em dólar segue “bem atrativa, o que agrega um viés de fundamento construtivo também”.

O economista da casa de análises Top Gain, Bruno Cotrim, diz esperar que em abril a Bolsa tenha um fluxo estrangeiro positivo, mas menos intenso do que em março, quando o movimento contribuiu para a alta de 6% do Ibovespa.

“O investidor estrangeiro entra ainda pela ponta da renda fixa, comprando títulos mais baratos. Esse movimento, a meu ver, deve se estender apenas no médio prazo”, afirma.

O professor da ESPM, Jorge Ferreira dos Santos Filho, sublinha que, apesar do saldo positivo, houve saída de recursos da B3, e afirma que o investidor segue atento à desaceleração econômica global e brasileira.

Setores que podem se beneficiar

Empresas com custos e endividamento em dólar, como aviação e turismo, podem se beneficiar da entrada de capital estrangeiro, assim como indústrias que importam matérias-primas, como a alimentícia e farmacêutica, segundo Barros, da W1 Capital.

Para Cotrim, o foco está em setores descontados, como agro, serviços e varejo, que ainda apresentam perspectivas de crescimento. Ele alerta que setor de construção ainda pode enfrentar dificuldades devido aos juros elevados.

Jorge Ferreira reforça que setores ligados à exportação, commodities e infraestrutura também tendem a manter atratividade. Ele observa que “a economia brasileira é muito sujeita ao cenário global”, e que as tarifas de Donald Trump podem afetar o desempenho da Bolsa no curto prazo.

Dólar pode se desvalorizar?

A rotação de ativos americanos para mercados emergentes e a atratividade da Bolsa brasileira podem incentivar a entrada de moeda estrangeira, segundo analistas.

O professor da ESPM lembra que uma possível redução dos juros nos EUA pode incentivar investidores a buscarem mercados emergentes, o que favoreceria a valorização do real.

Contudo, ele alerta que um possível desequilíbrio na balança comercial, devido às tarifas, pode limitar esse efeito.

Em relatório, o banco Inter avaliou que a dinâmica do dólar ainda vai depender do como os outros países responderão às tarifas impostas pelos EUA. “Caso o impacto das tarifas seja extenso, criando incertezas e desaceleração da economia, a tendência é observar a continuidade do movimento de depreciação do dólar”, disse o economista sênior do banco, André Valério.

“A reação do mercado [ontem] aponta que a visão é de que as tarifas colocarão a economia americana em direção à recessão, com os juros de 10 anos recuando fortemente para em torno de 4,10%”, pontuou Valério.

Segundo o economista, o real deve ser pouco impactado. “O efeito sobre a balança comercial brasileira deve ser pequeno, uma vez que o fluxo comercial do Brasil com os Estados Unidos não é o mais relevante”.

Estratégias para investidores locais

A W1 Capital sugere manter parte da carteira dolarizada e focar em empresas sólidas e boas pagadoras de dividendos, considerando proteção por meio de opções.

A Top Gain fala em aguardar uma direção mais clara do mercado antes de tomar decisões na renda variável, aproveitando oportunidades em ativos descontados. Para renda fixa, a casa sugere títulos atrelados ao CDI e, para quem busca prazos mais longos, papéis híbridos indexados à inflação.

Já o professor da ESPM reforça a importância da diversificação e destaca que setores como exportação e energia elétrica podem ser boas apostas, com a primeira se beneficiando da receita dolarizada e a segunda pelo pagamento de dividendos.

 

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Editor
Jornalista formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), com MBA em mercado financeiro. Colaborou com revista Veja, Estadão, entre outros.
kaype.abreu@moneytimes.com.br
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Jornalista formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), com MBA em mercado financeiro. Colaborou com revista Veja, Estadão, entre outros.
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