Internacional

EUA e Europa em lados opostos de finalistas pelo comando da OMC

21 out 2020, 8:22 - atualizado em 21 out 2020, 8:22
Roberto Azevêdo OMC
A OMC planeja indicar um novo nome para a direção-geral no próximo mês para substituir Roberto Azevêdo, que deixou o cargo no fim de agosto (Imagem: Reuters/Denis Balibouse)

A escolha da primeira mulher para comandar a Organização Mundial do Comércio entra na fase final, e Estados Unidos e Europa estão perto de um confronto sobre suas candidatas preferidas para liderar a instituição.

A União Europeia está inclinada a apoiar Ngozi Okonjo-Iweala e pode confirmar essa posição na quarta-feira, disseram pessoas a par do processo. Outros observadores dizem que o governo Trump prefere Yoo Myung-hee, da Coreia do Sul. Ao mesmo tempo, a preferência da China e de outras economias importantes, como Brasil e Índia, não está clara.

A OMC planeja indicar um novo nome para a direção-geral no próximo mês para substituir Roberto Azevêdo, que deixou o cargo no fim de agosto, um ano antes do término de seu mandato. Ele foi o sexto homem consecutivo a liderar a organização fundada há 25 anos.

O processo ainda está repleto de incertezas políticas. A eleições presidenciais nos EUA em duas semanas podem trazer um novo governo que altere os planos do país para a OMC, a qual o presidente Donald Trump tem criticado como uma ferramenta para globalistas que teriam permitido a ascensão econômica descontrolada da China.

Se Trump vencer, seus assessores indicaram planos para continuar a remodelar a OMC com um escopo mais estreito para resolver disputas comerciais.

“Não devemos descartar a possibilidade de que isso possa terminar em um impasse e que um resultado terá que esperar pela eleição dos EUA e o que o próximo governo decidir fazer”, disse Rufus Yerxa, que atuou como vice-diretor-geral da OMC de 2002 a 2013 e agora dirige o Conselho Nacional de Comércio Exterior, um grupo empresarial com sede em Washington que representa empresas dos EUA.

Um porta-voz do Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR) não respondeu a um pedido de comentário.

Donald Trump
Se Trump vencer, seus assessores indicaram planos para continuar a remodelar a OMC com um escopo mais estreito para resolver disputas comerciais (Imagem: Facebook/Donald Trump)

Embora poucos países estejam dizendo publicamente qual das duas mulheres apoiam, o processo requer consenso dos 164 membros da OMC, o que significa que um único país poderia bloquear Yoo ou Okonjo-Iweala. Para complicar ainda mais o quadro, há a questão das alianças comerciais da África à Ásia, afetadas por três anos de guerras tarifárias e sentimento protecionista, que foi intensificado pela pandemia de Covid-19.

Yoo tem encontrado dificuldade, por exemplo, para garantir o apoio do Japão, parceiro comercial e rival da Coreia do Sul. A deterioração das relações comerciais entre as duas potências exportadoras pesou inicialmente na campanha de Yoo e continua sendo uma consideração importante na última fase da corrida.

Em entrevista na sexta-feira, Yoo reconheceu que a batalha pode ser difícil. “Todo mundo adora uma história de azarão”, disse. “Acredito que ganhei a confiança dos membros por meio de meu trabalho árduo, suor, perseverança e sinceridade. Vou continuar a fazer isso.”

A UE teve papel importante na rodada anterior da disputa, quando o bloco de 27 nações selecionou Yoo e Okonjo-Iweala como candidatas preferidas para a fase final.

Isso efetivamente afundou a candidatura de Amina Mohamed, do Quênia, que era vista como uma das primeiras favoritas na disputa.

Desde que a lista foi reduzida para duas candidatas no início do mês, Yoo e Okonjo-Iweala têm trabalhado nos bastidores para buscar apoio. Entre as moedas de troca que podem oferecer aos países que as endossam: empregos para seus cidadãos como um dos quatro vice-diretores-gerais da OMC.

Okonjo-Iweala, que por duas vezes foi ministra das Finanças da Nigéria e também ministra de Relações Exteriores, se posicionou como uma “outsider” – alguém que nunca trabalhou na OMC ou liderou uma negociação de acordo comercial. Na semana passada, ela pediu o retorno a “um sistema multilateral.

Vamos fortalecer isso; é o que servirá ao mundo e vamos reduzir as disputas bilaterais que estamos vendo”, disse em painel virtual na quinta-feira.

Okonjo-Iweala tem forte apoio de grupos como a União Africana, de 55 membros, da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental e da Organização dos Estados da África, do Caribe e Pacífico. Se esses endossos forem mantidos, Okonjo-Iweala terá obtido votos da maior parte do continente africano.

Mas Okonjo-Iweala é vista por pessoas a par da posição de Robert Lighthizer, representante de Comércio dos EUA, como muito próxima de internacionalistas pró-comércio em Washington, como Robert Zoellick, ex-USTR e ex-presidente do Banco Mundial. Okonjo-Iweala, que trabalhou como executiva sênior sob o comando de Zoellick no Banco Mundial de 2007 a 2011, era candidata para substituí-lo quando ele deixou o cargo em 2012.

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