Política

EUA revogam vistos de membros do governo brasileiro por participação no programa Mais Médicos

14 ago 2025, 5:51 - atualizado em 14 ago 2025, 5:51
trump tarifa EUA Brasil
Governo de Donald Trump amplia sanções contra autoridades brasileiras (Imagem: REUTERS/Kevin Lamarque)

O Departamento de Estado dos Estados Unidos tomou medidas para revogar e restringir os vistos de vários funcionários do governo brasileiro, ex-funcionários da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e seus familiares, disse o secretário de Estado, Marco Rubio, em um comunicado nesta quarta-feira, alegando cumplicidade com o “trabalho forçado” do governo cubano por meio do programa Mais Médicos do Brasil.

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No comunicado foi apontada a revogação dos vistos de Mozart Julio Tabosa Sales e Alberto Kleiman, apontados como tendo responsabilidade pela implementação do programa, em 2013, durante o governo de Dilma Rousseff (PT).

Rubio disse ainda que autoridades da África, de Cuba e de Granada também tinham sido afetadas, mas sem nomeá-las.

Procurados, a Presidência da República e o Ministério das Relações Exteriores não comentaram a suspensão de vistos dos brasileiros num primeiro momento.

Sales e Kleiman eram na época, respectivamente, secretário de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde e assessor internacional do Ministério durante a gestão de Alexandre Padilha, que hoje está de novo à frente do ministério. Na função, Sales era o responsável pela implementação e coordenação do programa. Já Kleiman atuava na relação com o governo cubano.

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Atualmente, Sales está de volta ao governo, hoje como secretário de Atenção Especializada à Saúde. Já Kleiman trabalhou com Padilha na Secretaria de Relações Institucionais, onde era assessor internacional na área de assuntos federativos, e depois assumiu o cargo de coordenador de Projetos da COP30.

Em publicação nas suas redes sociais, Rubio afirma que as sanções são direcionadas a indivíduos responsáveis pelo programa “explorador de exportação de mão de obra de Cuba”.

“O Departamento de Estado também está tomando medidas para revogar vistos e impor restrições de visto a vários funcionários do governo brasileiro e ex-funcionários da Opas cúmplices do esquema de exportação de trabalho forçado do regime cubano. O Mais Médicos foi um esquema diplomático inescrupuloso de ‘missões médicas’ estrangeiras”, escreveu Rubio.

Mais tarde, Padilha disse que o Mais Médicos “sobreviverá aos ataques injustificáveis de quem quer que seja”.

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“Não nos curvaremos a quem persegue as vacinas, os pesquisadores, a ciência e, agora, duas das pessoas fundamentais para o Mais Médicos na minha primeira gestão como ministro da Saúde, Mozart Sales e Alberto Kleiman”, disse Padilha no X.

Médicos onde falta atendimento

Criado em 2013, o programa brasileiro visa enviar médicos pagos pelo governo federal para locais que não conseguem contratar por conta própria, seja em cidades pequenas e distantes dos principais centros, seja na periferia de grandes cidades.

À época da sua criação, sem conseguir médicos brasileiros e estrangeiros suficientes, o governo federal assinou um contrato com o governo cubano para que médicos do país viessem trabalhar no Brasil.

A opção da então presidente Dilma Rousseff foi extremamente criticada pelas entidades médicas no país e os cubanos chegaram a ser hostilizados em vários locais.

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O contrato com Cuba foi encerrado em novembro de 2018, depois que o então presidente eleito Jair Bolsonaro afirmou que os cubanos só poderiam ficar no país, quando ele assumisse o governo, se todos fizessem o Revalida, o teste de equivalência do diploma de medicina no Brasil, e os salários passassem a ser integralmente pagos aos médicos — no contrato com Cuba, o pagamento era feito ao governo cubano, que repassa um salário aos seus médicos.

Depois de uma redução significativa no governo Bolsonaro, o programa voltou a crescer a partir de 2023, com uma nova reformulação e sem o contrato com Cuba. De acordo com a nova lei, a prioridade é dada para médicos brasileiros formados no Brasil, em primeiro lugar, em seguida para aqueles formados no exterior e depois, para estrangeiros.

Atualmente, segundo o Ministério da Saúde, existem cerca de 28 mil médicos no programa, recebendo salários de aproximadamente R$ 14 mil.

O governo cubano tem criticado duramente os esforços dos EUA para interromper as missões médicas, chamando-os de uma desculpa cínica para atacar suas receitas em moeda estrangeira.

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Líderes caribenhos já rejeitaram anteriormente as acusações dos EUA sobre exploração de trabalho cubano.

“A cooperação médica de Cuba continuará”, disse Johana Tablada, vice-diretora de assuntos com os EUA do governo cubano, no X.

“As prioridades dele (Rubio) dizem muito: financiar o genocídio de Israel na Palestina, torturar Cuba, atacar serviços de saúde para quem mais precisa”, escreveu Tablada.

Em fevereiro, o governo do presidente Donald Trump ampliou as restrições de visto para atingir autoridades consideradas ligadas ao programa cubano, que envia médicos ao redor do mundo desde a Revolução Cubana em 1959.

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O programa fornece moeda forte para a ilha, que enfrenta sua mais recente crise econômica.

Trump adotou uma política linha-dura contra Cuba, governada pelo regime comunista, e reverteu medidas do ex-presidente Joe Biden.

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A Reuters é uma das mais importantes e respeitadas agências de notícias do mundo. Fundada em 1851, no Reino Unido, por Paul Reuter. Com o tempo, expandiu sua cobertura para notícias gerais, políticas, econômicas e internacionais.
reuters@moneytimes.com.br
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