EUA veem falta de engajamento do Brasil em negociação sobre tarifaço de Trump

A Casa Branca avalia que o Brasil não demonstrou envolvimento efetivo nem apresentou propostas relevantes nas negociações para evitar o aumento das tarifas sobre produtos brasileiros anunciado por Donald Trump. O pacote, que inclui alíquota de 50%, deve entrar em vigor em 1º de agosto.
Segundo autoridades americanas, o governo brasileiro não se mobilizou de forma concreta e tampouco fez ofertas substanciais que indicassem disposição para um acordo. O Palácio do Planalto, por sua vez, argumenta que aguarda um posicionamento oficial de Washington para dar continuidade ao processo, e sustenta que já havia enviado propostas antes mesmo do anúncio da elevação tarifária.
Apesar das tentativas de contato da equipe econômica com autoridades americanas, os canais institucionais estariam travados. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, buscou falar com o secretário do Tesouro dos EUA, mas foi informado de que o processo está sob responsabilidade direta da Casa Branca. Já o vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, manteve diálogo com o secretário de Comércio, reforçando a disposição do Brasil para negociar.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o governo brasileiro tem feito tentativas diárias de contato, sem sucesso. Segundo ele, Alckmin tenta ligar para autoridades americanas, mas “ninguém quer atender”.
Negociadores brasileiros também relatam ter enviado cartas às autoridades americanas ainda em maio, com pedidos de isenção e concessões do lado brasileiro, quando as tarifas ainda estavam fixadas em 10%. Uma nova correspondência foi encaminhada na última semana, assinada por Alckmin e pelo chanceler Mauro Vieira, manifestando indignação com a medida e cobrando resposta dos EUA.
A justificativa apresentada por Trump para o aumento tarifário cita as investigações contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e questiona a liberdade de expressão no país — pontos que o governo Lula considera ofensivos à soberania nacional.
Com dificuldades no canal oficial, a estratégia do Brasil passa a focar no setor privado americano, que também será impactado pelas tarifas. A expectativa é que empresários pressionem Washington por um recuo.
Uma comitiva brasileira viajou na sexta-feira (25) aos EUA para tentar abrir um canal de negociação alternativa. No entanto, a viagem coincide com o recesso parlamentar no Congresso americano, o que limita a agenda política.
*Com informações da Folha de S. Paulo e G1