Even (EVEN3) quer se firmar como boa pagadora de dividendos e mira payout maior, diz CFO
A incorporadora Even (EVEN3) quer se tornar uma pagadora recorrente de dividendos e mira uma política de distribuição mais robusta, com payout de cerca de 50% do lucro líquido nos próximos anos.
O objetivo foi revelado pelo diretor financeiro da companhia paulistana (CFO), Marcelo Dzik, durante entrevista concedida nesta terça-feira (11) ao Money Times.
“A gente quer ser uma boa pagadora de dividendos recorrentes. Entregando bons resultados, vamos pagar cada vez mais”, afirmou o executivo.
Atualmente, o payout da empresa segue o mínimo legal, de 25%, conforme determina a Lei das S.A., mas Dzik adiantou que pretende distribuir acima desse patamar, de acordo com a geração de caixa e o ciclo operacional. Segundo ele, a intenção é consolidar a Even como uma grande pagadora.
“Devemos fechar este ano com mais de 25% de payout, mas queremos, com liberdade, definir isso ano a ano. A gente enxerga no longo prazo uma companhia pagadora de aproximadamente 50% dos lucros. A ideia é repassar dividendos relevantes tanto para pessoas físicas quanto para investidores institucionais”, disse.
Lucro de R$ 90 milhões
O discurso do CFO vem na esteira de um trimestre positivo. A incorporadora registrou lucro líquido de R$ 90 milhões no 3T25, revertendo o prejuízo de R$ 110 milhões apurado no mesmo período do ano anterior.
Dzik explicou que o resultado de 2024 havia sido impactado por um efeito contábil da venda das ações da Melnick, operação que marcou a saída definitiva da construtora gaúcha do portfólio da Even.
“Realizamos a venda da Melnick no ano passado, só que, como o mercado estava pagando o preço de tela pelos papéis, registramos um prejuízo nessa operação que consumiu o resultado que a gente tinha na operação. Se desconsiderássemos isso, teríamos tido R$ 38 milhões de lucro no 3T24”, afirmou.
Segundo o executivo, com a conclusão do desinvestimento, o foco da companhia passou a ser totalmente na capital paulista. “Hoje somos uma empresa 100% focada em São Paulo.”
Próximos resultados à vista
Entre julho e setembro, a receita líquida da Even cresceu 39,2% se comparada com o mesmo intervalo de 2024, para R$ 528,8 milhões, impulsionada pelo lançamento do Residencial São Paulo Bay, projeto de luxo com valor geral de vendas (VGV) de R$ 1,5 bilhão.
“O São Paulo Bay nasceu 50% vendido e ainda vai temperar positivamente o nosso balanço por muito tempo. É um projeto relevante, com longo ciclo de vendas e reconhecimento gradual de resultado”, destacou o CFO.
Margens pressionadas
Ao ser questionado sobre a queda nas margens brutas, que recuaram 3,3 pontos porcentuais em relação ao 3T24, para 37%, Dzik destacou que o movimento está relacionado ao mix de projetos, especialmente à venda do Hotel Faena.
“A gente teve a venda do Faena, em São Paulo, e o hotel é um produto que naturalmente tem uma margem menor. Mas, olhando o filme mais longo, há uma progressão consistente trimestre a trimestre. É parte normal da dinâmica da empresa, e o efeito será diluído ao longo do tempo.”
Queima de caixa e alavancagem
A Even encerrou o terceiro trimestre com R$ 813 milhões em caixa e dívida líquida de R$ 298 milhões, equivalente a 13% do patrimônio líquido.
A queima de caixa no período, de R$ 94 milhões, refletiu, de acordo com o executivo, o investimento em cinco novas aquisições de terrenos, que somam R$ 2 bilhões em potencial de VGV.
“Foi, sim, um 3T25 de queima de caixa. Trouxemos bons negócios para dentro de casa, e nossa alavancagem segue saudável. Até baixa demais, o ponto ótimo deve ficar entre 20% e 30%”, ressaltou.
Foco no alto padrão, mas com cautela
Perguntado sobre o cenário macroeconômico, Dzik reforçou que o segmento de alto padrão, foco atual da Even, tem se mostrado mais resiliente em meio ao cenário de juros altos.
“Esse cliente é menos dependente de financiamento e muitas vezes dolarizado, o que o protege de oscilações de curto prazo”, disse, ressaltando, no entanto, que a empresa adota um comportamento prudente.
“A nossa postura é sempre de cautela. Somos uma empresa experiente, com cabeça de longo prazo. Entendemos o país onde estamos e uma postura de lançar de maneira desenfreada não faz sentido”, alertou.
“A gente não acha que a chave é lançar a qualquer custo. A classe média é um público que depende mais do crédito, e o financiamento bancário segue restritivo. Por isso, estamos mais concentrados na alta renda.”