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Exclusivo: As armas mais vendidas no Brasil; Taurus (TASA4) lidera ranking

24 ago 2023, 16:14 - atualizado em 24 ago 2023, 17:59
Pistolas da Taurus na loja AMTT (Armas, Munições, Tiro e Treinamento), da Taurus Armas, em Brasília (DF).
Levantamento inédito realizado pelo Money Times mostra as armas mais vendidas para os CACs, principal público consumidor de armas no país. Na foto, pistolas da Taurus à mostra em loja oficial da empresa em Brasília (Imagem: Instagram/@amtt.oficial.df)

Com um impulso que começou em 2019, com decreto do governo Bolsonaro, o mercado de armas leves no Brasil registrou forte expansão. Afinal, foram liberados mais calibres para civis e a importação de equipamentos de outros países.

Assim, chegaram armas da Áustria, dos Estados Unidos, de Israel, da Itália, da República Tcheca, da Eslovênia, entre outros, para competir com as nacionais da Taurus (TASA4) e da CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos), maior acionista da fabricante gaúcha de armas.

Os estrangeiros ganharam espaço no varejo nacional, mas não conseguiram superar os preços e a oferta de produtos da Taurus e da CBC, que se mantiveram na liderança nacional da venda de armas.

O levantamento inédito feito pelo Money Times, obtido via LAI (Lei de Acesso à Informação), mostra um raio-X do acervo dos CACs (Caçadores, Atiradores e Colecionadores), maior mercado dessas empresas no país, que compraram quase 1 milhão de armas nos últimos quatro anos.

Os dados são do Sinarm (Sistema Nacional de Armas), da Polícia Federal, onde foram recadastradas 947 mil armas compradas depois de 2019, por ordem do governo Lula, decretada no início do ano.

O levantamento também traz um recorte sobre as vendas de empresas estrangeiras (veja no fim da reportagem), como a Glock, Sig Sauer, Beretta, Springfield, IWI, entre outras; e também de fabricantes nacionais que entraram recentemente no mercado, como Fire Eagle Armory e a parceria esloveno-brasileira para fabricar armas da Arex Defense, pela DFA Defense. Inclui também antigas empresas brasileiras que retomaram fôlego nesse período, como a fabricante gaúcha de espingardas Boito e a estatal Imbel.

As 10 armas mais vendidas no Brasil

O levantamento traz as 10 armas mais vendidas do país* entre as 947 mil armas adquiridas desde 2019. As fabricantes nacionais correspondem a 80% desses armamentos. Não entram na conta as armas que foram adquiridas para autodefesa, via Polícia Federal, nem as de antes do ano de 2019.

*Os números reais podem aumentar na casa de dezenas ou até algumas centenas para cima em alguns casos, pois a Polícia Federal não disponibilizou um pré-preenchimento quando as armas foram recadastradas pelos CACs, o que resultou em diversos tipos de cadastros. Por exemplo, a pistola PT92 foi preenchida como “PT-92”, “PT92”, “PT 92”, “Pistola 92”, “92”, entre outros tipos. A reportagem buscou refinar ao máximo os dados e captar o máximo de tipos de preenchimentos possíveis para a pesquisa. 

Ao Money Times, a Taurus afirma que a liderança nas vendas “se deve à qualidade e ao preço dos produtos oferecidos” pela companhia e pela CBC, “com a melhor relação custo-benefício, que atendem às demandas dos consumidores”.

Segundo a fabricante gaúcha, há também um “portfólio completo” da empresa, com diferentes plataformas para vários tipos de armas, enquanto algumas concorrentes estrangeiras “apresentam apenas uma plataforma de pistolas”. Atribui também a liderança às vantagens de oferecimento de suporte, assistência técnica e peças de reposição, com uma logística estruturada para isso.

Sobre a abertura de mercado, diz que “o impacto foi muito pequeno” para as duas empresas. Mas é bem crítica em relação à política de importações. “Para o Brasil, o impacto econômico e social foi grande. É um disparate incentivar empresas estrangeiras a exportar para o Brasil, simplesmente fazendo do Brasil um ‘balcão de negócios'”, diz a empresa em nota.

A Taurus afirma ainda que a medida fere a Constituição Nacional e as políticas da indústria de Defesa, e que também há falta de isonomia. “Desincentiva as empresas estrangeiras de virem produzir no Brasil e gerarem empregos”, diz.

Arex, Fire Eagle, Boito e Imbel: Brasil ganhou novas fabricantes e deu fôlego a antigas

Com a abertura das importações em 2019, o mercado brasileiro, que registrou uma grande aceleração na demanda por armas, passou a ter várias empresas estrangeiras concorrendo entre si e com as nacionais.

Hoje, essas empresas estrangeiras somam por 19,8% das armas vendidas no Brasil no período. O Brasil ganhou outros players nacionais e trouxe fôlego a antigas fabricantes, como a gaúcha de espingardas Boito, que vendeu 49 mil armas no período. Faz sucesso entre o público caçador (que também entra na conta dos CACs), que representou quase metade das vendas, de acordo com os dados.

A Imbel (Indústria Brasileira de Material Bélico), única estatal citada reportagem, vinculada ao Exército Brasileiro, vendeu 20 mil armas no período. Com portfólio de pistolas conhecida entre o público CAC, a empresa trazia preços acessíveis quando a operação funcionava normalmente.

No entanto, os produtos da empresa destinado ao público civil passaram a ficar escassos.  Em comunicado de 2021, a empresa afirmou que, “em virtude de óbices orçamentários”, passou a priorizar o atendimento às Forças Armadas, suspendendo vendas ao segmento privado. A Imbel também fabrica os fuzis IA-2, destinado às Forças Armadas. Para o mercado civil, vendeu pelo menos 1.300 fuzis.

A Fire Eagle Armory, que entrou no mercado de armas em 2022 com fuzis de alta performance, para depois oferecer carabinas 9mm, vendeu 820 armas. Dessas, 161 são fuzis, que foram vendidos por um preço médio aproximado de R$ 25 mil. Pode parecer pouco, mas foi um faturamento de R$ 4 milhões só com fuzis.

No entanto, em setembro de 2022, o STF (Supremo Tribunal Federal) suspendeu a venda de fuzis no país, revogando trechos de decretos do governo Bolsonaro que autorizavam a venda dessas armas. Para a empresa, sobraram as carabinas 9mm, calibre que no último decreto do governo Lula voltou ser restrito.

Outra empresa que começou a operar no país foi a eslovena Arex, que passou a ter uma linha de produção de pistolas junto à brasileira HFA Defense, em Anápolis, Goiás. A empresa vendeu 4.599 armas no Brasil, sendo que 1.800 foram fabricadas no Brasil, de acordo com os dados.

Importadas representam 20% das vendas; Glock é líder

Com a abertura das importações em 2019, o mercado brasileiro, que registrou uma grande aceleração na demanda por armas, passou a ter várias empresas estrangeiras concorrendo entre si e com as nacionais.

A austríaca Glock, referência mundial no mercado pistolas – seu único e principal produto no portfólio de armas – vendeu 61 mil armas no país desde 2019. As pistolas da empresa custam acima de R$ 10 mil (à exceção de lotes antigos de gerações anteriores, que podem ser adquiridos por até R$ 7 mil).

Considerando um preço médio de R$ 8.500 para as vendas (que certamente deve ser maior numa avaliação precisa sobre os produtos Glock no Brasil), chegamos ao faturamento de R$ 518 milhões para a empresa, ou R$ 129 milhões por ano (2019-22).

Maior fabricante de armas dos EUA, a Smith & Wesson registrou 8.652 vendas no país, principalmente pistolas (por volta de R$ 13 mil nos modelos mais populares), depois revólveres e alguns fuzis, encontrados a R$ 35 mil.

A italiana Beretta, fábrica de armas mais antiga do mundo, vem em seguida (e muito abaixo), com 6.954 armas vendidas no período. Tem espingardas e pistolas no portfólio, muitas delas custando acima de R$ 20 mil.

Do Oriente Médio, a IWI (Israel Weapons Industries) passou também a exportar equipamentos ao Brasil, com 6.514 armas vendidas. Desses, menos de 50 são fuzis – que chegavam a custar, no mínimo, R$ 35 mil no país, quando eram permitidos. O resto do portfólio envolve pistolas, com preço médio de R$ 10 mil.

Em seguida, aparece a parceria suíço-alemã Sig Sauer, que vendeu 6.137 armas no país, com pelo menos 200 fuzis vendidos, cujos preços também alcançam alto patamar (há modelos de R$ 60 mil, por exemplo). Mas a maior parte do portfólio de pistolas conta com as mais populares custando por volta de R$ 14 mil.

A tcheca CZ (Českázbrojovka, que significa “arsenal tcheco”) também faz sucesso no país entre as importadas, praticamente empatando com a Sig Sauer, com 6.090 armas vendidas no país. Tem grande variedade de pistolas (com preços variando de R$ 10 mil até mais de R$ 30 mil), além de rifles de caça e carabinas compactas.

A americana Springfield vendeu 4.587 armas no país, com um repertório de pistolas compactas, com a Hellcat e a XD-M, além de um repertório de fuzis. Proporcionalmente, é uma das empresas que mais venderam fuzis no país em relação à quantidade total de armas vendidas: foram 807 unidades vendidas, nos calibres 5,56mm e 7,62mm. Havia modelos de R$ 18 mil até R$ 40 mil disponíveis no varejo brasileiro.

Outra empresa dos EUA, globalmente popular, a Colt vendeu apenas 1.964 no Brasil, sem grande presença no varejo brasileiro, restritas a importadores para pessoas físicas ou transferência entre terceiros. Tem pistolas, revólveres e fuzis no portfólio.

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Repórter formado pela PUC-SP, com passagem pelo Poder360, Estadão e Investidor Institucional. Tem pós-graduação em jornalismo econômico pela FGV-SP, através do programa Foca Econômico 2022, do grupo Estado. No Money Times, cobre política, mercados e também a indústria de armas leves no Brasil.
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Repórter formado pela PUC-SP, com passagem pelo Poder360, Estadão e Investidor Institucional. Tem pós-graduação em jornalismo econômico pela FGV-SP, através do programa Foca Econômico 2022, do grupo Estado. No Money Times, cobre política, mercados e também a indústria de armas leves no Brasil.
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