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Executivo do JPMorgan defende inclusão racial em critérios ESG

27 fev 2021, 10:02 - atualizado em 24 fev 2021, 9:57
JPMorgan
Cerca de 13% da força de trabalho do JPMorgan nos EUA é negra e 20% é hispânica, segundo os números de 2019 no site da empresa (Imagem: REUTERS/Eric Thayer)

As empresas deveriam ser mais transparentes sobre a diversidade em seu quadro de funcionários para ajudar investidores a reconhecer práticas de inclusão abaixo da média, de acordo com o diretor executivo do JPMorgan Chase & Co. no Brasil Gilberto Costa.

Contar com dados sobre as políticas ambientais, sociais e de governança de uma empresa não é suficiente, disse Costa em uma entrevista, recomendando que as métricas de equidade racial também sejam incluídas nas pontuações ESG (do inglês Environmental, Social and Governance).

“É a única maneira de realmente mudar a situação”, disse Costa, que é um dos executivos negros mais seniores do JPMorgan no Brasil e dirige a área de operações de private banking do banco no país. “É urgente uma ação clara para combater a desigualdade racial do ponto de vista ESG.”

Muitos investidores já estão se manifestando sobre o assunto. As ações da unidade brasileira do Carrefour (CRFB3), Atacadão, lideraram as perdas no índice Ibovespa em 23 de novembro, depois que seguranças em uma das lojas do supermercado espancaram um negro até a morte, levando a protestos de rua em todo o Brasil.

Cerca de 13% da força de trabalho do JPMorgan nos EUA é negra e 20% é hispânica, segundo os números de 2019 no site da empresa. Entre os principais executivos, 4% são negros e 5% hispânicos. O banco disse que o rastreamento de etnias fora dos EUA é limitado. Os negros representam cerca de 13% da população dos EUA e os hispânicos quase 19%, de acordo com o Census Bureau.

O JPMorgan comprometeu no ano passado bilhões de dólares para ajudar a promover igualdade racial, incluindo uma promessa de créditos imobiliários para negros e latinos nos EUA e mudanças na forma como o progresso de seus próprios executivos em diversidade é avaliado.

O presidente global do banco, Jamie Dimon, disse que “já é hora de a sociedade lidar com as desigualdades raciais de uma forma mais tangível e significativa”.

Costa, 51, está tentando trazer a discussão da diversidade para investidores e fundos de pensão no Brasil, ao mesmo tempo em que ajuda o JPMorgan a desenvolver programas educacionais para atrair mais minorias para bancos e gestoras de fundos.

Muitos negros têm dificuldades para obter uma boa educação porque não podem pagar as melhores escolas, disse Costa, que é co-chairman da Black Organization for Leadership Development (Organização de Negros para o Desenvolvimento de Lideranças) do JPMorgan no Brasil. “Eles não falam outros idiomas porque não podem pagar os cursos de inglês ou espanhol”, disse ele. “Eles geralmente vêm de comunidades de baixa renda como eu.”

Entre os 10% da população brasileira com menor renda per capita, 75% são negros, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

A fundação JPMorgan Chase iniciou um programa em 2018 para oferecer treinamento financeiro a jovens negros no Brasil, em conjunto com a faculdade Zumbi dos Palmares, a Febraban — federação de bancos brasileira — e a Anbima, a associação do mercado de capitais. O programa já treinou quase 300 alunos. Este ano, o JPMorgan está se juntando à LIFT, uma iniciativa que oferece mentoria e ensino de inglês para alunos de baixa renda de São Paulo.

O banco iniciou também neste este ano um programa de dois anos para 11 jovens funcionários negros, incluindo sete mulheres, que farão rodízio por diferentes áreas de negócios para ampliar suas habilidades e se beneficiar de programas de mentoria. Eles são, em sua maioria, executivos juniores, “e alguns deles já estão conosco há algum tempo”, disse Daniel Darahem, presidente do JPMorgan no Brasil.

Embora a pressão dos investidores já esteja ajudando a trazer mudanças, há um longo caminho pela frente, disse Costa, oferecendo sua própria experiência como exemplo: quando ele entra em shopping centers de luxo na Faria Lima, centro financeiro do Brasil, as pessoas costumam perguntar se ele é segurança.

“Sou um homem negro de gravata”, disse ele, “então provavelmente faço parte da segurança. É assim que a maioria das pessoas ainda pensa.”

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