Guerra Comercial

Exigências de investimento dos EUA podem provocar crise financeira na Coreia do Sul, diz presidente

22 set 2025, 6:09 - atualizado em 22 set 2025, 6:33
coreia do sul
Presidente sulcoreano diz que acordo verbal fechado com EUA é inviável (Unsplash/stephnakagawa)

A economia da Coreia do Sul pode entrar em colapso comparável ao da crise de 1997 se o governo aceitar as atuais exigências dos Estados Unidos nas negociações comerciais paralisadas, sem salvaguardas, afirmou o presidente Lee Jae Myung à Reuters.

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Os dois governos chegaram a um acordo verbal em julho, no qual os EUA reduziriam as tarifas impostas pelo presidente Donald Trump sobre produtos sul-coreanos, em troca de US$ 350 bilhões em investimentos da Coreia do Sul, entre outras medidas.

No entanto,o acordo ainda não foi formalizado por escrito devido a disputas sobre como esses investimentos seriam conduzidos, disse Lee.

“Sem uma linha de swap cambial, se retirássemos US$ 350 bilhões da forma como os EUA estão exigindo e investíssemos todo esse valor em dinheiro nos EUA, a Coreia do Sul enfrentaria uma situação semelhante à crise financeira de 1997,” disse ele.

Em entrevista, Lee também comentou sobre uma grande operação migratória dos EUA que deteve centenas de coreanos, bem como sobre as relações de Seul com a Coreia do Norte, a vizinha China e a Rússia.

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Mas as negociações comerciais e de defesa com os EUA, maior aliado militar e importante parceiro econômico da Coreia do Sul, estão ofuscando a viagem que Lee fará a Nova York a partir desta segunda-feira (22), onde discursará na Assembleia Geral das Nações Unidas e será o primeiro presidente sul-coreano a presidir uma reunião do Conselho de Segurança.

Lee, de tendência liberal, assumiu o cargo em uma eleição extraordinária em junho, após seu antecessor conservador, Yoon Suk Yeol, ser destituído e preso por impor brevemente a lei marcial. Lee tem buscado acalmar o país e sua economia, e afirmou que pretende usar sua visita aos EUA para dizer ao mundo que “a Coreia democrática está de volta”.

Lee se reuniu com Trump em sua primeira cúpula em agosto e disse ter construído um laço pessoal forte com o líder norte-americano, apesar de não terem chegado a uma declaração conjunta nem a anúncios concretos.

Neste mês, o governo Trump abalou a Coreia do Sul com a prisão de mais de 300 trabalhadores coreanos em uma fábrica de baterias da Hyundai Motor na Geórgia, acusados por autoridades federais de violações imigratórias.

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Lee disse que os sul-coreanos ficaram naturalmente indignados com o tratamento “severo” dado aos trabalhadores — o governo Trump divulgou imagens deles algemados — e alertou que isso poderia desincentivar empresas a investirem nos EUA.

Mas acrescentou que a operação não abalaria a aliança bilateral, elogiando Trump por oferecer a permanência dos trabalhadores. Lee afirmou não acreditar que Trump tenha ordenado a operação, mas que tenha sido resultado de um excesso por parte das autoridades.

“Não acredito que isso tenha sido intencional. Os EUA pediram desculpas por esse incidente, e concordamos em buscar medidas razoáveis nesse sentido, e estamos trabalhando nisso,” disse.

O gabinete de Lee afirma que não há planos para uma reunião com Trump em Nova York e que as negociações comerciais não estão na agenda da visita.

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Impasses nas negociações comerciais

O Secretário de Comércio Howard Lutnick afirmou que a Coreia do Sul deveria seguir o modelo do acordo firmado pelo Japão com os Estados Unidos. Ele disse que Seul precisa aceitar o acordo ou pagar as tarifas, conforme a posição do governo Trump, que retrata os governos estrangeiros como responsáveis pelo pagamento das tarifas, embora, na prática, sejam os importadores norte-americanos que as pagam.

Questionado se abandonaria o acordo, Lee respondeu: “Acredito que, entre aliados de sangue, conseguiremos manter o mínimo de racionalidade”.

A Coreia do Sul propôs uma linha de swap cambial com os EUA para reduzir o impacto dos investimentos no mercado local e no valor do won. Lee não comentou sobre a probabilidade de os EUA aceitarem nem se isso seria suficiente para viabilizar o acordo.

Ele disse que a Coreia do Sul é diferente do Japão, que fechou um acordo comercial com os EUA em julho. Tóquio possui mais que o dobro das reservas cambiais da Coreia do Sul, hoje em US$ 410 bilhões, uma moeda internacional (o iene) e uma linha de swap com os EUA, explicou Lee.

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Seul e Washington afirmaram por escrito que os projetos de investimento devem ser comercialmente viáveis, mas, segundo Lee, os detalhes ainda não foram resolvidos.

“Chegar a acordos detalhados que garantam razoabilidade comercial é agora a tarefa central — e também o maior obstáculo,” afirmou. As propostas nas conversas técnicas não garantem viabilidade comercial, o que dificulta a superação das divergências, disse ele.

Trump afirma que os investimentos seriam “selecionados” por ele e controlados pelos EUA, o que significa que Washington teria autonomia para decidir onde o dinheiro seria aplicado.

Mas o assessor de políticas de Lee, Kim Yong-beom, afirmou em julho que a Coreia do Sul incluiu um mecanismo de segurança para reduzir riscos financeiros, apoiando apenas projetos comercialmente viáveis, e não fornecendo apoio financeiro incondicional.

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Lee afirmou que Coreia do Sul e EUA não discordam sobre aumentar a contribuição de Seul para sua própria defesa, que conta com 28.500 soldados norte-americanos estacionados na península coreana, mas que Washington quer manter separadas as conversas sobre segurança e comércio.

“Devemos encerrar essa situação instável o quanto antes,” afirmou Lee, ao ser questionado se as negociações poderiam se estender até o próximo ano.

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A Reuters é uma das mais importantes e respeitadas agências de notícias do mundo. Fundada em 1851, no Reino Unido, por Paul Reuter. Com o tempo, expandiu sua cobertura para notícias gerais, políticas, econômicas e internacionais.
reuters@moneytimes.com.br
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