Economia

Fábricas silenciosas na China alimentam temores de trabalhadores

11 fev 2020, 17:34 - atualizado em 11 fev 2020, 17:34
China Bandeira
As medidas da China para conter o coronavírus vão muito além da província de Hubei, o epicentro da doença (Imagem: Reuters/Alfred Jin)

Janey Zhang, proprietária de uma fábrica de guarda-chuvas na cidade de Shangyu, na costa leste da China, passa os dias vendo notícias sobre o coronavírus e atendendo ligações de funcionários sem dinheiro perguntando quando podem voltar ao trabalho.

“Não sei”, diz Zhang, cuja empresa Zhejiang Xingbao Umbrella emprega cerca de 200 pessoas. “Aguardamos instruções do governo.

Se for só eu, posso apertar o cinto por alguns meses. Mas, se a epidemia durar muito tempo, a economia da China entrará em crise. Será horrível.”

No enorme centro industrial da costa leste da China, a história é a mesma. Milhares de empresas estão no limbo, esperando saber de autoridades locais sobre quando poderão retomar as operações.

Mesmo quando receberem o sinal verde, pode levar dias para que consigam reunir a equipe completa, pois muitos trabalhadores que viajaram para suas cidades de origem durante o feriado do Ano Novo Lunar ficaram presos por causa de restrições de viagem.

Os pedidos concluídos se acumulariam de qualquer maneira, porque empresas de logística que fazem as entregas também estão paradas.

As medidas da China para conter o coronavírus vão muito além da província de Hubei, o epicentro da doença. Tendo somado 4,6 trilhões de yuans (US$ 660 bilhões) em 2019, a economia de Hubei é maior do que a da Polônia ou da Suécia e representa 4,6% do PIB da China.

A Bloomberg Economics estima que, se o surto for contido com sucesso, o impacto sobre a economia da China será grave, mas de curta duração: o crescimento desaceleraria para 4,5% no primeiro trimestre, seguido de uma recuperação e estabilização no segundo semestre.

Essa trajetória colocaria o crescimento do ano todo em 2020 em 5,7%, 0,2 ponto percentual abaixo da previsão da Bloomberg Economics antes do surto e abaixo dos 6,1% em 2019. Se o país levar mais tempo para controlar o surto, o impacto sobre o crescimento seria ser maior.

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Para fábricas na China que produzem mercadorias de baixo custo, como móveis e telefones baratos, o coronavírus é a mais recente de uma série de ameaças (Imagem: Unsplash/@ahsan19)

Encomendas perdidas

“Estamos perdendo nossa alta temporada de vendas”, lamenta David Ni, presidente da Jiangsu Siborui Import and Export, com sede na cidade portuária de Yangtze, em Nanjing. A empresa compra rodas de liga de alumínio para carros de produtores chineses e as exporta para lojas de varejo nos EUA.

Nenhum de seus fornecedores retomou as operações ainda, e não está claro quando isso irá acontecer, diz Ni, que mora em Los Angeles.

“Os proprietários de fábricas não podem fazer muita coisa, a não ser esperar. A epidemia pode atrasar a produção por pelo menos dois meses. A maioria das fábricas não seria capaz de lucrar este ano.”

Na Índia, Vinod Sharma, diretor-gerente da Deki Electronics, descreve o momento como “situação de pânico”. Para compensar o fechamento das fábricas na China, a fabricante de capacitores de Nova Déli está recorrendo aos fornecedores sul-coreanos.

Mas seus estoques podem se esgotar rapidamente, porque esses fornecedores também dependem de fábricas na China para as peças.

“Meu problema é quão disponíveis estarão, porque o mundo inteiro estará conversando com eles”, diz, acrescentando que não sabe se esses fornecedores poderão aumentar a produção rapidamente.

Para fábricas na China que produzem mercadorias de baixo custo, como móveis e telefones baratos, o coronavírus é a mais recente de uma série de ameaças.

Operando com margens reduzidas por causa do aumento dos custos de mão de obra e materiais, essas empresas já haviam sofrido outro golpe das tarifas que o governo Donald Trump impôs sobre US$ 360 bilhões em exportações chinesas para os EUA.

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