Fed pode repetir erro dos anos 70 e reacender inflação, alerta Janus Henderson

A combinação entre tarifas comerciais e a futura mudança na liderança do Federal Reserve pode colocar a economia dos Estados Unidos em rota de colisão com uma nova onda inflacionária. O alerta é de Ashwin Alankar, chefe global de Asset Allocation da Janus Henderson Investors, que vê um risco crescente de erro de política monetária semelhante ao cometido pelo Fed nos anos 1970.
Alankar faz referência ao ciclo inflacionário daquela década, quando o Fed, sob o comando de Arthur Burns, reduziu os juros antes de controlar totalmente os preços — o que levou a uma inflação ainda mais persistente e a aumentos agressivos nas taxas anos depois.
“Desde que a taxa de juros dos Fed Funds atingiu 5,50% em resposta à inflação mais alta, temos manifestado preocupação com o risco de um erro de política monetária, caso o banco central dos EUA ceda e afrouxe prematuramente sua política antes que a ameaça inflacionária esteja completamente sob controle”, afirmou Alankar, em relatório.
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Hoje, apesar da desaceleração no índice cheio de preços ao consumidor, que está em 2,7%, a inflação considerada “pegajosa” — categorias de preços mais lentos para se ajustar — segue em 3,3%, segundo dados do Federal Reserve de Atlanta.
“Nesse contexto, o argumento de que a taxa dos Fed Funds — atualmente em 4,5% — tem ampla margem para cair se torna mais frágil. Os juros já estão muito próximos do nível da inflação que realmente importa, e mirar na inflação cheia — mais volátil e ruidosa — pode fazer os preços ao consumidor voltarem a subir”, diz.
A preocupação se agrava com a possibilidade de Donald Trump substituir o presidente do Fed, Jerome Powell, por um nome mais favorável ao afrouxamento monetário — embora o Fed seja controlado por um comitê, e a troca de presidente não implique necessariamente em uma mudança de postura.
“Um Fed mais dovish em 2026 poderia liberar um impulso de crédito via redução de juros, o que incentivaria a demanda justamente em um momento em que as cadeias globais de suprimento e os preços ainda estariam em desordem”, afirma o gestor.
Alankar argumenta que o atual ambiente reúne os dois elementos necessários para uma nova espiral inflacionária: choques de oferta (via tarifas) e estímulo à demanda (via corte de juros).
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Outro fator de risco citado é o tamanho do balanço patrimonial do Fed, que está em US$ 6,7 trilhões. Segundo ele, a quantidade de dólares em circulação significa que bastaria uma perturbação relativamente pequena na oferta para que todo esse dinheiro começasse a disputar uma quantidade limitada de bens.
Além de consolidar as expectativas de inflação em níveis indesejados, uma segunda onda causada por erro de política monetária também destruiria a credibilidade do banco central norte-americano.
“A única alternativa seria o Fed elevar novamente os juros — como foi forçado a fazer no fim dos anos 1970 e início dos anos 1980 — até níveis que muito provavelmente causariam uma forte recessão”, completa.