Economia

Federal Reserve está em “negação total” sobre a inflação, dizem economistas

09 jun 2021, 12:40 - atualizado em 09 jun 2021, 12:40
Dólar Inflação
Os preços ao consumidor sobem em forte ritmo com a reabertura da economia após a pandemia (Imagem: Unsplash/ NeONBRAND)

O aumento inesperado dos salários nos Estados Unidos deu aos mercados financeiros um novo motivo para pensar que a inflação mais alta veio para ficar.

Os preços ao consumidor sobem em forte ritmo com a reabertura da economia após a pandemia. Um relatório monitorado de perto deve mostrar na quinta-feira que os preços subiram 0,4% em maio, o que elevaria a inflação anual acima dos 4,2% de abril, que já é o maior nível em mais de uma década.

Muitas autoridades de política monetária e economistas consideram os aumentos de preços temporários, em parte porque não têm antecipado reajustes de salários, que permanecem relativamente estagnados há anos na ponta inferior da escala salarial.

O emprego ainda está muito abaixo dos níveis anteriores à pandemia, sugerindo que há ampla mão de obra disponível, e a maioria dos empregos sendo criados estão em setores de baixa remuneração, como restaurantes e turismo.

Mas o relatório do mercado de trabalho da semana passada mostrou aumento maior do que o previsto dos salários médios por hora pelo segundo mês consecutivo. Acontece que, independentemente do que os números do desemprego indiquem, há falta de pessoas dispostas a trabalhar com a taxa de remuneração vigente – o que levou muitas empresas a aumentarem os salários ou oferecer bônus para preencher o quadro de funcionários.

Jerome Powell
O presidente do Fed, Jerome Powell, tem argumentado repetidamente que o vínculo antes estreito entre salários e inflação foi rompido (Imagem: Federal Reserve/ Flickr)

Espiral

Isso cria perspectiva do que é conhecido e temido na economia como espiral de salários e preços. A ideia é que salários mais altos estimulam o crescimento dos gastos, o que pressiona a capacidade de produção e aumenta os custos das empresas. Por sua vez, companhias aumentam os preços e trabalhadores exigem reajustes salariais ainda maiores para absorverem os maiores custos de vida.

Essa dinâmica contribuiu para uma inflação persistentemente alta nos Estados Unidos na década de 1970, um período frequentemente lembrado pelos que temem uma onda duradoura de inflação pós-Covid.

Autoridades Federal Reserve não estão nesse campo. Reconhecem que políticas da pandemia, como cheques de estímulo e aumento dos benefícios de desemprego, podem elevar a renda e observaram na semana passada que as empresas estão elevando os salários iniciais.

Mas também dizem que os aumentos estão concentrados em setores de serviços com salários mais baixos – onde um crescimento mais rápido da renda é exatamente o que o Fed e o governo Biden querem ver – e não se espalharam pela escala salarial. Além disso, o presidente do Fed, Jerome Powell, tem argumentado repetidamente que o vínculo antes estreito entre salários e inflação foi rompido nos últimos anos.

‘Negação total’

Alguns economistas dizem que o banco central está subestimando um risco significativo.

“As autoridades do Fed não acreditam que as pressões salariais possam existir em um mundo com desemprego em 6%, por isso estão em negação total”, disse Stephen Stanley, economista-chefe da Amherst Pierpont Securities, em relatório. “Uma aceleração significativa dos ganhos salariais seria o caminho mais rápido para transformar um pico de inflação ‘transitório’ em aumento persistente.”

A economia dos EUA criou um recorde de 9,3 milhões de vagas em abril, e alguns analistas dizem que o dado aumenta o poder de barganha dos trabalhadores. Outros economistas citam tendências enraizadas como a queda da filiação sindical, o que que deixa trabalhadores com menos força para que os aumentos salariais durem no longo prazo.

Provavelmente serão necessários muitos meses de dados para resolver o debate, em parte porque os números ainda estão distorcidos pelos efeitos da pandemia, que levarão tempo para desaparecer.

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