Empiricus Research

Felipe Miranda: Democratize primeiro; critique depois — Aula prática de convexidade

19 mar 2019, 10:46 - atualizado em 19 mar 2019, 10:46

Por Felipe Miranda CEO da Empiricus Research 

Na quarta-feira passada, almocei com a Luciana Seabra e um brilhante ex-diretor da B3, da época em que ainda era B1. Cabelos brancos, alma jovem, cabeça privilegiada.

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Ele disse assim, ipsis verbis (a Lu não me deixa mentir sozinho): “Foi um golaço vocês terem trazido a Angela Bittencourt. Se a Angela for na Bolsa, nego estende tapete vermelho pra ela. Quer dizer, a atual diretoria não sei. A turma é nova. Mas se o Edemir vir a Angela, ele para tudo que está fazendo e vai falar com ela.

A Angela é uma instituição na Bolsa. Ela ensinou o mercado a operar DI, quando ninguém sabia direito o que era isso. Tanto que ganhou da Bolsa uma jaqueta de operador com o nome dela — e ela nunca foi operadora, claro.”

Então, pedi pra Angela contar essa história. Mais do que isso, para elucidar a dinâmica e a evolução dos mercados futuros por essas bandas. Num primeiro momento, ela resistiu. Desviou o assunto. Falou que não se lembrava, que nem era tão importante assim. No final, topou. No final, ela sempre topa — diz que tem medo de mim; não conta pra ela, mas é recíproco.

Fui saber depois que a tal jaqueta foi roubada num assalto. As vestes se foram, os conhecimentos ficaram.

Fechada nos últimos 10 meses, agora está reaberta, por tempo limitado. Veja como é possível ter 5 anos de lucro na Bolsa em apenas uma operação de curto prazo

Abaixo, você encontra uma aula sobre mercados futuros, quase um documento histórico. Como desdobramento, quem sabe a B3 não se anima em lançar minicontratos de DI. Seria um golaço e ajudaria nessa nossa jornada de democratização de outros instrumentos financeiros para a pessoa física — brevíssima digressão: Bettina será responsável por quantos novos cadastros na B3?

Então, bora lá. Depois do texto da Angela, eu escrevo as rotineiras bobagens do dia.

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ANTES DE IR À PRAIA, PASSE NA BM&F

Em dezembro, é batata! Não importa se a mulher do tempo diz que o verão vai ser chuvoso, com raios e trovoadas, as crianças querem ir à praia. Mas esse momento-delícia não sai de graça. A gente paga literalmente um pedágio, além daquele da estrada, claro. Minha esposa não arreda os pés de casa antes do “amigo oculto” e da ceia do Natal, que a minha sogra quer que este ano seja (de novo!) lá em casa.

Você acha que estou colocando o carro na frente dos bois porque o Natal está longe? Não estou, não. Já, já é fim de março e estará na hora de planejar as despesas do fim do ano. E como você sabe, a despesa não é pouca. A família é grande. Não do meu lado! Mas tenho um bando de cunhados, cunhadas, sobrinhos e agregados… E tem as férias na praia…

Quem nunca passou por esse aperto e agradeceu aos céus por ter aquele dinheiro guardado num fundo de renda fixa para emergências? Aquela aplicação básica em título público ou privado que quebra o maior galho?

Não sei se você sabe, mas esse dinheiro aí, que até pode parecer pequeno, é protegido por uma engrenagem para lá de sofisticada, que existe em vários países do mundo, e, no Brasil, foi criada há 30 anos: o mercado futuro de juros.

É nesse mercado que se calcula quanto se pode ganhar com uma aplicação financeira ou quanto vai custar o crédito no fim deste ano, do próximo ou em 2030, quando você poderá estar se casando ou à espera da cegonha.10

O mercado futuro de juros ou de depósito interfinanceiro (DI), como é mais conhecido, é uma ajuda e tanto para prever despesas, além do retorno de investimentos. É muito útil, mas teve um parto demorado. Nasceu só em 1991, cinco anos depois da estreia da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F).

Nem sei se você já tinha nascido. Em 1986, o meu segundo filho, o Júlio, aquele que guarda dinheiro no pote de vidro na cozinha, tinha 1 aninho. Tenho certeza de que a vida dele e também a sua têm sido influenciadas pelos mercados futuros.

Ao longo dos anos, esses mercados que ajudam a antecipar preços foram uma mão na roda para o governo. Eles contribuíram para que muitas medidas anunciadas valessem na prática. Serviram até para que algumas decisões – e a insegurança por elas provocadas – não atrapalhassem demais os brasileiros.

Três décadas se passaram e, hoje, tanto a Bovespa quanto a BM&F são segmentos da B3. A primeira negocia ações no mercado à vista e, a segunda, contratos futuros (também chamados de derivativos) de ativos financeiros ou produtos.

Parece esquisito, mas no mercado futuro é rara a possibilidade de se comprar alguma coisa e levar para casa porque ali se negocia o quanto algo pode custar dentro de alguns meses ou até anos – no futuro.

A B3 fica em São Paulo e é tratada como uma Bolsa, embora ela seja mais que isso.

Batizada com 3 “Bs” — B de Brasil, B de Bolsa e B de Balcão —, a B3 é uma das principais empresas de infraestrutura de mercado financeiro no mundo. E atua na criação e administração de sistemas de negociação, compensação, liquidação, depósito e registro para ações, taxa de juro, títulos de empresas, moedas e mercadorias.

A B3 surgiu no formato atual em 2017, após a fusão entre a BM&FBovespa e a Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos (Cetip). A BM&FBovespa nasceu quase dez anos antes, em 2008, como resultado de outra fusão: a da Bovespa com a BM&F.

O Índice Bovespa, o mais conhecido do mercado acionário brasileiro, ganhou uma cópia quando a BM&F começou a funcionar, em janeiro de 1986. O Ibovespa Futuro — irmão do índice à vista — tornou-se uma estrela. Naquele momento, era visto como um ativo moderno, mas o volume nele movimentado não teve o crescimento exuberante do contrato futuro de DI, que explodiu a partir de 1994, com o Plano Real.

Os contratos de DI derraparam muitas vezes até engatarem a primeira marcha. Ora batiam de frente com a inflação em sua espiral ascendente, ora desentendiam-se com a moeda nacional, que mudou de identidade mais de uma vez em pouco tempo até ser criado o real (que vale até hoje). Essa aí que você deve ter na carteira… Assim espero!

No Brasil, um país onde o governo era e é o maior tomador de dinheiro de investidores e com um histórico de inflação gigante na maior parte de sua história econômica, o sucesso do contrato de juro era certo. Esse mercado ganhou tração e tornou-se o mais negociado na B3.

Para dar uma ideia da dimensão desse mercado sobre os demais, em um único dia da semana passada a BM&F movimentou um total de 254 bilhões de reais (67 bilhões de dólares). Nesse dia, os contratos de DI responderam por 176 bilhões (46 bilhões de dólares) e o Ibovespa Futuro por 13,7 bilhões de reais (3,6 bilhões de dólares).

O receio de que o mercado futuro de DI possa encolher ou ser de alguma maneira prejudicado porque a inflação brasileira hoje é incomparavelmente menor que a dos anos de 1980 e 1990 é uma bobagem, afirma o administrador de um importante fundo de investimentos com quem conversei na semana passada.

Avesso a entrevistas, esse executivo prefere manter o anonimato, mas disse acreditar que a estabilização dos preços tende, inclusive, a aumentar o volume de negócios com juros futuros. Isso aconteceu em outros países que tiveram períodos de inflação alta e que também viveram processos bem-sucedidos de estabilização.

“O mercado de juros é o mais importante do mundo. E os contratos futuros não servem apenas aos aplicadores que querem estimar o quanto vão receber de juro real no vencimento de operações. O futuro de juro serve para que se faça ‘hedge’ de operações de crédito”, lembra o meu interlocutor.

Não tenha dúvida, portanto, que os mercados futuros continuarão a ter influência sobre sua vida, tenha você a idade que tiver. Outros contratos poderão ser criados, inclusive na BM&F para atender às necessidades do investidor pessoa física.

Essa é a expectativa do meu colega aqui da Empiricus, Luiz Rogé, que é um especialista em renda fixa.

Você deve saber quem é o Rogé. Ele trabalha aqui há muito mais tempo que eu, que comecei dez dias atrás, e é muito respeitado por quem entende (e muito) sobre taxa de juro.

Leia abaixo a sugestão de Luiz Rogé sobre o ativo que pode ser criado pela BM&F.

O MINICONTRATO QUE FALTA NA PRATELEIRA

A B3 negocia há muitos anos, e com bastante sucesso, o minicontrato futuro de índice Ibovespa, em que cada ponto de oscilação do índice resulta em uma variação de 20 centavos frente a 1 real do contrato padrão. É um contrato voltado para o pequeno investidor pessoa física.

Na mesma linha, a B3 também negocia o minicontrato futuro de dólar, que tem um tamanho de 10 mil dólares, cinco vezes menor do que o contrato padrão de futuro de dólar, que é de 50 mil dólares.

Dá para notar por esses dois exemplos que a B3 procura adequar o tamanho dos minicontratos futuros, ou o valor em reais de sua oscilação, ao porte da pessoa física para viabilizar a sua entrada no mercado.

Dessa forma, ela consegue dimensionar a capacidade financeira do pequeno investidor (ou especulador) ao seu mercado de seu interesse, tornando possível que ele venha a se utilizar desse mercado da mesma forma que o grande investidor (ou especulador) o faz.

No entanto, acredito que falta para a B3 lançar um ativo muito importante: o de minicontrato de DI, mercado onde se negocia o futuro de taxas de juros.

Atualmente, esse mercado só é acessível aos grandes investidores (bancos, investidores institucionais como fundos de investimento, seguradoras, etc.), dado o tamanho de seu contrato padrão, que é de 100 mil reais de valor de resgate, na data de seu vencimento.

O contrato futuro de DI funciona como uma “aposta” entre duas pessoas na qual , de um lado, tem uma pessoa que aposta na queda da taxa de juros prefixada, e do outro, existe alguém que aposta no contrário — na alta dos juros até a data de vencimento do contrato.

Importante lembrar que esse é um jogo controlado pela B3, que garante todas as operações. Assim, quem obteve ganhos nas operações realizadas com os futuros recebe o valor que ganhou, e quem sofreu perdas paga o prejuízo sofrido.

Por isso dizem que o “mercado futuro é um jogo de soma zero”, pois o valor ganho por uma pessoa corresponde exatamente à perda sofrida pela outra, a sua contraparte na “aposta”.

Por fim, com os minicontratos de DI seria possível viabilizar para a pessoa física muitos tipos de operações, especulativas ou de proteção (hedge) de suas aplicações. Dessa maneira, a existência desse mercado iria possibilitar, com certeza, uma gestão mais eficiente do patrimônio de renda fixa dessas pessoas.

empiricus@moneytimes.com.br