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Fim da era Trump marca acerto de contas para empresas dos EUA

08 jan 2021, 13:49 - atualizado em 08 jan 2021, 13:50
Capitolío, Eua
Depois que Trump incitou uma multidão de seguidores a invadir o Capitólio na quarta-feira, líderes empresariais proeminentes condenaram rapidamente a violência, mas sem mencionar o nome do presidente (Imagem: REUTERS/Leah Millis)

O setor empresarial dos Estados Unidos se distancia de seu presidente CEO com cuidado.

Quatro anos depois de Donald Trump desembarcar na Casa Branca, intimidando executivos e abalando mercados com uma enxurrada de tuítes e momentos de birra, empresas que aplaudiram quando o presidente reduziu impostos e a burocracia tentam se preparar para os danos à frente.

Depois que Trump incitou uma multidão de seguidores a invadir o Capitólio na quarta-feira, líderes empresariais proeminentes condenaram rapidamente a violência, mas sem mencionar o nome do presidente.

Apenas um grande grupo empresarial, a Associação Nacional de Fabricantes, se posicionou. Mesmo quando o governo Trump chega ao seu fim caótico, com pedidos para que o presidente seja imediatamente destituído do cargo, o mundo dos negócios caminha na ponta dos pés.

Quando Trump chegou em Washington, poderia influenciar uma empresa com um tuíte. Agora, o Facebook suspendeu sua conta, possivelmente pelo período restante da presidência, enquanto o Twitter o suspendeu por 12 horas e avisou que poderia tomar medidas mais permanentes.

A Shopify, a empresa canadense por trás de muitos sites de comércio eletrônico, disse na quinta-feira que fechou duas lojas online que vendem bonés vermelhos MAGA (sigla do slogan “Make America Great Again”, ou tornar a América grande novamente) e outros produtos de promoção de Trump.

Davia Temin, fundadora da consultoria de crise Temin and Co., de Nova York, disse que “é preciso fazer uma distinção entre Trump, o presidente, sobre quem você pode ou não ter feito comentários no último quatro anos, e a rebelião, o ataque ao Capitólio”.

Mesmo agora, poucas das respostas desafiam Trump diretamente. A Associação Nacional de Fabricantes, que normalmente é vista como favorável às políticas republicanas, pediu ao gabinete de Trump que considere destituí-lo por meio da 25ª Emenda à Constituição dos EUA, que permite tal ação quando um presidente é considerado sem condições de atuar.

A fabricante de sorvetes Ben & Jerry’s Homemade criticou Trump em um tuíte de oito partes, concluindo-os com um pedido de renúncia ou de destituição do presidente pelo governo.

Mas a maior parte das críticas foi mais genericamente focada em “oficiais eleitos” por seu papel em perpetuar o argumento de que a eleição foi fraudulenta e estimular a raiva que transbordou para o ataque ao centro do governo dos EUA. Como o poderoso e malvado mago Voldemort em um livro de Harry Potter, Trump foi o protagonista não citado.

A fabricante de sorvetes Ben & Jerry’s Homemade criticou Trump em um tuíte de oito partes, concluindo-os com um pedido de renúncia ou de destituição do presidente pelo governo (Imagem: Facebook/Ben & Jerry’s)

“Hoje marca um capítulo triste e vergonhoso na história de nossa nação”, disse o diretor-presidente da Apple, Tim Cook, em tuíte na quarta-feira. ‘Os responsáveis por esta insurreição devem ser responsabilizados, e devemos concluir a transição para o governo do presidente eleito Biden. É especialmente quando são desafiados que nossos ideais são mais importantes.”

CEOs da International Business Machines, Coca-Cola, Pfizer, Dell Technologies, Cisco Systems, United Parcel Service e General Motors fizeram declarações semelhantes condenando energicamente o ocorrido, sem mencionar quaisquer políticos pelo nome.

A Business Roundtable, que é exclusivamente formada por CEOs, atribuiu a violência à “perpetuação por oficiais eleitos da ficção de uma eleição presidencial fraudulenta de 2020”.

É uma situação difícil para as empresas, que, apesar de se sentirem confortáveis em assumir posições sobre questões sociais, estão menos condicionadas ao envolvimento direto nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, disse Fred Foulkes, professor de administração da Questrom School of Business da Universidade de Boston.

“Se você é um desses CEOs de grandes empresas, é de se esperar que diga algo agora”, disse Foulkes. “Chegamos ao ponto em que, se alguém não está comentando, você se pergunta: ‘Por que não?’”.

O senador Josh Hawley, do Missouri, que liderou a iniciativa dos republicanos para desafiar a certificação de Joe Biden como presidente nesta semana, já sente a repercussão. A editora Simon & Schuster cancelou planos de lançar o livro de Hawley, “The Tyranny of Big Tech”, citando seu papel no tumulto.

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