Fim da isenção fiscal para produtos de baixo valor afeta embarques aéreos da China para os EUA

O volume de remessas aéreas da Ásia caiu dois dígitos desde que os Estados Unidos cancelaram, no início de maio, a isenção fiscal para pacotes de baixo valor vindos da China, disseram grupos comerciais e analistas.
A demanda por carga aérea da Ásia para a América do Norte caiu 10,7% em maio em relação ao mesmo mês do ano anterior, segundo dados da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA), ilustrando “o efeito desestimulante das mudanças na política comercial dos EUA”, afirmou o diretor-geral da IATA, Willie Walsh, em um relatório publicado pela entidade.
Remessas com valor abaixo de US$ 800 — frequentemente enviadas por via aérea a clientes americanos de plataformas de e-commerce de baixo custo como Shein e Temu (PDD) — estavam isentas de impostos sob a chamada regra de “de minimis” (isto é, “mínimo demais para importar”).
Desde 2 de maio, no entanto, essas remessas enviadas da China e de Hong Kong passaram a ser taxadas, com tarifas que chegaram inicialmente a 145%, antes de caírem para até 30% após uma trégua comercial em meados de maio entre os EUA e a China.
Os dois países seguem negociando acordos comerciais, com os EUA afrouxando restrições à exportação de software, etano e produtos aeroespaciais para a China nesta semana, antes do prazo de 9 de julho, quando os EUA planejam reimpor uma série de tarifas elevadas a diversos países.
Mudança de destino
O volume de remessas de e-commerce de baixo valor da China para os EUA em maio registrou uma queda particularmente acentuada, segundo especialistas do setor.
Essas remessas caíram 43% em maio em relação ao mês anterior, segundo estimativas da consultoria de carga aérea Aevean — mas aumentaram para outros mercados importantes, como Europa e Sudeste Asiático.
Não está claro se essas quedas dramáticas continuarão, disse Marco Bloemen, diretor-gerente da Aevean, pois as empresas já antecipavam o fim da regra de minimis e porque a tarifa foi reduzida no meio do mês.
“Será que essas empresas de e-commerce vão voltar ao mercado dos EUA agora que estão pagando 30% de imposto, em vez de zero?”, questionou Bloemen.
Empresas estão recorrendo a outros mercados devido à incerteza das políticas comerciais dos EUA também estão pesando sobre o volume de remessas, afirmou ele.
“Essa é uma tendência que esperamos que continue — haverá mais e-commerce com destino à Europa no mês de junho, e também a mercados como América Latina.”
A consultoria de carga aérea Rotate afirmou que as plataformas de e-commerce estão concentrando esforços em outros mercados para substituir a demanda perdida dos EUA, com forte crescimento das exportações para a União Europeia e a região Ásia-Pacífico.
As empresas Shein e PDD não responderam imediatamente aos pedidos de comentário da Reuters.
Redução de cargas
O e-commerce de baixo valor proveniente da Ásia vinha ocupando uma proporção crescente do transporte aéreo global e impulsionando os negócios de carga das companhias aéreas.
No ano passado, esse tipo de remessa — somando 1,2 milhão de toneladas métricas — representou 55% dos bens enviados da China para os EUA por via aérea, em comparação com apenas 5% em 2018, segundo dados da Aevean.
À medida que a demanda da Ásia para os EUA caiu em maio, companhias aéreas retiraram aviões cargueiros das rotas transpacíficas e os realocaram, disseram especialistas da indústria.
Parte dessa demanda agora retornou, à medida que as empresas aproveitam as pausas tarifárias entre os EUA e vários países — mas as frequências de voo foram reduzidas, relataram.
“Alguns dos grandes players que estavam fretando três voos por semana reduziram para dois,” disse a consultoria de e-commerce Cirrus Global Advisors.
A capacidade direta de cargueiros entre China e EUA em junho foi 11% menor em comparação com março, eliminando o crescimento observado nas rotas ao longo do ano, segundo dados da Rotate.
A Dimerco Express, empresa de transporte de carga focada na Ásia, estimou que suas reservas de e-commerce caíram 50% em maio e junho. Como resultado, voos cargueiros programados continuam sendo cancelados, afirmou a empresa em um relatório.
A regra de minimis, que remonta a 1938, vinha sendo alvo de críticas de parlamentares americanos, por ser considerada uma brecha que permite que produtos chineses evitem tarifas dos EUA e que também facilita a entrada de drogas ilegais e precursores usados na produção de fentanil sem triagem adequada.