Economia

Fim do dólar? Plano dos Brics para contrapor moeda pode ser revelado na cúpula de agosto

10 jul 2023, 16:35 - atualizado em 10 jul 2023, 16:39
Xi Jinping China Estados Unidos BRICS Brasil
China vem liderando um esforço global pela redução da hegemonia do dólar no comercial mundial. (Imagem: REUTERS/Florence Lo)

Ventilado por Lula e por demais líderes do Brics, o projeto de uma moeda comum entre Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul está ganhando tração.

Os países do consórcio já tinham sinalizado a intenção criar uma nova divisa comum para aumentar o comércio entre os Brics, bem como diminuir os custos de transações internacionais envolvidos com a conversão do dólar.

Agora, segundo o portal russo RT News, espera-se um anúncio oficial sobre a questão na cúpula dos BRICS, no próximo mês. O veículo diz que a nova divisa será lastreada no padrão ouro, uma estratégia para garantir a estabilidade do valor da nova moeda, sem precisar passar pelo dólar norte-americano.

Nesse contexto de fortalecimento da divisas locais, Rússia e China alcançaram o topo de nações compradoras de ouro em 2022; a tendência continua forte em 2023 e já ganhou o apelido de “nova corrida do ouro”. A dinâmica recente de compra no mercado internacional de ouro fez o preço da onça chegar a máxima histórica de US$ 2.060 em maio.

A notícia do portal russo mostra uma linha do tempo diferente daquela construída pelo vice-presidente do Novo Banco do Desenvolvimento, o ‘FMI’ dos Brics.

À Bloomberg TV, Leslie Maasdorp disse que a criação de uma moeda comum para competir com o dólar seria um projeto de médio e longo-prazo.

Além de uma questão cambial, as nações não alinhadas ao Ocidente buscam nas moedas alternativas uma forma de mitigar riscos geopolíticos, considerando o papel de “arma econômica” que o dólar pode assumir dentro das sanções econômicas.

Em uma das iniciativas deste tipo, Brasil e China anunciaram que irão desviar do dólar para negociar em yuan e reais. O novo formato de comércio será viabilizado pela criação de uma Clearing House (Câmara de Compensação) a ser operada, no Brasil, pelo Banco Industrial e Comercial da China (ICBC, na sigla em inglês).

Na reunião do G7 em maio, Lula defendeu a moeda comum para comercialização entre os países dos Brics. “Não é possível depender do dólar para fazer comércio exterior (…) Haveremos de discutir a moeda dos Brics em algum momento”, chegou a dizer.

Índia, a voz dissonante

Se a ideia de uma moeda comum para o comércio entre os BRICS parece estimulante para quase todas as letras da sigla, para a Índia, a posição é outra.

Em uma coletiva de imprensa no último dia 3, o ministro das Relações Exteriores, S. Jaishankar, insinuou que a Índia pode retirar o apoio à nova moeda. Ao invés disso, o país mais populoso do mundo pretende focar em fortalecer a sua própria moeda nacional, o Rupee.

A dissidência da Índia reflete a complexa posição geopolítica do país. Nova Delhi possui bilhões de dólares em contratos comerciais e militares com países do Ocidente.

A preocupação dos indianos é que a adesão a uma nova moeda comum, amplamente apoiada por Rússia e China, envie um sinal indesejado aos aliados estratégicos em Washington e Bruxelas.

A posição de desafio da Índia à medida dos Brics ganha terreno à medida que a potência asiática deverá terminar 2023 com o maior crescimento econômico dentro do bloco, com um PIB projetado de 7%.

Encontro dos BRICS será presencial e ida de Putin se torna uma interrogação

Em declaração neste domingo, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, confirmou que a décima quarta cúpula dos Brics ocorrerá em Johanesburgo, no formato presencial.

Ainda não está claro o que isso significa para Vladimir Putin, que possui contra si um mandado de prisão expedido pelo Tribunal Penal Internacional.

O mandatário da Rússia foi condenado pelo órgão, por ter cometido crimes de guerra na Ucrânia. A decisão do Tribunal Penal possui validade apenas para os países signatários da corte, entre os quais não está a Rússia.

Além da expectativa por uma nova moeda comum, a cúpula dos Brics deve anunciar formalmente a inclusão de novos países ao consórcio e ao Novo Banco de Desenvolvimento. É estimado que ao menos 20 países do Sul Global estejam interessados em se juntar à aliança.

Estagiário
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
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