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Foco de Covid-19, área da maior mina de ferro do mundo terá testagem em massa

29 maio 2020, 13:12 - atualizado em 29 maio 2020, 13:12
Minério de ferro Mineração Commodities
Ações em parceria com a Vale, que incluem um Hospital de Campanha, permitirão que a cidade possa atravessar um  momento “mais crítico” da doença (imagem: Reuters/Muyu Xu)

Município que abriga parte da Serra dos Carajás –onde está a maior mina de minério de ferro do mundo a céu aberto–, Parauapebas terá testagem em massa para Covid-19, podendo alcançar cerca de metade da população, após ter disparado nas últimas semanas como a quarta cidade com mais casos de coronavírus no Pará.

Com cerca de 200 mil habitantes, o município que é o terceiro maior exportador do Brasil, tendo embarcado o equivalente a 7 bilhões de dólares de minério de ferro em 2019, havia confirmado até quinta-feira 1.900 casos de Covid-19, alarmando os mercados globais de mineração e a população local.

Os possíveis impactos da pandemia nas exportações do Brasil, segundo exportador global da commodity que enfrenta uma espiral de casos de coronavírus, têm sido precificados juntamente com outros fatores externos, com a matéria-prima siderúrgica sendo negociada perto dos maiores níveis do ano no mercado físico na China, a quase 100 dólares a tonelada.

O olhar atento para o interior do Pará ocorre enquanto os registros de coronavírus estão 15 vezes maiores na cidade na comparação com o final de abril, segundo dados da prefeitura de Parauapebas, lar de milhares de funcionários da operação da Serra Norte de Carajás, da Vale.

Juntamente com a Serra Leste –que fica no município vizinho de Curionópolis–, a área produziu 115 milhões de toneladas de minério de ferro em 2019, ou cerca de 38% da produção da Vale.

Neste contexto, e diante do crescimento do número de mortos por Covid-19 para 64 até quinta-feira em Parauapebas, o município fundado em 1988 informou à Reuters que programou, em parceria com a Vale, uma testagem que poderá atingir cerca de 100 mil pessoas, segundo expectativa preliminar. A operação será viabilizada em esquema de “drive-thru”, a partir de sábado, com agendamentos diários.

Para o prefeito de Parauapebas, Darci Lermen, essa e outras ações em parceria com a Vale, que incluem um Hospital de Campanha, permitirão que a cidade possa atravessar o que ele considera o momento “mais crítico” da doença.

“Com o protocolo de testagem em massa vamos realizar cerca de mil testes por dia. Tudo isso também ajuda a reduzir a necessidade de internações…”, disse o prefeito à Reuters, ressaltando também que o município já teve mais de 700 pacientes recuperados.

Parauapebas abriga ainda, em menor número, funcionários das atividades da Vale de Serra Leste e da mina S11D (que produziu sozinha 24% do minério de ferro da Vale em 2019), em Canaã dos Carajás.

“Temos hoje provavelmente um dos menores índices de letalidade da região, bem abaixo da média estadual, nacional e também do mundo”, defendeu o prefeito, destacando que esses são apenas “números frios”, e que “cada vida importa”.

Ele admitiu que o fato de Parauapebas estar localizada na importante região de mineração, definida como atividade essencial para funcionamento pelo governo, ajudou a impulsionar os casos da doença. Mas acredita que a testagem em massa permitirá uma redução dos doentes, pois as pessoas infectadas poderão ficar em casa –ainda que a cidade tenha saído de um “lockdown” estadual na última segunda-feira.

A Vale confirmou que participa da parceria para a testagem em massa da população do município.

Em nota, a mineradora ressaltou que está realizando a testagem de todos os seus empregados e terceiros, e retirando do ambiente de trabalho aqueles que testaram positivo, ainda que assintomáticos, bem como todos os que eventualmente possam ter tido contato com o empregado que testou positivo.

“Dessa forma, a empresa previne que não haja contágio em suas operações”, disse a companhia, lembrando que o ritmo das operações da Vale depende do número de empregados afastados para assegurar o ambiente.

Contudo, a mineradora destacou que a “produção não teve impacto material”.

Fluxo de pessoas

As cidades próximas também têm apresentado crescimento do registro do vírus, à medida que a intensa movimentação de pessoas parece colaborar para a disseminação da doença nas redondezas de Parauapebas.

Coronavírus
ações em parceria com a Vale, que incluem um Hospital de Campanha, permitirão que a cidade possa atravessar o que ele considera o momento “mais crítico” da doença (Imagem: Ingrid Anne/Prefeitura de Manaus)

Em Canaã dos Carajás, havia 775 casos confirmados até quinta-feira e 12 mortes. Já em Curionópolis foram contabilizados 200 doentes e cinco mortes.

Já Parauapebas, segundo o Ministério da Saúde, só perde em casos para Belém, com mais de 10 mil, Ananindeua e Abaetetuba, cidades mais próximas da capital. Ao todo, o Pará tem 33,7 mil registros de Covid-19.

A prefeitura de Parauapebas explicou, por meio da assessoria de imprensa, que o grande fluxo entre as cidades de empregados da atividade de mineração, incluindo idas e vindas de outras regiões do Brasil e do mundo, foi uma preocupação desde o início.

Foram implantadas barreiras sanitárias, o aeroporto chegou a ser fechado e um trem de passageiros da Vale (VALE3) desativado. No entanto, os casos continuaram a subir e a atingir diversos empregados da mineração, segundo relatos.

“Isso daqui é um pedaço do Brasil e do mundo… o setor minerário hoje tem contribuído muito com o avanço da pandemia na região”, afirmou o funcionário da Vale Evaldo Fidelis, de 35 anos, operador de escavadeira hidráulica em Carajás, que contraiu a Covid-19.

Fidelis, que mora em Parauapebas e faz parte do Movimento Nacional pela Soberania Popular na Mineração (MAM), afirmou que apesar das inúmeras medidas tomadas pela Vale para reduzir aglomerações em suas atividades, o deslocamento dos empregados por diversos ambientes é muito amplo e não traz segurança.

Ele afirmou ainda que, no início de maio, teve dificuldades para realizar o teste para o vírus no hospital construído pela Vale Yutaka Takeda. Nesta semana, agendou novo exame para confirmar que estava livre da doença.

Ele contou ainda que soube que, da sua equipe de trabalho de cerca de 40 pessoas, sete tiveram sintomas de Covid-19.

Por respeito à privacidade dos empregados, a Vale diz que não divulga resultados de exames, tampouco o número de funcionários com Covid-19.

Embora esteja trabalhando com um contingente mínimo de pessoas de forma a manter apenas as atividades essenciais com segurança, até o momento a Vale não reportou qualquer impacto na produção e tem falado com frequência das medidas adotadas para evitar o coronavírus em suas instalações, como a implementação de câmeras térmicas para medir a temperatura dos funcionários, aumento do número de ônibus de transporte de empregados, ações para evitar aglomerações, dentre outras.

Em entrevista à Reuters na semana passada, o diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Flávio Penido, não descartou a possibilidade de impactos futuros na produção do Brasil, caso o avanço do coronavírus não seja controlado de maneira adequada.

Nesse cenário, os temores relacionados à ampliação de casos no coração da produção da Vale no Pará não são sem fundamentos. Ao ser alcançada pela pandemia, Parauapebas contava com apenas dez leitos de UTI na rede privada e 14 leitos na rede pública, segundo a prefeitura. Atualmente, tanto os leitos de UTI quanto de enfermaria estão com taxa de ocupação de 100%. Muitos casos, segundo a prefeitura, acabam sendo movidos para atendimento em outras cidades.

Devido ao cenário, a Vale anunciou ao final de março 1,5 milhão de reais para reformar e ampliar a ala de internação do Hospital Municipal de Parauapebas, com o acréscimo de 40 novos leitos de unidade semi-intensiva. Além disso, a mineradora também colocou em funcionamento um Hospital de Campanha juntamente com a prefeitura, com capacidade de 100 leitos.

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