Frete grátis compensa? Para CFO do Mercado Livre (MELI34), ganho de escala trará rentabilidade no médio e longo prazo
Nos últimos meses, a chamada “guerra do e-commerce” ganhou força. Companhias do setor intensificaram a batalha por uma fatia de mercado, muitas vezes com subsídios para conquistar clientes e parceiros. Apesar de parte dos investidores olhar o movimento com receio, para o Mercado Livre (MELI34) ele faz total sentido, mesmo com a possibilidade de margens comprimidas.
Em junho, por exemplo, a empresa anunciou frete grátis em compras a partir de R$ 19 pela plataforma em todo o país.
“Com ganho de escala e um investimento bem-feito, enxergamos que vamos conseguir proteger a nossa rentabilidade. No curto prazo, talvez oneremos ela um pouco, mas sabemos que, no médio e no longo prazo, ela se recupera”, disse o CFO da varejista, João Paulo Lima, em entrevista ao Money Times.
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No terceiro trimestre de 2025, em grande parte por causa dessa batalha, o Mercado Livre trouxe uma margem Ebit (operacional) de 9,8% — o menor valor desde o quarto trimestre de 2023.
Disputa com asiáticas
De acordo com o executivo, a companhia vem se preparando, principalmente, para travar dessa vez uma batalha contra players asiáticos. Nomes como a Shopee, Temu e AliExpress vêm intensificando suas presenças no Brasil com foco total no online e sem o “peso do varejo físico”.
O CFO do Meli afirma que a visão da companhia é que a penetração do e-commerce no Brasil, hoje em cerca de 15% a 16%, ainda é baixa. Na China, por exemplo, as vendas online já representam quase 30% do varejo do país.
“A competição com players asiáticos vai continuar crescendo e nós temos que estar preparados”, afirmou Lima. “O varejo digital brasileiro continuará avançando e, na batalha, os serviços são diferenciais. O consumidor tem de receber o produto rápido em casa e os sellers, para isso, precisam de uma infraestrutura bem estabelecida”.
O executivo destacou que o Mercado Livre tem feito e continuará fazendo investimentos contínuos em sua infraestrutura logística para garantir a penetração no varejo digital. Isso inclui aportes nas operações de fulfillment (quando a companhia faz todo o serviço de logística), nas de cross-docking (quando o vendedor parceiro envia o produto para a varejista distribuir) e em centros de distribuição.
E as brasileiras?
Na frente de competição com as varejistas brasileiras, como Magazine Luiza (MGLU3) e Casas Bahia (BHIA3), o Mercado Livre demonstra menor preocupação.
“Os players locais ficaram muito focados no offline. Eles até alocam parte do esforço deles no marketplace, mas não deixam de ter um foco maior no offline. Nós e os chineses sempre fomos digitais”, comenta.
Segundo ele, a grande participação dos brasileiros no “ainda muito importante varejo físico” acaba diminuindo a rapidez da adaptação para o online.
“O único varejista nacional que de fato tinha um investimento grande em digital era Lojas Americanas. Com a recuperação judicial, porém, ela saiu completamente desse mercado. Nós e os asiáticos pegamos a fatia”, afirma.
Cenário macro
Sobre a situação macro no país, Lima diz que enxerga o consumo instável. Se, de um lado, há a taxa de desemprego em níveis historicamente baixos, do outro, inflação e juros continuam pesando no orçamento das famílias.
“A expectativa de consumo está muito ligada a esse controle inflacionário. Os juros altos, ao mesmo tempo em que seguram o consumo, também acabam impulsionando levemente. Com a inflação controlada, a população tem mais previsibilidade da sua renda”, afirma o CFO do Mercado Livre.
“A família brasileira, dentro do seu orçamento, vem alocando parte da renda no varejo online. Principalmente quando veem vantagem em preço e conveniência”.