Galípolo vê inflação disseminada e desvalorização do real impactando a alimentação

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, alertou que a inflação no Brasil está disseminada entre os grupos e que não é algo pontual.
Em março, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,56% em março. Com isso, a inflação acumula registra alta de 2,04% no ano e de 5,48% em doze meses. O acumulado de um ano do IPCA segue acima do teto da meta de inflação perseguida pelo Banco Central em 2025. O alvo é 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual (p.p.) para baixo ou para cima.
“Quando a gente olha para os preços, percebe que a inflação acima da meta está bastante disseminada e não é algo pontual. Tanto que a gente olha para o IPCA para segmentos mais voláteis e consegue enxergar uma inflação que está bastante acima da meta disseminada por vários produtos, sejam bens industriais ou sejam serviços”, afirmou Galípolo, durante audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.
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O economista ainda afirmou que as expectativas de inflação sofreram uma desancoragem, que é um elemento importante na gestão da política monetária. “Ela já vinha parcialmente desancorada ao longo de 2023 e essa desancoragem cresce para todos os vértices, tanto para 2025, 2026 e 2027, estando acima da meta”.
Segundo o presidente da autoridade monetária, nesse tipo de situação, cabe ao Banco Central ser o “chato da festa”.
“Quando a festa está ficando muito aquecida e o pessoal está subindo em cima da mesa, tira a bebida da festa. Mas também quando o pessoal está querendo ir embora, você fala: ‘fica, esta chegando mais bebida, fiquem tranquilos, vai ter música, podem continuar na festa’. Então você tem esse papel meio chato de ser o cara que está sempre na contramão”, afirmou.
Galípolo ainda destacou que a alimentação em domicílio é o grupo do segmento de preços livres mais impactado por uma depreciação cambial.
Impacto dos EUA para o Brasil
Sobre as medidas tarifárias de Donald Trump, Galípolo avalia que as incertezas do cenário internacional tem sido o vetor principal da determinação dos preços na dinâmica do mercado. Segundo ele, o dólar veio perdendo força com a ideia de uma desaceleração nos Estados Unidos.
“O que estamos vendo agora é um movimento que pode caminhar para um cenário de aversão ao risco. Se essa guerra tarifária escalar, podemos ter uma desaceleração mais abrupta e mais forte da economia global”, disse.
Ele destaca que, nesse tipo de cenário, é comum que os investidores tentem se proteger com ativos mais líquidos e que ofereçam menos risco, o que já costuma se desafiador para as economias emergentes.
Apesar disso, segundo Galípolo, a economia brasileira mostra um dinamismo excepcional e está bastante aquecida, não apenas pela “exuberância das safras”, mas também em indicadores que mostram atividade acentuada da economia.