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Ganho no day trade não bate salário mínimo no Brasil

17 ago 2020, 9:46 - atualizado em 17 ago 2020, 10:51
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Cerca de 0,5% desses traders, que foram acompanhados durante 300 pregões, obtiveram ganho superior ao salário típico de um atendente de caixa de agência bancária (Imagem: Pixabay/Audy0073)

Pensando em largar sua profissão e tentar ganhar a vida negociando ações usando a conta de uma corretora que não cobra comissão? Boa sorte.

Pesquisadores brasileiros estudaram indivíduos que faziam transações de curto prazo com contratos do Ibovespa e concluíram que, entre 1.551 investidores pessoa física, apenas 1,1% tiveram retorno líquido médio superior ao salário mínimo em pouco mais de um ano.

Cerca de 0,5% desses traders, que foram acompanhados durante 300 pregões, obtiveram ganho superior ao salário típico de um atendente de caixa de agência bancária.

O estudo, que está em linha com outras descobertas sobre essa inadequação, foca na negociação de contratos futuros por pessoas físicas no Brasil, em oposição ao hábito de seleção cuidadosa de ações específicas que prevalece nos EUA. Porém, os autores acreditam que a conclusão pode ser aplicada amplamente.

Escrito por Fernando Chague e Bruno Giovannetti, da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EESP), e Rodrigo De-Losso, da Universidade de São Paulo (USP), o estudo afirma que “é virtualmente impossível para pessoas físicas ganharem a vida como day traders”.

A prática de investir por conta própria disparou durante a pandemia do coronavírus e é fato que muitos traders iniciantes se deram notavelmente bem — até agora. Uma carteira do Goldman Sachs Group formada por ações bastante populares entre pessoas físicas subiu 78% desde as mínimas atingidas em 23 de março, superando o salto de 51% do S&P 500.

A prática de investir por conta própria disparou durante a pandemia do coronavírus (Imagem: Pixabay/Audy0073)

Embora esses ganhos tenham sido fáceis durante um dos períodos de mais rápida recuperação do mercado acionário, Chague alerta que o estudo, que acompanhou traders ativos entre 2013 e 2017, apresenta motivos para ceticismo.

“Você pode dar sorte e ter um bom desempenho em alguns dias, mas com o tempo fica cada vez mais difícil”, disse ele. “A maioria deles perdeu dinheiro.”

Os day traders são uma força crescente nos mercados de ações desde que a pandemia do coronavírus deixou milhões de pessoas em casa sem nada para fazer. O ritmo de abertura de contas em corretoras voltadas para o investidor de varejo bateu recorde e aplicativos de negociação que não cobram taxa, como Robinhood, tornaram o mercado mais acessível do que nunca.

Ainda que o investidor individual não tenha tanto peso quanto o investidor institucional, sua presença está mais chamativa. Os investidores de varejo formam agora o segundo maior grupo atuante no mercado acionário dos EUA, responsáveis por 19,5% dos negócios com ações, de acordo com dados da Bloomberg Intelligence.

Os formadores de mercado e operadores de alta frequência ainda respondem pela maior parte dos negócios, de 43,5%, mas o segmento de varejo tem presença maior do que investidores quantitativos, fundos de hedge, entidades tradicionais que só tomam posições compradas e traders afiliados a bancos.

Gestores de recursos tradicionais observam a renascença dos traders pessoa física com cautela. Ações de gigantes de tecnologia, bastante populares entre esses investidores, impulsionaram as carteiras desse público nos últimos meses.

No entanto, durante um período mais longo, mesmo os que selecionam ações profissionalmente dão sorte se acertarem mais de 60% de suas decisões, segundo a Gradient Investments.

“Fico um pouco nervoso vendo esse dinheiro do varejo ou pessoas que estão comprando ações e de repente ganhando 20%, 30%, 40% em questão de dias e semanas e pensando que é assim tão fácil”, disse Keith Gangl, gerente de carteiras da Gradient. “O que acaba acontecendo é que cada vez mais gente tenta isso e, de repente, tem gente demais tentando, não consegue e acaba perdendo muito dinheiro.”

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Assista o bate-papo sobre Day Trade com os autores do estudo:

bloomberg@moneytimes.com.br