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Coluna da Tatiana Sendin

Geração Z e IA: Os grandes desafios para os negócios

16 dez 2024, 11:31 - atualizado em 16 dez 2024, 11:31
geração z youtube
Lidar com a Geração Z é um desafio para quase 70% das empresas no Brasil, segundo uma pesquisa do Great Place to Work. (Imagem: Unsplash/Devin Avery)

Lidar com os jovens no atual mercado de trabalho é tão complexo quanto imaginar o impacto da inteligência artificial generativa nos negócios. Essa foi a conclusão dos executivos presentes em um evento online organizado por Jennifer Vessels, uma executiva com passagens em empresas como GE, Google, Microsoft e Novartis, para discutir a nova realidade para os líderes de negócios, uma previsão para 2024.

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No grupo, líderes de diversas gerações. O consenso era de que a inteligência artificial (IA) é um desafio do mundo moderno. Mas, conforme a discussão avançava, ficou claro que a Geração Z também é uma incógnita para executivos e empresários. Um dos participantes chegou a comentar que entender os Zs era tão ou mais difícil do que compreender os impactos da IA.

Em menos de dois anos, a inteligência artificial já domina diversos campos das nossas vidas, do celular à robótica. Consegue ler e interpretar textos complexos, escolher o melhor sorriso de cada um na foto, preparar o café da manhã e atender os clientes. Seu potencial de transformação de todos os setores é enorme – e ainda desconhecido. Naquele evento, os executivos presentes colocaram nesse mesmo patamar de disrupção os jovens da Geração Z.

Nascidos entre 1997 e 2012, os membros mais velhos dessa geração já estão no mercado de trabalho e trazem comportamentos nunca vistos antes nesse ambiente – que, de geração a geração, tem mantido mais ou menos o mesmo jeito de ser. A Geração Z, porém, discute abertamente na empresa sobre estresse e depressão. Esses jovens não só reconhecem que fazem terapia, como também não têm vergonha de dizer que consultam psiquiatra, tomam remédios para combater a ansiedade e outras doenças emocionais, e que não entregaram uma tarefa, por exemplo, por causa de uma crise emocional. Esses profissionais impõem limites ao emprego, falam “não” aos gestores e questionam o status quo das organizações.

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Essa geração já representa 30% da população global e estima-se que ocupará mais de um quarto da força de trabalho até 2025, substituindo os últimos Boomers que estão se aposentando. Assim como a inteligência artificial, a Geração Z vai fazer com que modelos de negócios, estruturas de trabalho, planos de carreira e de recompensa sejam repensados. Não à toa, lidar com a Geração Z é um desafio para quase 70% das empresas no Brasil, segundo uma pesquisa do GPTW.

De acordo com uma pesquisa da Deloitte, os Zs esperam separar a vida pessoal da profissional, poder tentar e errar, ter controle sobre o trabalho, flexibilidade e reconhecimento no emprego.

Uma pesquisa da Stanford nomeia os Zs como “Agentes de mudança”: eles questionam tudo, gostam de descobrir por conta própria, querem colaborar e preferem decisões por consenso – o ambiente dá o contexto. A Geração Z cresceu em um mundo em rápida transformação.

Para eles, mudar não é uma expectativa, é uma certeza. E eles desejam ser os agentes de mudança, inclusive nas empresas. Um em cada três jovens da Geração Z espera que os líderes façam mudanças para acomodá-los, mas não acreditam que isso acontecerá. Gestores, por sua vez, afirmam que Zs têm expectativas irreais sobre o ambiente de trabalho e que lhes faltam habilidades pessoais. Mais de 80% dos gerentes acreditam que a Geração Z precisa de mais orientação, tempo e treinamento em soft skills.

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Está formado o combate. De um lado, pessoas que, como eu, cresceram ouvindo os pais dizerem que devemos fazer um bom trabalho, ouvir o chefe e “trabalhar direitinho”, sinônimo de trabalhar muitas horas e priorizar o trabalho à vida pessoal. Para as empresas, o estereótipo de “talento” é aquele que dá o sangue pelo emprego, comprometido, que trabalha em média 12 horas por dia e até aos fins de semana, se necessário. Que perde aniversários de família pelo serviço.

Do outro lado, temos os jovens. E as pesquisas. Pesquisas que indicam que, pelo número de pessoas com estresse, depressão e burnout, o modelo de trabalho atual não é sustentável. Os jovens crescem nesse cenário. Falam abertamente que fazem terapia, que tomam remédio, que visitam o psiquiatra e que não entregaram uma tarefa por causa de uma crise de ansiedade. Aliás, 70% dos jovens até 22 anos que participaram da pesquisa Saúde Mental no Trabalho, realizada pela Think Work em 2023, afirmaram que tiveram uma crise emocional nos três meses anteriores à pesquisa, contra 55% da média de respondentes de todas as idades. Esses jovens começam a exigir das empresas dias de folga para cuidar da sua saúde mental.

Seu impacto vai além. Se no passado salto alto e terno eram símbolos de poder, hoje os jovens vão para o escritório de crocs, top e calça bag. No Japão, onde isso tem acontecido, serve como um movimento de contracultura, questionando esse ambiente de trabalho como as gerações antigas desenharam e foram passando de geração a geração, com poucas e pontuais mudanças. Se continuarmos buscando os talentos com as lentes do passado, podemos nos decepcionar com nosso quadro.

E daí talvez valha a reflexão: quem é melhor profissional? Aquele que consegue equilibrar sua saúde física, mental e emocional com a produção de suas tarefas, mesmo que isso signifique dizer alguns “nãos”? Ou aquele que está disponível 24 horas por dia, sete dias por semana, e que acaba vítima de um burnout?

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Os RHs precisam adaptar as organizações para essa força jovem. No prêmio Think Work Innovations, vemos que algumas organizações começam a adicionar treinamentos comportamentais nos programas de estágio e trainee. Muitos dos jovens, por causa da pandemia, não tiveram a chance de experimentar o primeiro trabalho in loco, apenas virtual. E perderam os ensinamentos tácitos que se aprendem com os outros.

As companhias também começam a criar programas de desenvolvimento de jovens que oferecem mais projetos para eles cuidarem, desenharem, quebrarem a cabeça e apresentarem a solução. Não são projetos fictícios, só para seleção. São projetos reais, que, se bem-feitos, vão trazer benefícios para a empresa, agilidade e até economia financeira.

Mas, além do RH preparar a organização, todos nós precisamos aprender a aceitar a nova geração. Talvez essa ideia de trabalho que eles trazem – mais flexível, mais humana, menos “máquina de moer carne” – não seja tão ruim assim e até faça sentido. Vamos precisar mudar nosso conceito do que é um bom funcionário. Mas isso faz parte da evolução.

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Tatiana Sendin é fundadora e CEO da Think Work. Jornalista especializada em negócios e recursos humanos, nos últimos 20 anos, tem escrito sobre carreira, mercado de trabalho, gestão de pessoas, empreendedorismo e tecnologia.
tatiana.sendin@moneytimes.com.br
Tatiana Sendin é fundadora e CEO da Think Work. Jornalista especializada em negócios e recursos humanos, nos últimos 20 anos, tem escrito sobre carreira, mercado de trabalho, gestão de pessoas, empreendedorismo e tecnologia.
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