Gestoras mantêm cautela sobre corte da Selic ainda em 2025 – como elas estão posicionadas?

O mercado financeiro segue dividido sobre o momento em que o Banco Central (BC) dará início ao ciclo de cortes da Selic. Parte dos analistas aposta em um movimento já em dezembro deste ano, enquanto outros projetam a primeira redução apenas no primeiro trimestre de 2026.
Nas Opções de Copom, há quem precifique corte de 0,25 ponto percentual em dezembro, com contratos negociados a R$ 17,61. A maioria, porém, ainda espera manutenção dos juros na última reunião de 2025, com apostas avaliadas em R$ 62,97.
Para o início de 2026, as projeções do mercado se dividem entre corte já em janeiro ou apenas no encontro de março.
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Diante desse cenário incerto, os gestores têm adotado uma postura cautelosa no mercado de renda fixa.
Enquanto a Reach Capital e a SulAmérica Investimentos mantêm posições direcionais voltadas à queda de juros, a LifeTime e a Acqua Vero optam por uma abordagem mais conservadora, realizando apenas ajustes táticos em suas carteiras.
Reach: Posições em inflação implícita e juros
Norberto Alves, portfolio manager na Reach Capital, explica que a estratégia da gestora está apoiada na leitura de que a inflação mostra sinais de desaceleração, abrindo espaço para cortes na Selic.
“Estamos vendo alguns sinais baixistas para a inflação no curto prazo e um movimento relevante de revisão de vários bancos e corretoras para as projeções de inflação, tanto no ano de 2025 quanto de 2026. Níós temos números entre 4,3% e 4,6% para 2026 e com riscos ainda baixistas”, afirma.
Alves espera que o Banco Central comece a cortar juros no início de 2026, possivelmente em janeiro, uma vez que as condições já vão estar apropriadas. Ele, no entanto, não descarta a antecipação do ciclo. “Existe algum risco, caso haja alguma descontinuidade nos dados de inflação, de que esse ciclo de cortes seja adiantado”.
Na carteira, a Reach mantém posições aplicadas na ponta curta da curva de juros nominais, via DI1F28 (janeiro/2028), hoje em 13,27%. Já em inflação implícita, a casa aposta em posições vendidas até a NTN-B 2027 (B27).
“Temos espaço para aumentar essas posições, a gente não está all-in. Eu diria até que as nossas posições estão entre pequenas e médias, e não mais do que isso”, afirma Alves, sinalizando que prefere avançar de forma gradual, aproveitando momentos de abertura da curva para ampliar a exposição.
SulAmérica: Viés aplicado em juros
Na SulAmérica Investimentos, o cenário base também é de início do ciclo de cortes no primeiro trimestre de 2026, com a Selic caminhando até 11,5%. Guilherme Baran, gestor de renda fixa e multimercados da casa, avalia, inclusive, que o risco maior é de antecipação do ciclo, e não de adiamento.
O diagnóstico se apoia na desaceleração da atividade, já perceptível em indicadores de varejo, serviços, crédito e confiança. Além disso, a inflação tem surpreendido positivamente, com revisões baixistas nas projeções, enquanto a valorização do real ao longo do ano reforça o trabalho do BC no controle de preços.
Na alocação, a gestora mantém viés aplicado em juros, principalmente na parte intermediária da curva.
Segundo Baran, eles alternam entre DI janeiro/28, prefixados e NTN-Bs de vencimento em 2030, com ajustes frequentes em função da elevada volatilidade do mercado.
LifeTime: Carteira com prazo mais longo
Na LifeTime, o discurso é de cautela em relação ao movimento de queda da Selic, mas a estratégia de investimentos já reflete uma preparação para esse cenário. Fernando Katsonis, CEO da gestora, afirma que, mesmo sem montar posições explícitas para corte de juros, a casa optou por alongar o prazo médio dos títulos da carteira.
“Nós aumentamos o duration de carteira, obviamente já apostando nesse corte. Nosso duration, que estava 2,7 e 2,8 anos, quase dobrou e agora é superior a quatro anos”, disse Katsonis.
Para ele, a queda da Selic é inevitável diante da desaceleração da atividade econômica. “Na minha visão, o corte de juros vem, não tem como segurar isso. A curva média e o início da longa também vão acompanhar”.
Ainda assim, o executivo destaca que a inflação segue pressionada e deve continuar acima do teto da meta no próximo ano. “Não acreditamos que a inflação se sustenta nem no teto da meta, ela deve continuar estourada”, afirma.
Acqua Vero: Cautela com o fiscal
Já a Acqua Vero mantém uma postura ainda mais conservadora. Para Marcelo Karvelis, CIO da gestora, o grande desafio para cortes de juros no Brasil está no descompasso entre política monetária e fiscal.
“O juro real de curto prazo é de quase 10% ao ano. É extremamente elevado, e é um freio natural para a economia. Só que, por outro lado, tem uma expansão fiscal acontecendo com uma velocidade também muito rápida”, afirma.
Segundo Karvelis, esse cabo de guerra mantém as expectativas de inflação desancoradas no longo prazo, o que limita a capacidade do Banco Central de reduzir a Selic. “Não vemos, hoje, nenhum corte para este ano. Começamos a ver possibilidade de corte para o primeiro trimestre do ano que vem, mas condicionado a uma expectativa fiscal um pouco melhor.”
A Acqua Vero, portanto, não tem posições aplicadas em juros futuros. “Não temos aposta nisso, porque não temos clareza.”
A preferência é por títulos indexados à inflação, que, segundo o CIO, oferecem proteção em cenários de piora fiscal e ainda pagam taxas reais historicamente elevadas. “Quando olhamos os mercados, preferimos os títulos indexados de inflação aos títulos prefixados.”
Um consenso: A política pesa
Embora divirjam sobre o momento do primeiro corte da Selic, os gestores concordam que o ambiente político e fiscal será determinante para os próximos passos.
Para a Reach, pesquisas eleitorais já têm impactado diretamente os preços no mercado. A LifeTime também enxerga a eleição como fator central para os rumos da economia.
A SulAmérica reforça essa percepção e avalia que a condução da política fiscal durante o período eleitoral será decisiva para calibrar a extensão do ciclo de cortes, já que incertezas em relação às contas públicas podem limitar a queda dos juros.
Já a Acqua Vero alerta que apenas uma mudança de postura — ou até mesmo de governo — poderia abrir espaço para cortes mais expressivos.