Gestores têm visão positiva para Brasil no curto prazo, mas incertezas persistem no médio e no longo

O Itaú BBA realizou, no fim da última semana, um evento com alguns dos principais gestores do país para captar o atual sentimento do mercado. Em comum, prevaleceu o otimismo para o Brasil no curto prazo, mas também a percepção de que as incertezas continuam relevantes quando se olha para horizontes mais longos.
Na frente macroeconômica, participaram nomes como Carlos Viana, economista-chefe da Kapitalo, e Pedro Jobim, da Legacy. Já do lado do buy side, marcaram presença gestores como Florian Bartunek, CIO da Constellation, e Sylvio Castro, head de investimentos globais do Itaú.
O que sustenta a visão positiva para os próximos seis a doze meses é, principalmente, a perspectiva de que o Federal Reserve iniciará um novo ciclo de cortes de juros ainda em 2025 — movimento que tende a beneficiar ativos de risco em mercados emergentes.
“Os gestores concordam que o ciclo de curto prazo, de seis a 12 meses, é positivo para emergentes e, por conseguinte, para o Brasil”, disse Daniel Gewehr, head de estratégia de ações do BBA e host do evento, ao Money Times. “Eles esperam que o Fed corte os juros entre 75 e 125 pontos-base e, historicamente, quando isso acontece, ativos de maior risco se beneficiam.”
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No Brasil, a expectativa é de que o Banco Central comece a reduzir a Selic no início de 2026, reforçando o fluxo para a Bolsa de valores.
Os gestores lembraram que os ciclos de corte de juros no Brasil costumam ser um gatilho importante para valorizações expressivas da Bolsa. “Quando o BC começa a cortar juros, historicamente, o mercado entrega quase 40% de retorno. Ele dá 18% em seis meses, na média, e todos os movimentos de corte foram positivos para a Bolsa brasileira”, destaca Gewehr.
Desequilíbrio entre NTN e Bolsa
Os participantes também discutiram a dinâmica atual da renda fixa brasileira e da Bolsa.
Do lado dos títulos públicos, a União ampliou, recentemente, a quantidade de leilões do Tesouro Nacional, o que aumentou a oferta de NTNs e pressionou preços.
Já a Bolsa vive um movimento oposto: redução do número de papéis disponíveis, seja por fechamentos de capital, seja por recompras. Para Christian Keleti, sócio da Alpha Key, o efeito tende a se intensificar: “Quando o ciclo virar, vai faltar papel.”
Além disso, os programas de recompra reforçam a percepção de que os ativos brasileiros estão descontados. Diferentemente dos EUA, onde os buybacks têm vantagem tributária, no Brasil eles são menos eficientes que dividendos — isentos de imposto de renda. Assim, para os especialistas, quando empresas optam por recompras, estão sinalizando convicção de que as ações estão baratas.
E mesmo após a alta de mais de 20% do Ibovespa em 2025 (30% em dólar), outros emergentes também subiram no período. “O valuation do Brasil saiu de 6,5 vezes para 8,5 vezes, mas, no relativo, ele segue interessante”, disse Gewehr.
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Preferência por setores defensivos
Apesar do otimismo, os gestores reforçaram a preferência por setores mais resilientes.
“O setor de infraestrutura é protegido pela inflação, trazendo retorno real. Já o setor financeiro tem o carrego da Selic ao longo do tempo, com retorno nominal interessante”, explicou Gewehr.
A escolha por setores defensivos decorre das incertezas no médio e longo prazo.
Para o Brasil, os gestores destacaram que dificilmente o país repetirá o juro real baixo do ciclo anterior (3%–3,5%). A avaliação é de que, mesmo em cenário benigno, o país deve conviver com juros reais de 4,5% a 5%, reflexo de uma política fiscal expansionista e do déficit persistente — fatores que reduzem a atratividade estrutural da Bolsa.
Em relação a 2026, o consenso é de que ainda há pouca visibilidade. “Sobre eleições, por exemplo, o discurso geral é de que a visibilidade ainda é muito pequena. As incertezas no médio prazo continuam e, no longo, ninguém se posicionou”, acrescentou Gewehr.
No campo das ações específicas, os gestores apresentaram nomes considerados de alta convicção. Rodrigo Farinelli, da Absolute, reforçou Sabesp (SBSP3) e Prio (PRIO3) como suas maiores posições. “A argumentação de Sabesp é que é uma história de infraestrutura com crescimento previsível. Já a Prio deve gerar mais de 30% de free cash flow yield no ano que vem, o que mostra uma geração de caixa contratada bastante relevante”, afirmou.
Outro destaque foi Copel, citada por Christian Keleti, da Alpha Key: “A empresa foi privatizada e deve se tornar um dos melhores pagadores de dividendos nos próximos anos, com yield ao redor de 11% a 12%.” Para ele, o “delta dividendo” da companhia tende a ser um diferencial no portfólio.