Gigantes industriais recuperam terreno à medida que turbulência tarifária diminui
As empresas industriais passaram por uma montanha-russa neste ano enquanto tentavam se ajustar às políticas comerciais em constante mudança do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Mas, neste trimestre, executivos sugerem que a confusão pode estar diminuindo, já que as corporações tiveram tempo para se adaptar às tarifas mais altas sobre as importações norte-americanas de produtos estrangeiros.
Diferentemente da primeira metade do ano, algumas das principais companhias norte-americanas que refletem a “economia real” — fabricantes de máquinas pesadas, motores e empresas de construção — conseguiram navegar nesse ambiente com forte demanda, redução de custos e aumentos de preços para compensar as tarifas impostas pela administração Trump. Embora ainda existam muitas preocupações quanto aos próximos trimestres, o fator de imprevisibilidade diminuiu, dizem os executivos.
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“Certamente, do ponto de vista de custos e talvez também da demanda, as tarifas já não são mais o principal foco aqui”, disse Michael Larsen, diretor financeiro da Illinois Tool Works, em teleconferência com analistas após a divulgação dos resultados na semana passada.
Empresas que divulgaram resultados entre 16 e 31 de outubro estimaram um impacto total de cerca de US$ 7 bilhões nos lucros globais, segundo uma análise da Reuters, embora a temporada de balanços ainda esteja na metade. No segundo trimestre, esse valor havia sido estimado entre US$ 16,2 bilhões e US$ 17,9 bilhões.
Crescimento mais forte de receita
As empresas industriais dos EUA estão registrando o maior crescimento anual de receita desde o primeiro trimestre de 2023, com alta de 6,3%, segundo dados compilados pela LSEG.
Durante o verão (no hemisfério norte), a fabricante de equipamentos Caterpillar estimou que as tarifas custariam entre US$ 1,5 bilhão e US$ 1,8 bilhão em 2025. Nos resultados divulgados em 29 de outubro, a empresa reduziu a faixa para US$ 1,6 bilhão a US$ 1,75 bilhão após um trimestre forte e suas ações subiram 12%.
“De modo geral, as empresas industriais estão fazendo um bom trabalho em administrar a incerteza e as mudanças no cenário tarifário”, disse Joshua Schachter, diretor de investimentos da Easterly Asset Management.
As gigantes de logística UPS e FedEx cortaram custos para compensar o fim da isenção tarifária para remessas de comércio eletrônico de baixo valor. No entanto, a UPS também reduziu drasticamente sua folha de pagamento, eliminando 48 mil empregos em meio à pressão contínua sobre seus negócios neste ano.
Analistas temem que o cenário sombrio entre consumidores de baixa e média renda, que já atingiu empresas de bens de consumo como a Newell, se espalhe para outros setores da economia.
Além disso, o governo Trump firmou acordos com vários países que estabeleceram tarifas sobre importações estrangeiras entre 15% e 20%, após uma pausa anterior que as havia mantido em 10%. Esse impacto ainda não foi plenamente sentido.
“Este é o verdadeiro começo do momento em que os efeitos das tarifas começaram a se fazer sentir”, disse Angela Santos, sócia e líder do grupo de prática aduaneira da ArentFox Schiff. “Ainda estamos em outubro e os aumentos das tarifas recíprocas começaram em agosto, então não faz tanto tempo assim”.
Empresas europeias ainda sob pressão
Algumas empresas europeias que dependem das vendas para os EUA têm enfrentado situações ainda piores, já que os importadores norte-americanos estão menos propensos a comprar seus produtos devido às tarifas elevadas.
A fabricante sueca de rolamentos SKF, considerada um termômetro da manufatura global, prevê demanda fraca no curto prazo, já que os clientes permanecem cautelosos diante das tarifas e da incerteza.
“Se conseguirmos um pouco mais de calma e estabilidade, acho que veremos a demanda retornar”, disse o CEO da empresa, Rickard Gustafson.
A também sueca HIAB, fabricante de equipamentos de construção, disse à Reuters que os pedidos começaram a cair desde meados de fevereiro por causa das tensões comerciais.
A Federação Alemã de Engenharia (VDMA), que representa 3.600 empresas de maquinário e engenharia industrial, alertou que mais da metade das exportações de máquinas da Alemanha e da Europa pode ser afetada por novas tarifas, caso Washington amplie a lista de produtos de aço e alumínio sujeitos a sobretaxas.
Montadoras europeias, como a Volkswagen, têm sido particularmente atingidas — a empresa relatou um impacto tarifário de US$ 5,8 bilhões em seus resultados mais recentes.
O Yale Budget Lab, que acompanha políticas comerciais, afirma que a taxa efetiva média de tarifas dos EUA chegou a 18% em meados de outubro, o nível mais alto em mais de 90 anos.
As novas tarifas de 25% da administração Trump sobre caminhões médios e pesados importados e suas peças estão programadas para entrar em vigor em 1º de novembro, incluindo caminhões basculantes e tratores para carretas de 18 rodas, além de uma tarifa de 10% sobre ônibus importados.
Os efeitos completos ainda não foram sentidos, pois muitas empresas industriais ainda estão trabalhando com estoques antigos não atingidos pelas novas tarifas, explicou Don Marleau, diretor-gerente de metais e bens de capital da S&P Global.
“Em muitos casos, ainda não temos custos mais altos de tarifas, apenas estimativas mais altas desses custos”, afirmou Marleau.