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Gringos ficam na bolsa brasileira, mas sem brilho nos olhos

26 jan 2022, 9:35 - atualizado em 26 jan 2022, 9:44
Mercados Europa DAX
(Imagem: Reuters/Kai Pfaffenbach)

O investidor estrangeiro está comprando ações brasileiras em pleno ano eleitoral, mas analistas não têm grandes expectativas sobre essas posições.

Isso porque o fluxo é direcionados aos papéis de commodities, que fazem parte da categoria de empresas de valor – para o qual os investidores têm direcionado recursos em detrimento das ações de tecnologia, impactadas pelo aperto monetário em todo o mundo.

Até quinta-feira (20) o montante de compras acumuladas em janeiro era de R$ 219,033 bilhões e o de vendas chegava a R$ 200,976 bilhões, em um saldo positivo de R$ 18,057 bilhões na Bolsa, de acordo com dados disponibilizados pela B3.

Segundo a corretora Commcor, o Brasil tem sido favorecido por uma postura mais dura do Federal Reserve (o BC norte-americano), um “cenário de commodities bastante tracionadas” e, mais recentemente, uma “postura surpreendentemente dovish do Banco Central Chinês (PBoC)”.

A autoridade monetária da China vem conduzindo ajustes específicos para garantir suporte para a economia do país em um momento de desaceleração do crescimento e crise de confiança no sistema em meio aos desafios enfrentados pela Evergrande.

O analista de ações Rodrigo Crispe, da corretora Guide Investimentos, adiciona ainda como motivo para o ingresso estrangeiro o fato de que a bolsa brasileira estaria barata se comparada com múltiplos de pares de outros países.

Além disso, ele lembra do real desvalorizado frente ao dólar. “Enquanto houver esse ciclo com viés contracionista [dos bancos centrais], os estrangeiros vão manter posição”, afirma Crispe, que também não espera compras por parte dos investidores por todo o ano.

A economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, diz ser “complicado” prever que o investidor estrangeiro continuará ingressando na bolsa brasileira, por causa da indicação do Fed de que aumentará a taxa básica de juros.

A perspectiva de aperto monetário, ressalta, fará com que os Títulos do Tesouro norte-americano ofereçam retornos mais atrativos, considerando o risco. “A gente não sabe dizer se isso [o movimento de compra] vai ser duradouro porque existe um certo limite em termos de exposição”.

Abdelmalack comenta que não cravaria nem que o saldo de fluxo será positivo no resto do trimestre. “Não dá para se enganar”, afirma. “Vai ter processo inflacionário e a gente não vai ter crescimento econômico neste ano”.

Para a analista, é difícil vislumbrar ganho acionário no atual contexto, “com muita volatilidade e com o mercado se adequando ao processo eleitoral.

“Quem não tem inclinação a essa emoção, pode aproveitar esses momentos mais tranquilos e ver se tem oportunidade de realização”, comenta.

O Ibovespa sobe 4,40% no último mês, aos 110,2 mil pontos.

Editor
Jornalista formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), com MBA em finanças pela Estácio. Colaborou com Gazeta do Povo, Estadão, entre outros.
kaype.abreu@moneytimes.com.br
Jornalista formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), com MBA em finanças pela Estácio. Colaborou com Gazeta do Povo, Estadão, entre outros.