Colunistas

Guilherme Sales: Open Banking vai acelerar e integrar vida financeira de empresas e pessoas

25 nov 2021, 11:33 - atualizado em 25 nov 2021, 11:33
Guilherme Sales, Gerente da Peers Consulting
Desafio: bancos devem melhorar sua comunicação com clientes para não perdê-los, diz Sales (Imagem: Divulgação/ Peers)

*Por Guilherme Sales

Não é de hoje que a experiência dos usuários com os bancos é insatisfatória. Quem nunca precisou passar horas em uma fila de espera para ser atendido em uma agência bancária? Ligações intermináveis nos canais de atendimento? Repetir os dados pessoais e contar a mesma história toda vez que procura um produto financeiro? E mais, quem passou por tudo isso e ainda não teve o problema resolvido?

Porém, nos últimos anos, estamos presenciando uma mudança nesse cenário. A chegada das fintechs e bancos digitais acelerados por inovações tecnológicas aumentou o leque de possibilidades de instituições e produtos disponíveis aos clientes.

A tendência para os próximos anos é que a tecnologia, aliada às novas regulamentações e práticas, transforme completamente o setor de serviços financeiros, colocando o consumidor numa posição de destaque.

O Open Banking é uma prática que vem para revolucionar o setor de serviços financeiros, viabilizando maior integração da vida financeira das empresas e pessoas de forma a gerar maior agilidade em processo para aquisição de produtos financeiros nas instituições.

Mas afinal, o que é o Open Banking?

O Open Banking é um sistema financeiro aberto criado pelo Banco Central que possibilita que clientes de produtos financeiros compartilhem seus dados e vida financeira entre as diferentes instituições cadastradas nessa plataforma. Em maio de 2021, o Banco Central anunciou que o atual modelo deve ser substituído pelo Open Finance, que nada mais é que uma expansão do modelo atual para bancos e também para diversas outras instituições financeiras como seguros, previdência etc.

A ideia do sistema é permitir que o cliente pegue todas as suas informações registradas em uma instituição e as leve para onde quiser sem ter que começar um relacionamento do zero com um banco, fintech, ou qualquer outra instituição financeira. Em resumo, caso você autorize, as instituições poderão ter acesso aos seus dados em um ambiente único. Por exemplo: se você quiser, poderá autorizar uma companhia de seguros a ter dados do seu histórico financeiro para conseguir condições melhores. No Brasil, os dados a serem compartilhados serão:

•Pessoais (nome, CPF/CNPJ, telefone, endereço);

•Transacionais (informações sobre renda, faturamento no caso de empresas, perfil de consumo, capacidade de compra, conta corrente, entre outros);

•Produtos e serviços que o cliente usa (informações sobre empréstimos pessoais, financiamentos).

É importante ressaltar que não significa que os dados de todos os usuários serão públicos. As instituições só terão acesso às informações se o dono do histórico permitir o compartilhamento.

O sistema promete diversas vantagens tanto para clientes quanto para as instituições financeiras. Provendo transparência e centralização das informações, irá estimular a competição no mercado, criação de novos produtos, taxas mais atraentes, melhoria no atendimento e mais segurança de informações pessoais.

Quando será implementado?

Um dos primeiros países a adotar Open Banking foi o Reino Unido, em maio de 2018. Atualmente, os países da Europa, Índia, México e Austrália estão entre os principais com a implementação em andamento. No Brasil, o processo começou em fevereiro de 2021 e passará por quatro fases, que irão até 2022.

O compartilhamento de dados pessoais e histórico de transações iniciou na 2ª fase do programa em agosto desse ano, e as próximas fases têm como objetivo ampliar o número de informações a serem disponibilizadas, bem como desenvolver novas funcionalidades para a plataforma, como, por exemplo, comparação de produtos de crédito.

Quais os principais benefícios para os clientes e instituições financeiras?

Para clientes:

Mais liberdade e autonomia: Hoje, os processos internos das instituições financeiras são muito complexos e burocráticos e os clientes muitas vezes se veem presos às instituições, já que quanto mais tempo de relacionamento, mais informações as instituições têm a seu respeito. Com o Open Banking, os clientes terão mais autonomia para escolher as instituições com os produtos mais adequados para o seu perfil.

Menos custos: Esse sistema é muito mais integrado e, assim, os bancos poderão cortar intermediários e tornar processos mais rápidos e baratos. Será possível fazer tudo de um aplicativo só (inclusive por um aplicativo de mensagens).

Mais competição: Com a redução da barreira de entrada para novos serviços e produtos, o Open Banking criará um ambiente mais competitivo e com mais opções para os consumidores. Exemplificando, se a opção de empréstimo de um banco tem taxas e juros muito altos, o cliente poderá optar por levar todo o histórico e pedir uma proposta melhor para uma outra instituição, a fim de comparar os juros. Se quiserem manter seus clientes, as instituições terão que oferecer mais produtos e condições melhores.

Controle dos dados e histórico financeiro: O cliente terá total controle dos seus dados financeiros – um histórico que antes pertencia exclusivamente às instituições financeiras. Sempre que houver a necessidade de compartilhar uma informação pessoal, um histórico de crédito ou movimentações, por exemplo, a instituição responsável será obrigada a dividir esses dados com outras empresas, de acordo com o consentimento do cliente. Assim, você não fica preso a uma instituição.

Inclusão financeira: O sistema possibilitará uma maior inclusão para as pessoas ou empresas que enfrentam dificuldade para obter produtos financeiros. O cliente terá mais opções, preços acessíveis e melhores soluções com relação ao dinheiro.

Além dos benefícios citados, o Open Banking traz boas perspectivas para as pequenas e médias empresas. Os empreendedores poderão escolher, com maior facilidade, com quem desejam se relacionar. Dessa forma, poderão analisar opções de produtos disponíveis para o negócio, melhorando o fluxo de recursos financeiros. Assim, a empresa poderá manter uma carteira diversificada com instituições que oferecerem as melhores condições.

É importante ressaltar que é esperado que os empresários tenham menos burocracia e taxas de juros mais atrativas para antecipação de recebíveis. Este é um ponto fundamental para as empresas que precisam de recursos imediatos para o fluxo de caixa, evitando a contratação de outras modalidades de crédito ou, até mesmo, o uso do cheque especial, cuja taxa de juros é uma das mais caras do mercado.

Para as instituições financeiras:

Inovação no sistema financeiro: Com o intuito de reter a base de clientes, os bancos, fintechs e outras instituições financeiras terão que trazer soluções cada vez mais inovadoras para facilitar o dia a dia das pessoas.

Redução de custos operacionais: As instituições terão custos menores graças à integração do novo sistema e eliminação de intermediários. Com a disponibilização do histórico financeiro dos clientes, as instituições poderão reduzir consideravelmente o esforço operacional para coleta e armazenamento de dados.

Oportunidade de aumentar a base de clientes ativos: Com a facilidade do compartilhamento de dados e a oferta de melhores produtos e condições, as chances de atrair novos clientes aumentam com o Open Banking. Assim, as empresas também têm a oportunidade de conquistar novos clientes que antes não estariam dispostos a iniciar um novo relacionamento.

Como se adaptar à mudança?

Para evitar que seus clientes busquem outras opções no mercado, bancos e instituições financeiras precisam evoluir o modelo de negócio a fim de melhorar a experiência do cliente com atendimento e produtos diferenciados.

A comunicação, sem dúvidas, é um dos principais fatores responsáveis pelas transformações ocorridas nas tomadas de decisão dos clientes do setor de produtos financeiros. Com as restrições impostas pela pandemia, esse cenário foi acelerado e muitos clientes passaram a buscar alternativas para solucionar suas demandas sem sair de casa, se afastando dos atendimentos presenciais.

Nesta interface com as instituições se encontram as maiores dificuldades no atendimento, como a falta de integração entre sistemas, necessidade de repetir dados várias vezes e até mesmo dificuldade para resolver problemas remotamente. Para se mitigar esse problema deve-se investir na otimização dos processos e sistemas internos de forma a facilitar a disponibilização dos dados de toda jornada do cliente aos atendentes. O foco deve ser gerar uma experiência cada vez mais multicanal e personalizada aos clientes.

Além da comunicação, a qualidade dos produtos ofertados é um fator muito importante na tomada de decisão dos clientes. Com a disponibilização dos dados, as instituições terão muito mais informações para modelar e segmentar os seus clientes, possibilitando a construção de produtos cada vez mais personalizados e aderentes ao perfil do consumidor final. Para isso, as instituições precisam ter pessoas capacitadas e uma infraestrutura que possibilite a manipulação de um alto volume de informações.

De forma geral, o Open Banking é uma prática que virá para revolucionar o setor de serviços financeiros. Com a disponibilização centralizada das informações e histórico financeiro dos clientes, as instituições terão em suas mãos ferramentas necessárias para a construção de produtos personalizados e entrega de uma experiência diferenciada aos clientes, resultados ainda mais potencializados pela maior competitividade entre as instituições.

Ainda veremos como será a aceitação e a confiança do público para disponibilização das informações pela plataforma do Open Banking. Mas, daqui para frente, é certa a constante necessidade de adaptação das instituições para conseguir reter e captar clientes.

Guilherme Sales é gerente da Peers Consulting

 

Peers Consulting, a consultoria de negócios que mais cresce no Brasil. A Peers nasceu em 2012 e, desde então, a receita vem crescendo a uma taxa média de crescimento (CAGR) de 40% ao ano. O faturamento em 2020 fechou em R$ 35 milhões, superando em 30% a meta e com um crescimento de 70% sobre o ano anterior. Atende apenas gigantes como Grupo Boticário, Cogna (Ex Kroton), Yduqs, Alpargatas, Marisa, Grupo Fleury e diversas companhias do portfólio de fundos de private equity.
Twitter Facebook Linkedin Instagram YouTube Site
Peers Consulting, a consultoria de negócios que mais cresce no Brasil. A Peers nasceu em 2012 e, desde então, a receita vem crescendo a uma taxa média de crescimento (CAGR) de 40% ao ano. O faturamento em 2020 fechou em R$ 35 milhões, superando em 30% a meta e com um crescimento de 70% sobre o ano anterior. Atende apenas gigantes como Grupo Boticário, Cogna (Ex Kroton), Yduqs, Alpargatas, Marisa, Grupo Fleury e diversas companhias do portfólio de fundos de private equity.
Twitter Facebook Linkedin Instagram YouTube Site
Giro da Semana

Receba as principais notícias e recomendações de investimento diretamente no seu e-mail. Tudo 100% gratuito. Inscreva-se no botão abaixo:

*Ao clicar no botão você autoriza o Money Times a utilizar os dados fornecidos para encaminhar conteúdos informativos e publicitários.