Ibovespa pode subir mais 20% nos próximos 12 meses, nas contas do estrategista-chefe do Itaú BBA
O Ibovespa (IBOV), principal índice da bolsa brasileira, tem engatado vários recordes consecutivos nos últimos dias.
A primeira “pernada” foi registrada em setembro, e a mais recente começou no final de outubro e já se tornou a maior sequência de altas consecutivas desde a criação do Plano Real, em 1994. Até a última sexta-feira (7), o Ibovespa engatou 13 dias de ganhos seguidos.
O índice também superou os 154 mil pontos pela primeira vez, em uma continuação de dez recordes seguidos — e não deve parar por aí, na avaliação de Daniel Gewehr, estrategista-chefe de ações para o Brasil e a América Latina do Itaú BBA.
Nas contas dele, a bolsa brasileira tem um potencial de crescimento de cerca de 20% nos próximos 12 meses, considerando o carrego de 9% das empresas — de 7,5% de rendimento de dividendo (dividend yield), mais 1,5% de recompra de ações (buyback yield) — e um crescimento médio de lucros (CAGR) esperado das empresas de cerca de 11%.
“Se somar o carrego de 9% mais o crescimento de 11%, podemos dizer que a bolsa pode ter um retorno total de 20%, mas ainda dependente de ter um re-rating (reavaliação)”, afirmou Gewehr, em entrevista ao Money Times, sem cravar um preço-alvo.
O nível atual do Ibovespa já chegou ao preço-alvo do banco para este ano, de 155 mil pontos — revisado em julho deste ano. Na época, o índice operava na casa dos 130 mil pontos.
Agora, com o preço-alvo atingido e em meio à revisão das estimativas para 2026, a expectativa é de que o Ibovespa continue em forte valorização no curto prazo.
Por trás da valorização do Ibovespa
Política monetária. Estas duas palavras, na visão de Gewehr, traduzem a valorização recente do Ibovespa.
Nos últimos 25 anos, o Ibovespa tem uma tendência positiva nos primeiros seis meses após o início do ciclo de afrouxamento monetário, ou seja, um corte na taxa básica de juros, a Selic. A média de valorização é de cerca de 15%, excluindo os períodos da Crise de 2008 e da pandemia.
As altas do índice também são observadas antes, em meio à expectativa de flexibilização da política monetária, segundo um estudo do banco. “Em todos os períodos em que aconteceu isso [as valorizações], o mercado antecipou, em média, três meses”, afirmou o estrategista- chefe do Itaú BBA.
“No início de setembro, a bolsa foi muito bem, já que o mercado tinha uma expectativa de que [o Banco Central] iria cortar os juros em dezembro. Depois teve um ‘esfriada’ no final do mês e início de outubro, com o Banco Central mais ‘hawkish’, e o mercado ‘jogou’ [a expectativa de corte] de dezembro [deste ano] para março [de 2026].”
Além disso, há uma flexibilização dos juros nas maiores economias do mundo. O Federal Reserve (Fed, Banco Central dos Estados Unidos), reduziu os juros, pela segunda vez consecutiva, no final de outubro, e o mercado aposta em um novo corte em dezembro.
Ainda de acordo com o estudo do Itaú, a bolsa brasileira sobe, historicamente, 11% em dólar quando há um corte nos juros nos EUA.
O momento também é favorável: o Brasil está “sincronizando” o ciclo de afrouxamento monetário com o exterior. “Agora tem o benefício de cortes nos juros lá fora e a proximidade de um ciclo de afrouxamento monetário por aqui, e isso impacta potencialmente os resultados das empresas.”
Para a equipe econômica do Itaú BBA, o primeiro corte na Selic deve acontecer na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC de 2026, ou seja, em janeiro. Os juros devem encerrar o próximo ano a 12,75%.
Gringo: a ‘força-motriz’ da bolsa
Na avaliação de Gewehr, “80% do retorno da bolsa, em grandes números, tem a ver com o cenário internacional no ano”. Isso porque, segundo ele, o investidor local — o que inclui pessoa física, institucionais, fundo de pensão, etc. — está pouco posicionado em bolsa.
“O nível de alocação da bolsa voltou oito anos, a 2017, porque o local convergiu para a renda fixa, que tem um juro real alto com a Selic a 15% ao ano”, disse Gewehr.
Por outro lado, o investidor internacional tem outra “leitura” do momento: “Ele quer saber do crescimento do lucro das empresas”, além do ‘peak rates’ — pico de juro — e o início da ‘sincronização’ da política monetária.
“O estrangeiro gosta de crescimento duplo dígito, aceleração de resultado e, de preferência, a revisão de lucro positiva — e alguns setores aqui estão revisando o lucro de maneira positiva”, afirmou o estrategista-chefe.
Segundo dados recentes da B3, o investidor gringo já ingressou com mais de R$ 25 bilhões em bolsa até outubro.
Bolsa ainda está barata?
Desde janeiro, o Ibovespa já acumula valorização de quase 30% — e caminha para o melhor desempenho percentual desde 2019, quando o índice subiu 31,5%.
O valuation da bolsa, porém, está descontado comparado com a média histórica e com o desempenho dos países emergentes. “O Ibovespa tem operado em recorde nominal, mas não ainda em um recorde de múltiplo”, afirmou Daniel Gewehr.
De acordo com o estrategista do Itaú BBA, o Ibovespa está negociando a 8,5 vezes o múltiplo de preço sobre lucro (P/L), abaixo da média histórica, de 10,5 vezes P/L.
“A bolsa ainda está atraente. Na nossa visão, a bolsa está precificando, na faixa de 60% e 70%, um cenário pessimista ainda, porque o custo de juros está muito alto.”
Outra métrica que sinaliza que a bolsa está barata é o número de recompra de ações das companhias listadas, segundo Gewehr. Neste momento, há 128 programas de recompra em aberto — o que é um “recorde” da bolsa, de acordo com o estrategista-chefe.
“Hoje, a bolsa tem 360 empresas listadas, e um terço delas está comprando [as suas próprias ações]. Quem melhor entende o negócio? Geralmente é o investidor de longo prazo, o CEO ou o CFO da empresa. Para mim, essa é uma boa sinalização e é um indicador indireto de que a bolsa ainda está atrativa.”
Os riscos para baixa
Nos mercados, uma forte valorização é, geralmente, acompanhada de uma realização dos lucros recentes, e o Ibovespa, assim como qualquer outro ativo, não está ‘imune’ ao movimento de correção.
Para Daniel Gewehr, estrategista-chefe do Itaú BBA, há pelo menos três fatores de risco para uma queda do Ibovespa no curto prazo.
O primeiro deles é o atraso no ciclo de cortes da Selic. “O mercado pode realizar se o corte de juros não vier no primeiro trimestre do ano que vem”.
O câmbio é outro ponto de atenção. “O câmbio tem sido muito controlado, mas, no final do ano, as remessas [de capital] para o exterior aumentam, e o fluxo cambial piora um pouco, sazonalmente”.
Uma correção também pode ser impulsionada por um risk-off nos Estados Unidos, ou seja, uma maior aversão a risco e que prejudicaria o humor dos investidores — com o capital global saindo dos mercados emergentes. Mas isso está fora do cenário-base do Itaú BBA neste momento. “Temos um cenário de desaceleração (slowdown) da economia, e não um risk-off.”