Coluna do Antonio Samad Jr

Ibovespa: Por que o mercado financeiro está arredio com o novo governo?

14 dez 2022, 16:24 - atualizado em 14 dez 2022, 16:24
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“O mercado responde agindo de uma forma defensiva, já precificando as ações prevendo o pior que, no caso, seria uma gestão pública sem nenhuma preocupação com a responsabilidade fiscal”, coloca o colunista (Imagem: Diana Cheng/Money Times)

Logo no primeiro dia de dezembro, o Ibovespa fechou em queda de 1,33%, recuando de 112.486 pontos, obtidos no fechamento anterior, para 110.984.

Uma movimentação aparentemente normal, afinal, o sobe e desce é algo bastante comum em se tratando de mercado financeiro.

Acontece que a volatilidade observada em novembro deverá se repetir no mês atual por conta de um componente extra: as expectativas em torno da transição de governo.

Há quem não entenda o porquê de uma transição de governo gerar tanta insegurança, já que a troca de governo é inerente ao sistema democrático.

A resposta é simples. O mercado gosta de operar com regras claras. Nem todo investidor é um especulador. Existem aqueles, principalmente estrangeiros, que investem a longo prazo. Ou seja, eles desejam que as regras existentes hoje sejam as mesmas daqui a um ano, 10 anos ou 30 anos.

Ter regras claras e não as alterar no caminho é extremamente importante, porque só dessa forma é possível ter previsibilidade da evolução do capital aportado no país.

E o que vemos é que o momento político do Brasil está conturbado. A exemplo do que acontecia já durante a eleição, o agora candidato perdedor ainda questiona a lisura do processo.

Independente desse fato, a própria equipe de transição do governo eleito tem sinalizado que não deve respeitar muito o teto de gastos. Bom, ainda falta a Câmara dos Deputados aprovar a PEC da Transição.

Já aprovada pelo Senado, a PEC libera ao menos R$ 168 bilhões em despesas para bancar o Bolsa Família de R$ 600 e a elevação do salário-mínimo pelos próximos dois anos.

Considerando que a situação fiscal não é das melhores, o mercado faz o que todo cidadão prevenido deveria fazer. Age de forma contida, esperando para saber com exatidão o tamanho do risco que terá de enfrentar a partir de 1º de janeiro.

As possíveis mudanças geram uma insegurança jurídica, principalmente para o investidor estrangeiro.
E nossa Bolsa ainda é muito dependente do volume de operações do mercado internacional.

O investidor estrangeiro não lida muito bem com esse tipo de insegurança. Tudo o que ele espera na hora de alocar seu capital em determinado país, ainda mais em um país como o Brasil, que é emergente, não é uma nação desenvolvida, e sim que haja segurança jurídica. Que haja cumprimento das regras.

Os grandes fundos de investimentos do mundo têm quantidades gigantescas de dinheiro e eles pensam realmente no médio e longo prazos. Por isso, como já disse, buscam lugares onde as regras sejam muito claras.

Então, essa fase de transição realmente é uma fase muito delicada que nosso País está passando. Essas quedas recentes que nossa Bolsa sofreu estão ligadas diretamente a esta insegurança.

Fernando Haddad, que foi candidato ao governo de São Paulo e que é um político muito próximo do presidente eleito, participou de uma reunião com banqueiros da Febraban, representando Lula.

Ele falou um pouco sobre reforma tributária, o que é importante, mas deixou tudo muito vago. Na sexta-feira (9), o presidente eleito finalmente anunciou que Haddad será o ministro da Fazenda.

Indicação esta que desagradou o mercado pelo fato de ele não ser um liberal, levando a crer que novas privatizações dificilmente vão ocorrer.

E por uma questão de ideologia do futuro ministro da Fazenda, muitas dúvidas estão sendo levantadas quanto à sua atuação.

O novo governo será mais intervencionista nas estatais ou não? Para o mercado, o ideal é que não seja nada intervencionista, mas o PT já governou o país e sabemos como eles administraram as empresas públicas.

Claro que hoje existem regras mais rígidas que dificultam a ação de governos sobre os interesses das empresas, mas não podemos esquecer que, mesmo com regras corporativas mais rígidas, o atual presidente, Jair Bolsonaro, trocou o presidente da Petrobras diversas vezes na tentativa de interferir na política de preços da companhia.

Ou seja, a nova Lei das Estatais até dá alguma proteção, mas até que ponto? Vale lembrar que, para abrigar Aloísio Mercadante como presidente do BNDES o atual Congresso já fez uma pequena modificação nas regras.

Esta é a grande razão para o mercado financeiro se mostrar arredio. E o mercado responde agindo de uma forma defensiva, já precificando as ações prevendo o pior que, no caso, seria uma gestão pública sem nenhuma preocupação com a responsabilidade fiscal.

CEO da Axia Investing
Advogado com especialização em direito tributário. Atua no mercado financeiro desde 1999. Experiência de mais de 22 anos, já passou por grandes corretoras, onde atuou como sócio gestor de escritórios da Gradual, Walpires, XP e Terra Investimentos. É sócio e gestor da mesa proprietária Axia Investing.
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Advogado com especialização em direito tributário. Atua no mercado financeiro desde 1999. Experiência de mais de 22 anos, já passou por grandes corretoras, onde atuou como sócio gestor de escritórios da Gradual, Walpires, XP e Terra Investimentos. É sócio e gestor da mesa proprietária Axia Investing.
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