Selic a 15%: Ibovespa vai cair? Entenda o que pode acontecer com a bolsa após comunicado duro do BC

Apesar da alta de 0,25 ponto percentual ter sido precificada por parte do mercado, a Selic a 15% pode ter impactos na bolsa no pregão da próxima sexta-feira (20).
Nesta quinta, o índice está fechado por conta do feriado de Corpus Christi, assim como nos Estados Unidos.
Além da elevação, o Banco Central também soltou comunicado considerado duro por economistas que pode fechar a porta para um corte no final do ano.
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No texto, sinalizou que pretende manter o atual “patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado”, ou seja, afasta a possibilidade de reduzir a taxa Selic no curto prazo.
Algumas casas elevaram a perspectiva do Ibovespa justamente por conta dessa possível tesourada. O Morgan Stanley, por exemplo, colocou o índice a 189 mil pontos citanto o BC.
E não só isso. Na prática, em seu comunicado, o BC deixou a porta aberta para promover mais aumentos da Selic no futuro, se necessário.
Ibovespa e juros
Para Marcelo Bolzan, sócio da The Hill Capital, a Bolsa pode sofrer “um pouco porque toda vez que sobem os juros, há impacto”.
“Mas como o mercado já vinha dividido, tinha uma probabilidade relativamente grande de isso acontecer, então acho que grande parte já está precificado”, disse.
Marcio Saito, CFO da Entrepay, espera que o mercado reaja à decisão do Copom com “ajustes moderados”: queda leve nos juros futuros, real um pouco mais forte e movimentações pontuais na bolsa.
Ele também afirma que a elevação dos juros pode ser vista como “um passo antecipado” para os analistas que já projetavam Selic próxima a 16% até o fim do ano.
“Isso pode levar empresas e investidores a reverem suas estratégias para se proteger da alta dos juros ou para aproveitar oportunidades nos investimentos de renda fixa.”
No mercado de DIs (Depósitos Interfinanceiros), até antes da reunião a curva precificava chances maiores de elevação de 25 pontos-base da Selic – como de fato ocorreu -, mas as apostas na manutenção da taxa não eram desprezíveis.
Em função disso, o economista-chefe do Bmg, Flavio Serrano, acredita que as taxas dos DIs de curto e médio prazo tendem a subir na sexta-feira pós-feriado – com elevação maior nos contratos até janeiro de 2027 e um pouco menor a partir do janeiro de 2028.
“Até janeiro 2027 pode subir 10 (pontos-base), 15 no máximo, com a alta do 2028 um pouco menor”, afirmou.
Para o gestor de Renda Fixa Ativa da Inter Asset, Ian Lima, a parte mais curta da curva deve sentir um pouco, com o janeiro 2026 e o janeiro 2027 (com taxas) em alta, porque há ali (precificado) corte já na virada do ano.
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“Isso (comunicado do Copom) empurra os cortes um pouco mais para frente”, avaliou.
Lembrando que os juros DI são, muitas vezes, inversamente proporcionais para o Ibovespa. Ou seja, quando sobem, a bolsa tende a cair.
Na visão do UBS-BB, embora a decisão não tenha pegado os mercados completamente desprevenidos, ainda espera que o real e as taxas reajam a ela.
“A decisão pode pressionar as taxas iniciais, o que pode achatar o setor de 2026 e 2027 da curva de janeiro, já que os cortes precificados no primeiro semestre de 2026 podem estar em risco”.
O banco ainda espera que os cortes nas taxas comecem em abril e março, com cortes de 50 bps/reuniões (contra 25 bps/reunião precificados hoje).
Além disso, embora o cenário de crescimento atual sustente uma “abordagem de alta por mais tempo”, a desaceleração no terceiro trimestre pode levar os mercados a questionar a postura política do Banco Central se outros fatores não interferirem (câmbio, notícias fiscais, petróleo, expectativas de inflação).
“Por fim, e talvez mais importante para os períodos de 27 e 28 de janeiro, a postura política agressiva do BCB hoje deve permitir que os mercados precifiquem cortes maiores no futuro”.
E o dólar?
A elevação da Selic para 15% também tende a impactar o mercado de câmbio, na visão de alguns analistas, ainda mais considerando que durante a tarde desta quarta-feira o Federal Reserve sinalizou a possibilidade de um ou dois cortes de 25 pontos-base este ano em sua taxa de juros, hoje na faixa de 4,25% a 4,50%.
“Se o Fed cortar para 4% no segundo semestre, e o Copom mantiver a Selic em 15%, estaremos falando de um diferencial de 11 pontos percentuais — um diferencial brutal”, escreveu Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.
“Isso deve fortalecer ainda mais o real, que tende a se apreciar nos próximos dias.”
Na visão de Serrano, do Bmg, a trajetória de queda do dólar ante o real está em curso e a decisão do Copom, em si, contribui para isso. “No geral, vemos o real com potencial para continuar se valorizando”, pontuou.
Para o UBS-BB, isso deve dar suporte ao real e ajudar o dólar a continuar testando as mínimas do ano até o momento.
A R$ 5,45, o preço à vista está próximo dos níveis observados em setembro de 2024, antes da divulgação do pacote fiscal que decepcionou os mercados.
“Embora o real já tenha se movimentado bastante, o real ainda é nossa posição preferida comprada na América Latina, principalmente devido a avaliações baratas”.