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Selic a 15%: Ibovespa vai cair? Entenda o que pode acontecer com a bolsa após comunicado duro do BC

19 jun 2025, 10:29 - atualizado em 19 jun 2025, 12:21
ibovespa queda
Painel de cotações na B3, em São Paulo 05/08/2024 REUTERS/Carla Carniel

Apesar da alta de 0,25 ponto percentual ter sido precificada por parte do mercado, a Selic a 15% pode ter impactos na bolsa no pregão da próxima sexta-feira (20).

Nesta quinta, o índice está fechado por conta do feriado de Corpus Christi, assim como nos Estados Unidos.

Além da elevação, o Banco Central também soltou comunicado considerado duro por economistas que pode fechar a porta para um corte no final do ano.

No texto, sinalizou que pretende manter o atual “patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado”, ou seja, afasta a possibilidade de reduzir a taxa Selic no curto prazo.

Algumas casas elevaram a perspectiva do Ibovespa justamente por conta dessa possível tesourada. O Morgan Stanley, por exemplo, colocou o índice a 189 mil pontos citanto o BC.

E não só isso. Na prática, em seu comunicado, o BC deixou a porta aberta para promover mais aumentos da Selic no futuro, se necessário.

Ibovespa e juros

Para Marcelo Bolzan, sócio da The Hill Capital, a Bolsa pode sofrer “um pouco porque toda vez que sobem os juros, há impacto”.

“Mas como o mercado já vinha dividido, tinha uma probabilidade relativamente grande de isso acontecer, então acho que grande parte já está precificado”, disse.

Marcio Saito, CFO da Entrepay, espera que o mercado reaja à decisão do Copom com “ajustes moderados”: queda leve nos juros futuros, real um pouco mais forte e movimentações pontuais na bolsa.

Ele também afirma que a elevação dos juros pode ser vista como “um passo antecipado” para os analistas que já projetavam Selic próxima a 16% até o fim do ano.

“Isso pode levar empresas e investidores a reverem suas estratégias para se proteger da alta dos juros ou para aproveitar oportunidades nos investimentos de renda fixa.”

No mercado de DIs (Depósitos Interfinanceiros), até antes da reunião a curva precificava chances maiores de elevação de 25 pontos-base da Selic – como de fato ocorreu -, mas as apostas na manutenção da taxa não eram desprezíveis.

Em função disso, o economista-chefe do Bmg, Flavio Serrano, acredita que as taxas dos DIs de curto e médio prazo tendem a subir na sexta-feira pós-feriado – com elevação maior nos contratos até janeiro de 2027 e um pouco menor a partir do janeiro de 2028.

“Até janeiro 2027 pode subir 10 (pontos-base), 15 no máximo, com a alta do 2028 um pouco menor”, afirmou.

Para o gestor de Renda Fixa Ativa da Inter Asset, Ian Lima, a parte mais curta da curva deve sentir um pouco, com o janeiro 2026 e o janeiro 2027 (com taxas) em alta, porque há ali (precificado) corte já na virada do ano.

“Isso (comunicado do Copom) empurra os cortes um pouco mais para frente”, avaliou.

Lembrando que os juros DI são, muitas vezes, inversamente proporcionais para o Ibovespa. Ou seja, quando sobem, a bolsa tende a cair.

Na visão do UBS-BB, embora a decisão não tenha pegado os mercados completamente desprevenidos, ainda espera que o real e as taxas reajam a ela.

“A decisão pode pressionar as taxas iniciais, o que pode achatar o setor de 2026 e 2027 da curva de janeiro, já que os cortes precificados no primeiro semestre de 2026 podem estar em risco”.

O banco ainda espera que os cortes nas taxas comecem em abril e março, com cortes de 50 bps/reuniões (contra 25 bps/reunião precificados hoje).

Além disso, embora o cenário de crescimento atual sustente uma “abordagem de alta por mais tempo”, a desaceleração no terceiro trimestre pode levar os mercados a questionar a postura política do Banco Central se outros fatores não interferirem (câmbio, notícias fiscais, petróleo, expectativas de inflação).

“Por fim, e talvez mais importante para os períodos de 27 e 28 de janeiro, a postura política agressiva do BCB hoje deve permitir que os mercados precifiquem cortes maiores no futuro”.

E o dólar?

A elevação da Selic para 15% também tende a impactar o mercado de câmbio, na visão de alguns analistas, ainda mais considerando que durante a tarde desta quarta-feira o Federal Reserve sinalizou a possibilidade de um ou dois cortes de 25 pontos-base este ano em sua taxa de juros, hoje na faixa de 4,25% a 4,50%.

“Se o Fed cortar para 4% no segundo semestre, e o Copom mantiver a Selic em 15%, estaremos falando de um diferencial de 11 pontos percentuais — um diferencial brutal”, escreveu Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.

“Isso deve fortalecer ainda mais o real, que tende a se apreciar nos próximos dias.”

Na visão de Serrano, do Bmg, a trajetória de queda do dólar ante o real está em curso e a decisão do Copom, em si, contribui para isso. “No geral, vemos o real com potencial para continuar se valorizando”, pontuou.

Para o UBS-BB, isso deve dar suporte ao real e ajudar o dólar a continuar testando as mínimas do ano até o momento.

A R$ 5,45, o preço à vista está próximo dos níveis observados em setembro de 2024, antes da divulgação do pacote fiscal que decepcionou os mercados.

“Embora o real já tenha se movimentado bastante, o real ainda é nossa posição preferida comprada na América Latina, principalmente devido a avaliações baratas”.

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Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022, 2023 e 2024. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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A Reuters é uma das mais importantes e respeitadas agências de notícias do mundo. Fundada em 1851, no Reino Unido, por Paul Reuter. Com o tempo, expandiu sua cobertura para notícias gerais, políticas, econômicas e internacionais.
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