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Importando crise? Por que a alta dos juros nos EUA afeta empresas no Brasil

17 jan 2022, 16:27 - atualizado em 17 jan 2022, 20:29
Federal Reserve
Juros nos EUA deverá ter altas em 2022, impactando a economia de todo o mundo, destacam analistas (Imagem: REUTERS/Chris Wattie)

No último dia 5 de janeiro, o investidor assistiu de perto o que o estrago da alta dos juros nos Estados Unidos pode fazer com a Bolsa aqui no Brasil.

Depois de uma ata agressiva do Federal Reserve, o banco central dos EUA, ressaltando a necessidade de elevar os juros, o Ibovespa (IBOV) tombou mais de 2%.

Ações de empresas do setor de tecnologia, como Méliuz (CASH3), Inter (BIDI11) e Locaweb (LWSA3), também sofrem há meses com qualquer notícia relacionada a possíveis elevações das taxas.

Os papéis das techs na Nasdaq tombam? As brasileiras seguem o mesmo movimento.

Mas por que isso ocorre com essas empresas se elas operam no Brasil, e não nos Estados Unidos?

Para entender melhor esse fenômeno, o Money Times conversou com analistas que enumeraram as razões que fazem com que a alta dos juros nos EUA afete as companhias no Brasil.

Veja a seguir.

1º Os juros nos EUA são referência

Quando se trata da maior economia do mundo, é difícil que qualquer medida econômica fique restrita somente a ela mesma.

Matheus Spiess, analista da Empiricus, explica que o principal balizador dos mercados internacionais é o Título Público dos EUA de 10 anos.

Quando esse título sobe, todos os demais acompanham a alta porque precisam oferecer um prêmio de risco.

“Do contrário, todo o investimento vai para os EUA e ocorre uma fuga de capitais”, completa. 

Spiess lembra que antes do Natal, a taxa desse título estava em 1,37% e, agora, está em 1,71%, puxado pela percepção cada vez mais clara de que o FED irá elevar os juros mais uma vez. 

“Isso é uma variação de praticamente 40%. Consequentemente, você pressiona todas as curvas de juros ao redor do mundo, inclusive a brasileira”, afirma.  

Ou seja, uma elevação mais acentuada do Federal Reserve colocará ainda mais lenha para que o Banco Central aqui no Brasil eleve a Selic.

Até o momento, a previsão é que a taxa fique em 11% até o final do ano.

“O Banco Central tende a aumentar os juros para manter a atratividade do Brasil”, afirma Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos.

2º O Brasil depende dos estrangeiros

Para se ter uma noção, em 2021, o investidor estrangeiro correspondeu a 49% de participação na Bolsa brasileira.

“O Brasil é um grande beta no mundo. Para ir bem, depende do capital estrangeiro. Isso porque não temos tanto dinheiro para nos sustentarmos e, dessa forma, sentimos com maior ênfase os movimentos globais”, argumenta Spiess, da Empiricus.

3° Título Público dos EUA rendem mais 

Com a alta de taxa de juros nos EUA,  os títulos públicos ficaram mais atrativos. Esse tipo de investimento é considerado o mais seguro do mundo. 

Alexandre Masuda, sócio da SFA Investimentos, diz que esse investidor estrangeiro já começa a se voltar para os títulos públicos de olho em sua rentabilidade e segurança.

“Empresas com muito crescimento e promessa no longo prazo são mais afetadas. O investidor estrangeiro que está no Brasil sai e procura ativos mais seguros lá fora”, observa.

Ações empresas de tecnologia sofrem muito mais do que os papéis de valor (Imagem: Unsplash/timothyhalesbennett)

4º As empresas passam a valer menos

O valor de uma empresa é o seu fluxo de caixa descontado.

Para calculá-lo, é projetado o que a empresa vai gerar, trazendo esse valor ao presente.

O valor futuro é afetado pela taxa de juros, explica Carlos Priolli, da Alvarez & Marsal. 

“Todas as empresas são as afetadas, mas as que são avaliadas com base nos lucros futuros são mais prejudicadas do que as que estão mais maduras”, completa.

Spiess, da Empiricus, acrescenta ainda que as companhias endividadas sofrem porque as dívidas ficam mais caras.

Já as empresas com projetos de expansão nos próximos anos terão de lidar com taxas de investimento mais caras.

“Isso tudo provoca uma rotação setorial. Empresas com teses tech têm seus fluxos de caixa e seu valor mais associados ao futuro. Com isso, há uma migração de recursos para teses de valor”, explica. 

Dessa forma, o valor presente da companhia precisa ser ajustado.

“No curto prazo, porém, há um exagero no mercado”, completa.

O que fazer?

Em meio à conjuntura difícil, resta ao investidor ter paciência e saber enfrentar os riscos, dizem os analistas.

Na visão de Spiess, muitas posições que podem ser boas daqui a três anos podem sofrer no curto prazo. 

“É o que ocorre com as small caps. Muitas estão a preços de banana, e continuam caindo. Se você está carregando esse prêmio de risco, vale a pena manter. O mercado está sensível. Mas também abre oportunidades para comprar”, diz.

Já Priolli, da Alvarez & Marsal, recorda que a estratégia para diminuir os riscos é algo particular de cada investidor.

“Existem algumas formas de mitigar os riscos. Ajustar a carteira para não ficar tão carregado de empresas techs seria uma delas”, aponta.

E o Brasil: o que precisa fazer para diminuir a dependência do humor internacional?

“Nesse caso, o país teria que fazer a lição de casa, tocando reformas estruturais para dar mais segurança para o investidor”, afirma Crespi, da Guide.

Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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