Coluna do Guilherme Gentile

Indicadores econômicos mistos geram incerteza sobre a recuperação global

04 jul 2023, 15:36 - atualizado em 04 jul 2023, 15:36
China
Disputas comerciais entre grandes economias, como Estados Unidos e China, podem levar a interrupções nas cadeias de suprimentos globais e afetar negativamente o comércio internacional (Imagem: REUTERS/Dado Ruvic/Ilustração)

Nos primeiros meses de 2023, o crescimento econômico tem se mostrado mais resiliente do que o temido, graças ao impacto positivo da reabertura da China e a um inverno mais ameno, que impulsionou o setor da construção e evitou uma crise energética na Europa.

Além disso, diversos governos, especialmente na Europa, agiram rapidamente para estender o suporte às famílias, ajudando a amortecer os efeitos da alta inflacionária em suas rendas. No entanto, esses fatores são temporários e dados recentes sugerem uma possível reversão desse cenário.

Na China, a produção industrial e as vendas no varejo em abril ficaram abaixo das expectativas, e as pesquisas de confiança empresarial de maio também decepcionaram, indicando que o impulso da reabertura está perdendo força.

O mercado revisou suas projeções de crescimento para 2023, de 6% para 5,5%, porém mais revisões para baixo podem ser necessárias, uma vez que essa estimativa ainda está acima da meta do governo chinês, de cerca de 5%.

Além disso, autoridades parecem relutantes em adotar medidas agressivas para apoiar a economia. Curiosamente, embora o PIB e os lucros da China possam desapontar os investidores, um perfil de crescimento mais moderado pode ser uma boa notícia para a economia global, já que a luta contra a inflação está longe de terminar.

Nos Estados Unidos, a perspectiva é incerta. Por um lado, as pesquisas têm mostrado deterioração. No setor de serviços, a confiança empresarial caiu para 50,3, o segundo nível mais baixo desde o início de 2010 (excluindo a queda em 2020 no auge da pandemia), apontando para uma clara desaceleração econômica.

Por outro lado, o mercado de trabalho continua bastante aquecido, com o aumento inesperado das vagas de emprego em abril para 10,1 milhões e a relação entre vagas e desempregados chegando a 1,8%, o maior em três meses e próximo de uma máxima histórica.

Além disso, foram criados 339 mil empregos em maio e a média trimestral ultrapassou os 280 mil, sugerindo que a demanda por mão-de-obra permanece forte, embora o crescimento salarial ainda não seja compatível com um rápido retorno da inflação à meta do Federal Reserve (Fed).

A confiança empresarial também enfraqueceu na Europa, especialmente no setor industrial, e revisões recentes mostraram que a Alemanha entrou em uma recessão técnica no início deste ano.

Por outro lado, a inflação diminuiu mais do que o esperado em maio, de acordo com estimativas preliminares, caindo de 7,0% para 6,1% devido à redução dos preços do petróleo e gás.

A inflação central caiu de 5,6% em abril para 5,3%, com uma desaceleração de 0,2 ponto percentual nos serviços, para 5,0%, sendo a primeira desaceleração desde novembro passado.

No entanto, enquanto o ímpeto da inflação central está diminuindo, espera-se que a inflação de serviços permaneça elevada durante o verão, e possivelmente volte a subir.

A relação entre a atividade econômica e o crédito é particularmente examinada pelos bancos centrais. Quando o crédito cresce, os consumidores podem tomar empréstimos e gastar, e as empresas podem tomar empréstimos e investir.

O aumento do consumo e dos investimentos também gera empregos, impulsionando ainda mais a economia. Por outro lado, custos mais altos e menor acesso ao crédito pesam sobre a atividade econômica por meio de efeitos negativos nas decisões de consumo e investimento.

No entanto, há grande incerteza sobre a velocidade e intensidade desses efeitos, especialmente porque a proporção de empréstimos com taxa fixa na economia é muito maior do que em ciclos anteriores de aperto monetário. Nesse sentido, os efeitos defasados da política monetária podem ser mais longos do que o habitual.

O presidente do Fed, Jerome Powell, destacou recentemente que o aperto de crédito esperado após as recentes falências bancárias provavelmente irá afetar o crescimento.

Como resultado, a taxa de juros da política monetária pode não precisar subir tanto quanto seria necessário para combater a inflação. Embora o Fed tenha mencionado a possibilidade de uma desaceleração no ritmo de aumento das taxas de juros, é importante ressaltar que a decisão final dependerá dos dados econômicos futuros e da evolução dos indicadores.

A incerteza em relação à recuperação econômica global também é alimentada por outros fatores, como a persistência da pandemia de COVID-19 em algumas regiões e o surgimento de novas variantes do vírus.

Apesar dos avanços na vacinação em muitos países, existem preocupações sobre a eficácia das vacinas em relação a variantes mais transmissíveis e sobre a capacidade de controlar surtos em determinadas áreas.

Além disso, as tensões comerciais e geopolíticas continuam a representar riscos para a estabilidade econômica.

Disputas comerciais entre grandes economias, como Estados Unidos e China, podem levar a interrupções nas cadeias de suprimentos globais e afetar negativamente o comércio internacional. As tensões geopolíticas em várias regiões também podem ter impactos significativos na confiança dos investidores e nas perspectivas econômicas.

Em suma, os indicadores econômicos recentes apresentam mix de resultados, gerando incerteza em relação à recuperação global.

Embora tenhamos observado um crescimento resiliente em alguns países e setores, existem preocupações sobre a desaceleração do impulso econômico na China, a desaceleração da atividade industrial na Eurozona e a restrição das condições de crédito em várias regiões.

Do mesmo modo, os riscos associados à pandemia, tensões comerciais e geopolíticas continuam a ser fatores que podem influenciar a trajetória da economia global.

Portanto, é necessário um monitoramento cuidadoso dos indicadores econômicos e dos desenvolvimentos globais para compreender melhor a direção da recuperação econômica nos próximos meses.

Head de análise da Dividendos.me
Guilherme Gentile é Head de análise da Dividendos.Me. Graduado em Ciências Contábeis pela PUC-SP, com MBA pela FGV e IBMEC, tem mais de 10 anos de experiência na área financeira em empresas multinacionais, mais de 5 anos de experiência como auditor externo em “Big four” e investe em renda variável desde 2014.
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Guilherme Gentile é Head de análise da Dividendos.Me. Graduado em Ciências Contábeis pela PUC-SP, com MBA pela FGV e IBMEC, tem mais de 10 anos de experiência na área financeira em empresas multinacionais, mais de 5 anos de experiência como auditor externo em “Big four” e investe em renda variável desde 2014.
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