Economia

Inflação dá sinais de inflexão, mas BC precisa de mais para cortar a Selic, diz economista-chefe do Daycoval

10 jul 2025, 16:22 - atualizado em 10 jul 2025, 16:24
IPCA inflação
IPCA de junho subiu 0,24%. (Imagem: Gadini/pixabay)

A inflação brasileira dá sinais de que está em rota de inflexão, afirma o economista-chefe do Daycoval, Rafael Cardoso. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de junho subiu 0,24%, praticamente em linha com a projeção do banco, de 0,23%.

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Os principais impactos do índice vieram como o esperado, com destaque para a deflação no grupo de alimentação, puxada por uma queda dos preços das carnes. Já entre os preços administrados, os movimentos seguiram o script: “sabíamos que a gasolina iria para baixo e também sabíamos do impacto importante de energia elétrica para cima.”

Houve também uma pressão maior em serviços, especialmente em itens ligados ao mercado de trabalho. “Veio um pouquinho mais forte do que a gente imaginava, mas muito pouco. Não tem grandes implicações para o nosso cenário”, diz Cardoso.

No grupo de industriais, o economista identificou algum efeito do câmbio, embora em menor magnitude do que se projetado. “Apareceu algum impacto do câmbio, mas muito mais moderado do que era de se imaginar anteriormente.”

Ainda assim, ele reforça que as surpresas não alteram o diagnóstico principal: “a inflação segue inflexionando. O headline engana, porque é muito baixo devido à sazonalidade, mas isso segue acontecendo”.

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Cardoso destacou ainda que os dados reforçam a projeção do Daycoval de 5,1% para a inflação em 2025. “O número de hoje vai em linha com a nossa projeção e, portanto, não sugere revisão.”

Na avaliação dele, a dinâmica inflacionária será distinta entre os dois semestres de 2024, com tendência de arrefecimento à frente. “Este ano aqui vai ser um jogo de dois tempos. O primeiro semestre, tanto para atividade quanto para inflação, é mais forte”, afirmou, citando o desempenho do agronegócio e a resiliência do mercado de trabalho.

Já para o segundo semestre, a expectativa é que o câmbio mais apreciado e uma atividade econômica menos aquecida comecem a aparecer nos preços. “O que vamos ver no segundo semestre tem mais a ver com a taxa de câmbio no patamar mais confortável e com uma atividade econômica que deve arrefecer.”

Apesar da inflação ainda estar em um patamar elevado, o economista aposta na continuidade da tendência de desaceleração: “A foto é ruim, mas como sabemos que o câmbio está mais apreciado e tem sinais de desaceleração, achamos que essa inflexão deve persistir para o futuro.”

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O que a inflação de junho indica para o BC?

O economista-chefe do Daycoval diz que o dado da inflação de junho reforça a leitura de que o processo de desinflação está em curso, mas ainda não oferece garantias ao Banco Central de que os próximos números virão consistentemente melhores.

“O dado não traz nenhum insight novo, mas confirma que talvez o pior do quadro inflacionário tenha ficado para trás”, afirmou.

Na visão de Cardoso, os sinais de desaceleração do IPCA e de menor vigor da atividade econômica ao longo do segundo semestre reforçam a perspectiva de que o BC terá, mais adiante, condições para iniciar o ciclo de afrouxamento monetário.

No entanto, ele destaca que a autoridade monetária ainda depende de uma terceira variável essencial para abrir espaço à redução da Selic: o comportamento das expectativas de inflação.

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“As expectativas são a peça-chave. Se não houver surpresas positivas do lado fiscal — o que não acreditamos que vá ocorrer —, essas expectativas seguirão ancoradas basicamente pela inflação corrente e pela leitura que os agentes fazem da atividade”, explicou.

Segundo ele, o banco projeta o início dos cortes de juros apenas no primeiro trimestre de 2026.

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Editora-assistente
Editora-assistente no Money Times e graduada em Jornalismo pela Unesp - Universidade Estadual Paulista. Atua na área de macroeconomia, finanças e investimentos desde 2021.
giovana.leal@moneytimes.com.br
Editora-assistente no Money Times e graduada em Jornalismo pela Unesp - Universidade Estadual Paulista. Atua na área de macroeconomia, finanças e investimentos desde 2021.