Inflação desacelera e Banco Central prepara o terreno para redução da Selic; quando juros podem cair?
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) surpreendeu o mercado com alta de 0,09% em outubro — o menor resultado para o mês desde 1998 —, ficando abaixo das projeções de 0,16% e do 0,48% registrado em setembro. Com isso, a inflação acumulada chega a 4,68%, o nível mais baixo em nove meses e próximo do teto da meta.
Ariane Benedito, economista-chefe do PicPay, afirma que o resultado superou as expectativas e reforça o movimento de desinflação gradual, com alívio disseminado entre os principais grupos e surpresas baixistas em alimentos e habitação.
Segundo ela, do ponto de vista qualitativo, o dado reforça um cenário mais benigno para o curto prazo. A saída do bônus de Itaipu, que poderia ter pressionado a energia elétrica, foi compensada pela redução da bandeira tarifária, resultando em queda de 2,39% na energia residencial e impacto negativo de cerca de 0,10 ponto percentual no índice geral. Além disso, o comportamento dos alimentos foi mais favorável do que o projetado, mesmo diante da alta das commodities agrícolas no mercado internacional.
“O resultado de outubro confirma um processo de desinflação mais consistente, com surpresas baixistas concentradas em bens e administrados. A melhora do balanço de riscos reflete a estabilidade do câmbio, o recuo das commodities energéticas e a menor pressão de serviços após meses de resiliência. A leitura também sugere que a inflação de bens industriais segue contida, beneficiada por um ambiente global de preços mais baixos e recomposição de estoques”, afirma.
Já Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, destaca que a inflação entrou em grande declínio quando se avalia o acumulado em 12 meses. “O mercado deve sentir fortemente a surpresa baixista, com os ativos refletindo de forma intensa a perspectiva mais acomodatícia para o juro”, afirma.
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Cortes da Selic entre janeiro e março
Os números positivos do IPCA animam os investidores, mesmo diante do tom cauteloso da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada pouco antes da inflação. O Banco Central reforçou a preocupação com a trajetória dos preços e afirmou que o cenário prospectivo da inflação continua desafiador.
Com a ata em mãos, o mercado reajusta suas projeções sobre o futuro da Selic, prevendo o início do afrouxamento monetário entre janeiro e março. O Banco Central incorporou a isenção do Imposto de Renda nas suas projeções, o que trouxe certo alívio sobre o alto nível da Selic.
Segundo Luis Felipe Vital, estrategista-chefe de macro e dívida pública da Warren Investimentos, o BC adotou um tom menos hawkish, mas não sinalizou o fim do ciclo de manutenção de juros. “Para os próximos passos, mantém-se a leitura que cortes em janeiro são muito pouco prováveis, jogando o início da flexibilização para a partir do fim do 1º trimestre de 2026”, afirma.
Ainda assim, os analistas avaliam que o Banco Central já está preparando o terreno para futuros cortes de juros. Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, destaca que o comunicado indica que a autoridade monetária tem maior convicção de que a taxa atual já é suficiente para garantir a convergência da inflação à meta.
Segundo ele, esse trecho sugere, de forma indireta, a possibilidade de corte de juros mais à frente — interpretação que o mercado tende a adotar. No entanto, o parágrafo seguinte reforça que o BC não hesitará em retomar o ciclo de alta caso o cenário exija, repetindo que pode elevar novamente a taxa.
“Com isso, o Banco Central não sugere explicitamente uma redução já em dezembro, mas o abre espaço para quem defende uma flexibilização em janeiro argumentar que há margem para isso, especialmente porque o comunicado foi alterado em relação aos anteriores. A instituição ainda afirma que pretende manter os juros em nível elevado por um período prolongado, o que, para boa parte do mercado, significa que eventuais cortes só estariam no radar a partir de março”, destaca.
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