Inflação do Reino Unido cai inesperadamente, reforçando apostas em corte de juros
A inflação do Reino Unido caiu de forma muito mais acentuada do que o previsto em novembro, para 3,2%, o nível mais baixo desde março, ante 3,6% em outubro, mostraram dados oficiais divulgados nesta quarta-feira (17), consolidando as expectativas do mercado de que o Banco da Inglaterra (BoE) cortará os juros nesta quinta-feira.
A queda da inflação refletiu a redução nos preços de bolos, biscoitos, cereais e confeitos, além de um impacto menor dos preços do tabaco e dos descontos da Black Friday em roupas femininas, informou o Escritório de Estatísticas Nacionais.
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O resultado ficou abaixo de todas as previsões em uma pesquisa da Reuters com economistas, que apontava para uma queda para 3,5%, e também abaixo da própria expectativa do BoE, de um recuo para 3,4%.
Antes da decisão, os mercados já precificavam uma probabilidade superior a 90% de o BoE reduzir os juros em 0,25 ponto, para 3,75%, mas muitos economistas viam a decisão como bastante equilibrada e ainda avaliam que o banco central está se aproximando do fim de seu ciclo de cortes.
“Um corte de juros pelo Comitê de Política Monetária amanhã agora não deixa dúvidas, depois que a inflação surpreendeu para baixo”, disse Rob Wood, economista-chefe para o Reino Unido da Pantheon Macroeconomics.
“Mas grande parte da surpresa inflacionária provavelmente será revertida nos próximos meses, porque se concentrou em itens erráticos ou voláteis ou foi impulsionada pelo efeito temporário dos descontos antecipados da Black Friday”, afirmou.
Medidas subjacentes perdem força
Os dados divulgados mostraram que a inflação de serviços, que o BoE considera um indicador das pressões de preços de mais longo prazo, caiu para 4,4%, em vez de se manter em 4,5%, como esperavam os economistas e o próprio banco central.
A inflação de alimentos e bebidas não alcoólicas recuou para 4,2%, ante 4,9% em outubro. O BoE havia dito que esperava que ela alcançasse 5,3% em dezembro, o nível mais alto em quase dois anos.
A inflação subjacente ao consumidor, que exclui os preços mais voláteis de alimentos, álcool, energia e tabaco, também desacelerou para 3,2%, em vez de permanecer em 3,4%, como previsto pelos economistas na pesquisa da Reuters.
No mês passado, o Comitê de Política Monetária do BoE votou por 5 a 4 para manter os juros inalterados, quebrando o ritmo trimestral de cortes seguido desde 2024. Economistas consultados na semana passada esperavam um corte em dezembro por uma margem igualmente estreita de 5 a 4.
Entre os membros que se opuseram a um corte em novembro, o presidente do BoE, Andrew Bailey, parece o mais propenso a mudar de posição, já que afirmou, na ata da decisão, que gostaria de ver novas quedas nas pressões de preços “ainda neste ano” antes de apoiar um corte.
Orçamento deve aliviar pressão sobre contas
A inflação britânica tem sido mais elevada do que em outras grandes economias avançadas e, em novembro, o banco central previu que ela permaneceria acima da meta de 2% até o segundo trimestre de 2027.
Desde então, a ministra das Finanças, Rachel Reeves, anunciou medidas em seu orçamento de 26 de novembro que transferem os custos relacionados às mudanças climáticas de encargos nas contas de energia para a tributação geral.
A vice-presidente do BoE, Clare Lombardelli, afirmou que a medida pode reduzir temporariamente a inflação em até 0,5 ponto percentual a partir de abril de 2026, potencialmente permitindo que o BoE atinja sua meta de inflação mais cedo, mas deve ter pouco efeito sobre a perspectiva de longo prazo.
Parte da inflação mais elevada no Reino Unido neste ano reflete aumentos em preços regulados, como contas de serviços públicos, introduzidos em abril, ao mesmo tempo em que houve um forte aumento nas contribuições previdenciárias pagas pelos empregadores.
No entanto, parte da inflação mais alta também reflete o crescimento dos salários, que permanece bem acima do nível em torno de 3% que a maioria dos membros do comitê considera compatível com uma inflação de 2%.
O crescimento dos salários regulares no setor privado desacelerou para 3,9% nos três meses até outubro, o menor nível desde dezembro de 2020, mas ainda está acima dos 3,5% previstos pelo BoE para o último trimestre do ano.
Os membros do Comitê de Política Monetária estão divididos quanto à intensidade com que esperam que o aumento do desemprego contenha o crescimento salarial e até que ponto isso será compensado por problemas estruturais que persistem na participação da força de trabalho desde a pandemia de Covid-19.