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Economia

Inflação em queda no Brasil, Fed mais duro e China entre extremos: o que esperar da economia nesta semana

07 jul 2025, 9:04 - atualizado em 07 jul 2025, 9:04
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Projeções indicam inflação menor no Brasil, economia dos EUA resiliente e pressão deflacionária na China; dados ajudam a calibrar expectativas para juros e crescimento global. (Imagem: Rmcarvalho/Getty Images/Canva)

As expectativas para a economia global e brasileira no curto prazo apontam para um cenário misto, com desafios e oportunidades. No Brasil, projeta-se uma desaceleração da inflação e um mercado atacadista mais benigno, enquanto o varejo e o setor de serviços mostram sinais de estabilidade e moderação, respectivamente.

Internacionalmente, o Federal Reserve deve adotar uma postura mais rígida, e a zona do euro enfrenta retração no varejo. A China, por sua vez, lida com pressões deflacionárias, mas mantém uma balança comercial robusta impulsionada pelas exportações.

Inflação no Brasil: IPCA e IGP-DI

IPCA: Esperamos que o IPCA registre nova desaceleração em junho, marcando a menor variação mensal para o período em dois anos. Mesmo com a manutenção da bandeira vermelha patamar 1 pela Aneel e alguns sinais pontuais de pressão inflacionária decorrentes do aquecimento da atividade, o índice deve arrefecer para 0,19%, refletindo principalmente a deflação dos preços de alimentos. Caso esse resultado se confirme, a inflação acumulada em 12 meses deve recuar para 5,30%, o menor nível em quatro meses, embora ainda acima do teto da meta de inflação vigente. Apesar de revisões pontuais para julho, associadas ao reajuste dos preços dos jogos lotéricos da Caixa, mantemos nossa projeção para o IPCA de 2025 próxima de 5%, atualmente em 4,89%.

IGP-DI: A dinâmica recente dos preços no atacado reforça um cenário inflacionário mais benigno no curto prazo. Projetamos que o IGP-DI de junho aprofunde a deflação observada em maio, com recuo estimado em 2,1%, impulsionado pela queda nos preços de importantes produtos agropecuários, como café, açúcar, arroz, milho e trigo. A expectativa é de que parte desses recuos, sobretudo os concentrados em itens in natura, seja gradualmente repassada aos consumidores, especialmente em um contexto de forte valorização do real. Ainda que o cumprimento da meta de inflação deste ano, e possivelmente do próximo, esteja comprometido, o comportamento mais recente dos preços sugere uma trajetória mais favorável à frente.

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Atividade Econômica no Brasil: Varejo e Serviços

Vendas no Comércio Varejista: Esperamos uma leve alta nas vendas do comércio varejista em maio, impulsionada pelo consumo de bens mais sensíveis à renda. Ainda que o desempenho do setor deva se mostrar relativamente estável no mês, os dados serão cruciais para avaliar a dinâmica da atividade econômica e os efeitos defasados da política monetária sobre o consumo. Observamos sinais iniciais de desaceleração nas vendas de bens duráveis dependentes de crédito, como veículos e materiais de construção. Destacam-se, nesse contexto, o recuo nas vendas de material para escritório e informática e a estagnação nos segmentos de móveis e eletrodomésticos, categoria que desempenhou papel relevante no crescimento do varejo em 2024.

Volume de Serviços: Projetamos estabilidade no volume de serviços em maio, refletindo a perda de fôlego do agronegócio e a retração da produção industrial. Os indicadores antecedentes, como o PMI, reforçam a expectativa de desaceleração do setor: em junho, o índice permaneceu abaixo da linha dos 50 pontos pelo terceiro mês consecutivo, sinalizando contração. Apesar desse cenário, o mercado de trabalho aquecido deve seguir sustentando o consumo das famílias, um dos principais vetores da atividade no setor. Assim, embora os sinais de moderação da economia sejam evidentes, o dinamismo do emprego ainda impõe incertezas sobre o ritmo efetivo de desaceleração dos serviços no curto prazo.

Cenário Internacional: EUA, Zona do Euro e China

Ata do Fed (EUA): A ata da última reunião do Fed deve adotar um tom mais duro, refletindo a resiliência do mercado de trabalho e os riscos inflacionários ainda presentes. Apesar das críticas recentes do presidente Donald Trump à condução da política monetária, os dados mais recentes do mercado de trabalho praticamente eliminaram a probabilidade de cortes de juros na reunião deste mês. Com a atividade econômica voltando a um ritmo mais estável após a volatilidade observada entre o fim de 2024 e o início de 2025, e diante os riscos inflacionários associados aos preços de energia e às tarifas comerciais, não existe nem mesmo garantia de que o FOMC opere um corte na reunião de setembro, onde está concentrada a maioria das apostas do mercado financeiro neste momento.

Vendas no Varejo (Zona do Euro): As vendas no varejo da Zona do Euro devem apresentar retração em maio, após um início de trimestre marcado por baixo dinamismo econômico. Na Alemanha, principal economia do bloco do euro, as vendas caíram 1,6%, contrariando as expectativas de alta e reforçando a percepção de que o consumo das famílias segue contido diante do ambiente de juros relativamente elevados e incertezas sobre o desempenho da economia. Esse ritmo mais fraco pode fortalecer o argumento para novos cortes de juros por parte do Banco Central Europeu ao longo do segundo semestre.

Inflação na China: Os dados de inflação da China devem reforçar o cenário de pressões deflacionárias. A expectativa é que tanto o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) quanto o Índice de Preços ao Produtor (IPP) sigam em território negativo, refletindo a demanda interna ainda abaixo do esperado. Os PMIs próximos da linha dos 50 pontos sinalizam uma economia em estabilidade, sem tração suficiente para gerar aumento de preços. Nesse contexto, o governo chinês deve manter a postura de estímulo gradual, com possibilidade de novas ações monetárias ou fiscais se os dados seguirem decepcionando.

Balança Comercial Chinesa: A balança comercial chinesa deve seguir robusta em junho, sustentada pelo bom desempenho das exportações. A expectativa é de nova alta nas vendas externas, impulsionadas pelo bom posicionamento chinês no comércio global, reorientação comercial diante das tensões com os EUA e um princípio de acordo entre as duas potências. Por outro lado, as importações devem continuar em retração, refletindo a demanda doméstica aquém do desejado. O padrão observado em maio, quando houve avanço anual de 4,8% nas exportações e queda de 3,4% nas importações, é um bom parâmetro para o dado que será divulgado, evidenciando uma recuperação desigual e fortalecendo a leitura de que a atividade interna segue relativamente abaixo do desejado pelo governo.

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Consultor Econômico da plataforma Remessa Online
André Galhardo é economista-chefe da Análise Econômica, mestre em Economia Política pela PUC-SP, professor e coordenador universitário do curso de Ciências Econômicas. É autor do livro O Salto do Sapo: a difícil corrida brasileira rumo ao desenvolvimento econômico, que recebeu menção honrosa no Prêmio Brasil de Economia 2021 do Cofecon. Foi premiado pelo Banco Central nos anos de 2023 e 2024 por liderar o ranking anual Top 5 do Boletim Focus na categoria de projeções da taxa de desocupação da PNAD Contínua.
andre.galhardo@autor.www.moneytimes.com.br
André Galhardo é economista-chefe da Análise Econômica, mestre em Economia Política pela PUC-SP, professor e coordenador universitário do curso de Ciências Econômicas. É autor do livro O Salto do Sapo: a difícil corrida brasileira rumo ao desenvolvimento econômico, que recebeu menção honrosa no Prêmio Brasil de Economia 2021 do Cofecon. Foi premiado pelo Banco Central nos anos de 2023 e 2024 por liderar o ranking anual Top 5 do Boletim Focus na categoria de projeções da taxa de desocupação da PNAD Contínua.
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