Cortes da Selic devem começar só em março de 2026, diz Megale, da XP Investimentos

A XP Investimentos adiou sua projeção para o início do ciclo de cortes da Selic de janeiro para março de 2026. A decisão, segundo o economista-chefe Caio Megale, reflete uma leitura de que o Banco Central (BC) deve adotar uma postura mais cautelosa diante do aumento dos riscos inflacionários e da comunicação dura.
Megale destaca que, embora o cenário econômico siga evoluindo — com inflação e expectativas em queda, real fortalecido e atividade em desaceleração —, alguns fatores sugerem que o BC poderá prolongar a pausa monetária.
“Medidas de estímulo fiscal e parafiscal podem levar a uma demanda doméstica mais forte, inflação mais alta e ampliação do déficit em conta corrente no ano que vem”, afirmou.
- SAIBA MAIS: O Money Times reuniu as recomendações de mais de 20 bancos e corretoras em um conteúdo gratuito e completo para você investir melhor
A XP também avalia que o mercado de trabalho se mantém aquecido e que as expectativas inflacionárias continuam distantes da meta. O economista considera prudente que o Comitê de Política Monetária (Copom) espere mais antes de iniciar o ciclo de flexibilização, garantindo a continuidade do processo de desinflação.
A comunicação oficial reforça esse tom de vigilância. No último comunicado, o Copom manteve a mensagem de que “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado” e apresentou projeções de inflação acima do esperado pelo mercado — o que, na avaliação da XP, sustenta a necessidade de paciência antes de reduzir a Selic.
Mesmo com o adiamento, a casa mantém a expectativa de cortes graduais de 0,50 ponto percentual ao longo de 2026, levando a taxa básica a 12% ao fim do ciclo. Segundo Megale, esse patamar ainda implica uma política monetária restritiva, com juros reais em torno de 7,5%, acima do nível considerado neutro.
Para que a Selic possa convergir a um patamar mais próximo da neutralidade — estimado em 5,5% reais —, o economista reforça a necessidade de avanço nas reformas fiscais.
“Sem reformas, a alta da dívida pública pode reacender o debate sobre dominância fiscal que ocorreu no quarto trimestre de 2024”, alertou.
O cenário, segundo Megale, ainda carrega um grau incomum de incerteza, dependente tanto do ambiente geopolítico global quanto da trajetória fiscal e política doméstica após as eleições.
Inflação, PIB e câmbio
A XP também revisou levemente para baixo sua projeção de crescimento econômico para 2025, refletindo sinais mais disseminados de desaceleração entre os setores. A nova estimativa para o PIB passou de 2,2% para 2,1%.
Para 2026, a instituição manteve a previsão de expansão de 1,7%, mas com riscos inclinados para cima.
No câmbio, o cenário de um dólar globalmente mais fraco levou à revisão das projeções para o real. A XP agora espera taxa média de R$ 5,30 por dólar em 2025 — antes R$ 5,50 — e de R$ 5,50 em 2026 — ante R$ 5,70.
A casa avalia que os riscos estão equilibrados: de um lado, os juros domésticos elevados tendem a sustentar a moeda; de outro, persistem preocupações com o quadro fiscal e o aumento do déficit em conta corrente.
No front inflacionário, os preços de bens industrializados e alimentos seguem comportados, enquanto o mercado de trabalho apertado permanece como principal fonte de pressão para 2026.
A XP manteve suas projeções para o ndice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 4,8% neste ano e 4,5% em 2026, com viés de baixa em razão do comportamento favorável dos preços de alimentos e dos itens administrados.