Inteligência Artificial

Como uma pequena ilha da Caribe está tirando proveito “acidental” da inteligência artificial para faturar milhões de dólares

01 set 2025, 10:29 - atualizado em 01 set 2025, 12:58
Em 2024, inteligência artificial respondeu por quase um quarto da receita do governo de Anguilla.

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Ainda nos anos 1980, quando a internet parecia um sonho distante, cada país nação recebeu seus próprios sufixos de identificação na rede mundial de computadores. O Brasil ficou com o .br; os Estados Unidos ficaram com o .us; o Reino Unido adotou o .uk e assim sucessivamente. Nesse contexto, uma pequena nação insular no Oceano Pacífico chamou a atenção de grandes empresas de mídia na década de 1990. O domínio .tv de Tuvalu mostrou-se altamente atraente para emissoras de televisão de todo o mundo, gerando milhões de dólares em receita para a ilha ao longo das décadas. Agora, uma ilha do Caribe emerge como a nova sensação dos domínios de internet. Companhias de tecnologia disputam a obtenção de domínios .ai, destinados a Anguilla lá atrás, quando a inteligência artificial não passava de um conceito de ficção científica.

As semelhanças param por aí

Excetuando as paisagens paradisíacas e as crescentes preocupações com o aumento do nível do mar, as semelhanças entre Tuvalu e Anguilla são bastante limitadas. Quando a corrida pelo domínio .tv aconteceu, o cenário era quase previsível. A internet ainda estava se consolidando e a televisão dominava amplamente a mídia global. Naquela época, porém, era imprevisível que a pequena Anguilla se beneficiaria do entusiasmo gerado pelo avanço da inteligência artificial.

Outra distinção está na forma como Tuvalu e Anguilla aproveitam os benefícios financeiros de seus respectivos domínios.

Em 1998, Tuvalu firmou um contrato exclusivo para licenciar o domínio .tv. Documentos mostram que a VeriSign pagou inicialmente US$ 2 milhões anuais pelos direitos exclusivos da extensão. Posteriormente, o governo de Tuvalu renegociou o contrato, elevando o valor para 5 milhões de dólares anuais. Anos depois, o ministro das finanças Lotoala Metia reconheceu que o acordo com a empresa norte-americana não foi vantajoso para o país. Em 2021, Tuvalu assinou um contrato mais favorável com a GoDaddy.

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Anguilla e a inteligência artificial

Anguilla escolheu um caminho distinto. Ao invés de receber um pagamento fixo, o território britânico ultramarino transferiu a administração do domínio para uma empresa americana chamada Identity Digital, utilizando um modelo de divisão de receitas. O governo retém cerca de 90% da receita gerada.

Um domínio .ai pode ser adquirido a partir de aproximadamente 150 dólares, ou pouco mais de 800 reais. Entretanto, domínios mais cobiçados são leiloados, atingindo valores muito superiores.

À emissora britânica BBC, o desenvolvedor americano Dharmesh Shah revelou que pagou 700 mil dólares (equivalente a 3,8 milhões de reais) pelo domínio you.ai. Em outros leilões recentes, cloud.ai foi negociado por 600 mil dólares, enquanto law.ai foi vendido por 350 mil dólares.

Mas vai além disso. O número de sites com extensão .ai cresceu vertiginosamente desde 2020. De menos de 50 mil domínios em 2020, o total ultrapassa atualmente 850 mil. Além disso, esses domínios precisam ser renovados a cada dois anos.

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Diversificação de receitas

Dessa forma, a inteligência artificial, mesmo que de maneira indireta, tem proporcionado uma diversificação da receita para um país altamente dependente do turismo.

Segundo dados do governo de Anguilla, a renda proveniente da venda de domínios .ai atingiu 39 milhões de dólares em 2024. Esse valor equivale a 212,5 milhões de reais. Embora pareça um número modesto para um país, para uma população de apenas 16 mil habitantes, essa quantia representou 23% da arrecadação nacional no ano anterior.

O turismo, principal setor econômico de Anguilla, contribui com 37% da economia local, conforme o Fundo Monetário Internacional (FMI).

No orçamento previsto para 2025, o governo local projeta um aumento de 25% na receita com domínios .ai, chegando a cerca de 48,8 milhões de dólares, ou 266 milhões de reais.

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O desafio para Anguilla é transformar essa sorte em uma fonte de receita sólida e duradoura. No último ano, 111.639 turistas estrangeiros visitaram a ilha. No entanto, o fluxo de visitantes é vulnerável à frequente passagem de furacões na região.

O governo local espera que a receita gerada pelo crescimento da inteligência artificial possibilite a construção de um novo aeroporto, facilitando a expansão do turismo na ilha caribenha. Além disso, há planos para investir na infraestrutura pública e no acesso a serviços de saúde para a população.

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ricardo.gozzi@seudinheiro.com
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