Intervenção no iene abre alerta no Japão, que pode ter ainda aumento de juros
O Japão elevou nesta sexta-feira (21) seu alerta sobre uma possível intervenção cambial, além de o presidente do banco central ter sinalizado a chance de um aumento de juros no curto prazo, enquanto as autoridades buscavam combater quedas indesejadas do iene, apontadas como responsáveis por elevar o custo de vida.
O iene acumula queda de cerca de 6% desde que a primeira-ministra Sanae Takaichi foi eleita líder de seu partido, em meio à preocupação do mercado de que sua administração possa emitir mais dívida para financiar um grande pacote de gastos, lançando dúvidas sobre o controle das finanças do Japão.
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A queda da moeda também tem sido impulsionada por apostas de mercado de que Takaichi, conhecida por defender políticas fiscais e monetárias expansionistas, poderia resistir a um aumento de juros no curto prazo.
A ministra das Finanças, Satsuki Katayama, afirmou que o Japão vê a intervenção no mercado de câmbio como uma possibilidade para lidar com movimentos excessivamente voláteis e especulativos no iene, emitindo o alerta mais forte até agora contra a recente depreciação da moeda.
O presidente do Banco Central do Japão (BOJ), Kazuo Ueda, também disse que o banco central debaterá a “viabilidade e o momento” de uma alta de juros nas próximas reuniões, sinalizando a possibilidade de elevar os ainda baixos custos de empréstimos já no próximo mês.
As declarações destacam a crescente preocupação entre os formuladores de políticas sobre a persistente fraqueza do iene, que beneficia as exportações, mas prejudica o custo de vida das famílias devido ao aumento dos preços de importação.
Alarmados com queda do iene
“Estamos alarmados com os recentes movimentos unilaterais e acentuados no mercado de câmbio”, disse Katayama em entrevista coletiva nesta sexta-feira, ao ser questionada sobre as recentes quedas do iene.
“É importante que as taxas de câmbio se movam de forma estável, refletindo os fundamentos. Tomaremos as medidas apropriadas conforme necessário contra volatilidade excessiva e movimentos desordenados do mercado, inclusive no longo prazo”, com base no acordo entre Estados Unidos e Japão assinado em setembro, afirmou.
Nesse acordo, o Ministério das Finanças do Japão e o Departamento do Tesouro dos EUA reafirmaram seu compromisso com taxas de câmbio “determinadas pelo mercado”, ao mesmo tempo em que concordaram que intervenções devem ser reservadas para combater volatilidade excessiva.
Quando perguntada se a resposta do Japão poderia incluir intervenção cambial, Katayama disse: “Sim, isso está escrito na declaração de setembro, então é óbvio”.
O dólar caiu 0,14%, para 157,26 ienes, após as declarações de Katayama, antes de voltar para cerca de 157,50 ienes na Ásia nesta sexta-feira.
As declarações representam uma escalada por parte das autoridades, que até esta quinta-feira vinham dizendo que estavam alarmadas com movimentos unilaterais e rápidos do iene e observando o mercado com “um alto senso de urgência”.
Foco na reunião de dezembro do BOJ
O Japão interveio pela última vez no mercado de câmbio em julho de 2024, quando o iene caiu para a mínima em 38 anos, em torno de 161,96 por dólar. Naquele momento, antes de intervir diretamente no mercado, as autoridades alertaram que tomariam “ações decisivas”.
“Os comentários de hoje sugerem que ainda há alguma distância antes de uma intervenção direta”, disse Akira Moroga, estrategista-chefe de mercado do Aozora Bank.
“Dito isso, as autoridades provavelmente estão preparadas para agir a qualquer momento. Pode haver intervenção quando o dólar subir para perto de 160 ienes”, afirmou.
Hirofumi Suzuki, estrategista-chefe de câmbio do SMBC, também vê 160 ienes por dólar como o limite para intervenção.
“Acredito que as autoridades monetárias do Japão não hesitariam muito quando se trata de intervir no mercado de câmbio para conter a volatilidade excessiva”, disse Suzuki.
A fraqueza do iene também foi um fator-chave para a atuação do BOJ no ano passado, quando o banco central elevou os juros para 0,25% em julho, em conjunto com a intervenção de compra de ienes pelo governo.
Embora inicialmente tenha expressado descontentamento com um aumento de juros no curto prazo, Takaichi e sua ministra das Finanças recentemente passaram a apoiar o plano gradual de aumento de juros do BOJ à medida que o iene se depreciava.
Falando no parlamento nesta sexta-feira, Ueda afirmou que o impacto do iene fraco sobre a inflação tornou-se maior do que no passado, já que as empresas estão aumentando os preços e salários de forma mais ativa.
“Devemos estar atentos ao fato de que altas de preços, através desses canais, podem afetar as expectativas de inflação e a inflação subjacente”, afirmou, sugerindo que o iene fraco pode ser um ponto importante na próxima reunião de dois dias de política monetária do BOJ, que termina em 19 de dezembro.
Embora o BOJ tenha mantido os juros estáveis desde que os elevou para 0,5% em janeiro, Ueda tem dado fortes sinais de ação em dezembro ou em janeiro do próximo ano.